sexta-feira, 2 de abril de 2021

 


              Foto Tomar na rede

Quiosque da Várzea grande


MAIS UMA FANTASIA AUTÁRQUICA

António Rebelo

Prá mentira ser segura
E atingir profundidade
Deve trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade

A quadra supra, de António Aleixo, data dos anos 40 do século passado, mas é cada vez mais atual. A câmara de Tomar acaba de lançar a hasta pública para arrendamento do quiosque instalado na Várzea grande. Coisa solene. Só o respetivo regulamento são 19 páginas. E há anúncio obrigatório em dois jornais nacionais. Para uma renda mensal mínima de 100 euros, acrescidos de 1500 euros de prémio de arrematação, no primeiro ano.
Tudo devidamente ponderado, esta história do quiosque, mais não é afinal que um rol de mentiras e meias verdades, como se passa a tentar demonstrar. 
È mentira que faça alguma falta um quiosque naquele espaço. Existem, a menos de cem metros, vários estabelecimentos que vendem as mesmas coisas (1 papelaria-livraria- recordações e jogos Santa casa, 1 casa de pasto, 4 cafés com esplanada, 1 padaria e 1 supermercado com café-pastelaria). 
É mentira que os turistas e os residentes para ali se desloquem, mesmo que haja uma esplanada, sobretudo entre Outubro e Maio. Só se forem com gabardine, galochas e chapéu de chuva, o que convenhamos. não é nada prático. Não há suficiente estacionamento disponível nas proximidades, e o local é afastado do centro e das estradas nacionais. O acanhado estacionamento para autocarros de turismo fica do lado oposto, frente à Rodoviária, e tem 2 cafés mesmo ao lado.
É mentira finalmente que fique ali bem enquadrado um quiosque metálico verde, na área de proteção da Igreja de S. Francisco e do Palácio da Justiça. Mas adiante.
O mais provável é que, face ao manifesto caráter fantasista da coisa, o concurso fique deserto. Já aconteceu no caso da churrasqueira do Mercado, nomeadamente devido a uma cláusula leonina que previa a reversão, e não se falou mais no assunto. Pior ainda no Mouchão, cuja espécie de quiosque nunca serviu ou teve direito a concurso de arrematação até hoje.
Tendo todavia em conta que estamos em ano eleitoral, e que um concurso deserto seria mais uma imagem lamentável do evidente irrealismo dos técnicos superiores e eleitos camarários, há a chamada "hipótese Estalagem de Santa Iria".
Arranja-se alguém para apresentar uma proposta mínima, procede-se ao previsto ato público de abertura, faz-se a arrematação, após o que o interessado alega uma dificuldade qualquer para justificar o não pagamento, por exemplo. E pronto. Entretanto as eleições já foram. Não estou a ver que possa ser de outra maneira. Ou o concurso deserto ou o teatro.
Por muito lorpas que sejam os potenciais interessados, decerto já concluíram que, durante os dois primeiros anos, teriam de apurar 233 euros limpos por mês, só para despesas fixas. (renda, prémio inicial, água e luz, amortização do equipamento). Se juntarmos uma justa retribuição de quem investe, chegamos a 500 euros/mês, no mínimo, ou seja 20% de 2.500€/mês. A não ser vendendo estupefacientes, quem consegue, num quiosque de província, uma receita mensal comparável?
Vamos ter assim mais um fracasso autárquico, mas entretanto foram gastos milhares de euros dos contribuintes, sem proveito algum para a comunidade concelhia. Só para mais uma diversão de certos grupinhos.

(Não, senhoras e senhores. Não se trata de criticar os eleitos da maioria ou da oposição, mas antes de tentar "abrir-lhes os olhos", para que deixem de aceitar como boa a péssima mercadoria que lhes propõem técnicos superiores irrealistas (associados a gabinetes oportunistas), que nunca trabalharam no setor privado, desconhecendo portanto princípios básicos de economia empresarial.)

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