"Buraco" de mais de dois milhões na Tejo Ambiente
CEGUEIRA NA POLÍTICA LOCAL
António Rebelo
Desde que, nos anos 80 do século passado, fui eleito deputado municipal (como se diz agora; na altura era só vogal da AM), como independente, numa lista PS, e abandonei a meio do mandato, por me faltar paciência para mais, que tinha resolvido nunca mais participar em reuniões de órgãos políticos, mesmo como simples espectador.
Ontem, não sei bem porquê, esqueci-me dessa minha decisão e, graças aos recursos da técnica moderna, dei comigo assistindo a parte da mais recente reunião do executivo municipal tomarense. De chinelos, bermuda e polo, a sete mil quilómetros do Gualdim Pais e a cem metros de uma praia do Atlântico sul.
Foi uma penosa experiência, que tão cedo não terei ânimo para repetir, a mostrar que se mantém e acentua a minha manifesta falta de paciência para certas coisas. Abstenho-me de considerações sobre as várias intervenções que ouvi, por duas razões. Para não ofender ninguém e porque não serviria de nada, estando demonstrado que, como bem diz o povo, "burro velho não aprende línguas".
Abro uma única excepção para o discurso geral da presidente Anabela Freitas. Debatía-se o problema do "buraco", superior a dois milhões de euros, da Tejo Ambiente, logo no primeiro ano de existência, apresentado ao executivo pelo vereador Ramos, do PSD.
A resposta de Anabela Freitas foi, como habitualmente, brilhante quanto à forma e habilidosa quanto ao fundo, o que bastou para calar os eventuais candidatos a contraditores, se os havia, tal é a unanimidade reinante.
O assunto se calhar morreu ali, com todos os intervenientes aceitando como uma fatalidade ou maldição mais um prejuízo, desta feita num organismo intermunicipal sem passivo anterior. A própria presidente da câmara e do dito organismo elencou uma série de argumentos para justificar o evidente descalabro das contas. Falou dos municípios que maltrataram os dados sobre o total de consumidores e até, pasme-se, do IVA a 23%, quando as autarquias estão habituadas a 6%.
As perguntas são óbvias: Custava assim tanto mandar reverificar os totais de consumidores indicados por cada autarquia, comparando por exemplo com as cópias dos recibos mensais? No computador é fácil. Porque não indagaram também antes qual era a taxa aplicável de IVA? Não estão para chatices?
A estas duas perguntas inocentes, convém acrescentar uma terceira, de elevado peso ideológico: Como se explica que, a 20 kms de Tomar, num município sócio da Tejo Ambiente como é Ourém, uma multinacional de origem francesa, a BE WATER, subsidiária do grupo VEOLIA, vá ganhando dinheiro com a rede municipal de água, enquanto a Tejo Ambiente começa a perder milhões na mesma actividade e logo no primeiro ano? Onde está a proclamada vantagem das empresas públicas? Convêm mais aos funcionários, e sobretudo aos administradores e quadros superiores?
Bem sei que os consumidores pagam tudo, porque a isso são forçados. Mas não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe. Tarde é o que nunca vem.
E há eleições lá mais para Setembro/Outubro. Aqui fica o alerta para os eleitores/pagadores.
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