quarta-feira, 7 de abril de 2021

 



Como estava projectado


Notícias encomendadas pela 
Câmara


PÉSSIMA PROMOÇÃO DE TOMAR

António Rebelo

Desde há anos que me delicio semanalmente com a crónica de JAE, com os Emails do outro mundo, com o Cavaleiro andante e com a douta opinião de Santana-Maia Leonardo, entre outra prosa de qualidade. Tudo isto n'O MIRANTE, que considero o melhor semanário do norte do Ribatejo. Fiquei por isso algo incomodado ao ler uma reportagem sobre Tomar, que me pareceu não corresponder aos habituais parâmetros de qualidade do referido periódico.
Ultrapassada a desagradável surpresa, acabei por constatar tratar-se de uma peça encomendada, do tipo opinião não identificada, decerto "plantada" por uma empresa de comunicação paga pela Câmara de Tomar, que pode ler aqui:
Compreendo perfeitamente que a autarquia pague a quem promova a cidade, tal como aceito que os periódicos publiquem reportagens e outras peças encomendadas. Precisam de sobreviver, sobretudo nesta época tão difícil para todos. Por conseguinte, neste caso, o que me move é a evidente falta de qualidade do material publicado, que antes terá sido bem pago pela autarquia, mediante ajuste directo, e que atraiçoa a verdade factual.
O problema começa logo a abrir, na chamada de título: "O centro histórico de Tomar é, em circunstâncias normais, o mais movimentado da região." Onde foi o jornalista pescar semelhante barbaridade? Não se lembrou de Fátima ou de Leiria, por exemplo?
Menciona-se depois, no 1º parágrafo, "...a Rua da Corredoura, que liga a Praça da República ao Mouchão." Como todos os tomarenses e os visitantes mais atentos bem sabem, a Corredoura liga a Praça da República à Ponte velha, e não ao Mouchão, que fica mais a norte, no enfiamento da Rua de Gil de Avô.
Segue-se outro problema de localização, ao escrever-se: "Na Rua Infantaria 15, paredes meias com a igreja de S. João Baptista." Lamento informar o autor da coisa que só a Corredoura, a Praça da República, a Rua de S. João e a respectiva travessa é que ficam paredes meias com a igreja citada.
Enumerando as obras camarárias, há depois uma referência a "S. João Baptista, Sinagoga, Várzea grande ... ... ...por serem dos espaços mais procurados pelos visitantes." Trata-se de mais uma invenção do autor. Convinha  à actual maioria autárquica que assim fosse, mas todavia não é. Os espaços mais visitados em Tomar são, de longe, o Castelo dos Templários e o Convento de Cristo. Quanto à Várzea grande, nunca fez nem faz sequer parte do circuito de visita da cidade. Por enquanto? É o que falta ver.
Ainda sobre a ornamentada, vistosa e inútil Várzea grande lê-se que "A praça tem agora um aspecto mais condizente com as vistas que proporciona: Convento de Cristo e Mata dos Sete Montes." Cabem aqui duas observações pertinentes. A primeira, uma vez que JAE é um escalabitano do coração, gostaria de saber se para ele o Campo Infante da Câmara, antigo rossio/campo da feira como a Várzea grande, também é uma praça. Depois,  esclarecer que as vistas a partir da Várzea grande são o Convento de S. Francisco, o Palácio da justiça, o Pinhal de Santa Bárbara, a estação da CP, (da autoria de Cottinelli Telmo, o mesmo do Padrão dos descobrimentos) e, lá no alto, o Castelo dos Templários. O Convento de Cristo e a mata, referidos no texto, só são visíveis subindo de helicóptero. Já está previsto?
A fechar, a minha impressão de que textos assim só podem contribuir para o descrédito de quem escreve, de quem publica e de quem encomenda. Mas para a actual maioria autárquica tomarense e respectivos seguidores, devo estar a ver mal. De certeza.

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