sexta-feira, 16 de abril de 2021

 




"Buraco" de mais de dois milhões na Tejo Ambiente


CEGUEIRA NA POLÍTICA LOCAL

António Rebelo

Desde que, nos anos 80 do século passado, fui eleito deputado municipal (como se diz agora; na altura era só vogal da AM), como independente, numa lista PS, e abandonei a meio do mandato, por me faltar paciência para mais, que tinha resolvido nunca mais participar em reuniões de órgãos políticos, mesmo como simples espectador.
Ontem, não sei bem porquê, esqueci-me dessa minha decisão e, graças aos recursos da técnica moderna, dei comigo assistindo a parte da mais recente reunião do executivo municipal tomarense. De chinelos, bermuda e polo, a sete mil quilómetros do Gualdim Pais e a cem metros de uma praia do Atlântico sul.
Foi uma penosa experiência, que tão cedo não terei ânimo para repetir, a mostrar que se mantém e acentua a minha manifesta falta de paciência para certas coisas. Abstenho-me de considerações sobre as várias intervenções que ouvi, por duas razões. Para não ofender ninguém e porque não serviria de nada, estando demonstrado que, como bem diz o povo, "burro velho  não aprende línguas".
Abro uma única excepção para o discurso geral da presidente Anabela Freitas. Debatía-se o problema do "buraco", superior a dois milhões de euros, da Tejo Ambiente, logo no primeiro ano de existência, apresentado ao executivo pelo vereador Ramos, do PSD.
A resposta de Anabela Freitas foi, como habitualmente, brilhante quanto à forma e habilidosa quanto ao fundo, o que bastou para calar os eventuais candidatos a contraditores, se os havia, tal é a unanimidade reinante.
O assunto se calhar morreu ali, com todos os intervenientes aceitando como uma fatalidade ou maldição mais um prejuízo, desta feita num organismo intermunicipal sem passivo anterior. A própria presidente da câmara e do dito organismo elencou uma série de argumentos para justificar o evidente descalabro das contas. Falou dos municípios que maltrataram os dados sobre o total de consumidores e até, pasme-se, do IVA a 23%, quando as autarquias estão habituadas a 6%.
As perguntas são óbvias: Custava assim tanto mandar reverificar os totais de consumidores indicados por cada autarquia, comparando por exemplo com as cópias dos recibos mensais? No computador é fácil. Porque não indagaram também antes qual era a taxa aplicável de IVA? Não estão para chatices?
A estas duas perguntas inocentes, convém acrescentar uma terceira, de elevado peso ideológico: Como se explica que, a 20 kms de Tomar, num município sócio da Tejo Ambiente como é Ourém, uma multinacional de origem francesa, a BE WATER, subsidiária do grupo VEOLIA, vá ganhando dinheiro com a rede municipal de água, enquanto a Tejo Ambiente começa a perder milhões na mesma actividade e logo no primeiro ano? Onde está a proclamada vantagem das empresas públicas? Convêm mais aos funcionários, e sobretudo aos administradores e quadros superiores?
Bem sei que os consumidores pagam tudo, porque a isso são forçados. Mas não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe. Tarde é o que nunca vem.
E há eleições lá mais para Setembro/Outubro. Aqui fica o alerta para os eleitores/pagadores.

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