segunda-feira, 12 de abril de 2021




Autárquicas 2021 em Tomar

VOTOS COMPRADOS E VOTOS CONTRARIADOS

António Rebelo

Referi no escrito anterior que provavelmente os dois grandes partidos em Tomar -PS e PSD- iam dividir entre si, nas próximas autárquicas, um bolo de 11.500 votos, (de um total de 34.31 inscritos, dos quais apenas metade vota), uma vez deduzidos 7300 votos para os restantes partidos, votos brancos e nulos. Uma rápida consulta aos arquivos mostrou-me, sem margem para dúvidas, que estava a ser demasiado optimista. Ou generoso, dependendo dos pontos de vista. O que talvez explique o evidente nervosismo das senhoras presidentes da câmara, da junta, ou do PSD, consoante os casos.
Chegaram-me ecos de que circularia por aí conversa sobre uma alegada sondagem inconclusiva, porque mostrando uma diferença PS-PSD inferior à margem de erro. Convém confirmar, bem entendido. Mas a ser ser assim, o panorama é bem sombrio para quem já comprou tanto voto, em quase oito anos de poder.
Significaria que alguns dos meus queridos conterrâneos, todos pessoas cheias de qualidades, excepto no que se refere a participação cívica e abertura de espírito, passariam a integrar a categoria dos peixes sabidões, daqueles que comem o isco e cagam na anzol. Mas adiante, que logo veremos se assim é.
Certos,  mesmo certos e sem contestação possível, por serem oficiais e finais, são os dados que a seguir se alinham. O primeiro é que, pelo menos desde 2001, a abstenção nas autárquicas, em Tomar,  tem vindo sempre a aumentar, salvo em 2017. Era de 34, 69% em 2001 chegou a 46,70% em 2013, descendo ligeiramente para 43,07% em 2017. É uma autêntica sangria. Cada ponto percentual representa agora 340 eleitores a mais ou a menos. Há 20 anos representava 420 eleitores.
Outra informação a ter em conta é o facto da abstenção nas legislativas ter sido sempre inferior à das autárquicas, entre 2005 e 2015, invertendo ligeiramente em 2019, com 45,09% contra 43,07% nas autárquicas de 2017.
Terceira série de dados, a eleição presidencial de 2021 foi um desastre em termos de abstenção, que se cifrou em 56,55% no concelho de Tomar, ou seja apenas 14.785 votantes, mas neste caso devido ao confinamento provocado pela pandemia covid 19.
Neste âmbito, tudo devidamente ponderado, é bem possível afinal que todas as formações políticas participantes nas próximas autárquicas venham a ser confrontadas com uma abstenção da ordem dos 48 a 50%, o que dará um total de votantes entre 17.015 e 17.695. Admitindo não haver outras alterações substantivas, nomeadamente a inesperada subida acentuada de qualquer partido,  e substraídos os 7.300 sufrágios referentes a votos brancos+nulos+ Chega+CDS+CDU+BE, fica um total de, respectivamente, 9.715 e 10.395 votos, o que a dividir pelos dois maiores partidos dá apenas algo entre 4.857 e 5.147 para cada um, sendo certo que qualquer subida do PS significará  uma descida equivalente do PSD, e vice-versa.
Em conclusão, nunca até hoje as eleições em Tomar foram tão complicadas e exigentes para todos, mas sobretudo para as duas maiores formações, a braços com a evidente falta de apoio popular. Dito de forma mais simples, vamos ter votos contrariados dos eleitores PSD, contra os votos comprados dos eleitores do PS, e vice-versa.
Se algum dia os eleitores tomarenses resolverem alterar o seu comportamento, pode ser que então as coisas mudem para melhor. Oxalá.

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