Autárquicas 2021
O BENEFÍCIO DA DÚVIDA
António Rebelo
É doutrina aceite no judicial que, em caso de dúvida, quem deve beneficiar é o acusado. Já na política ocorre o oposto. Só tem direito ao benefício da dúvida quem ainda nunca ocupou o lugar a que se candidata. Idealmente, assim devem pensar e agir os eleitores tomarenses na próxima consulta, daqui a 5 meses.
O sistema eleitoral que temos, com listas partidárias e sem candidaturas individuais, foi pensado para os grandes aglomerados populacionais, onde na prática ninguém se conhece. Por isso, como quase sempre acontece nos meios pequenos, afastados dos grandes centros urbanos e virados sobre sí próprios, a escolha dos candidatos poucas novidades oferece e pouca esperança inculca, salvo raras excepções. Votar num grupo e não numa pessoa é desanimador logo à partida. Implica escolher gente desconhecida. Tomar não foge à regra, sendo mesmo apontada nalguns círculos como um exemplo a não seguir.
Com cada vez mais problemas e menos população, a urbe nabantina tem sido (mal) governada em perfeita alternância. Ora reina o PS, ora o PSD. Nestas condições, perante o actual estado de coisas, que me abstenho de qualificar, uma vez que os meus conterrâneos não são cegos, havia alguma esperança numa candidatura forte e diferente dos social-democratas.
Infelizmente tal não aconteceu, o que provocou forte desânimo, a prenunciar acentuada abstenção. As coisas são o que são, e não adianta ignorar ou fechar os olhos, pois o mundo continuará a girar e os problemas a aparecer.
De acordo com a tradição, contra má fortuna deve-se mostrar bom coração, o que implica procurar soluções alternativas. No caso nabantino, malograda a melhor hipótese, restam várias outras. Todas de recurso mas nem por isso inferiores.
A mais óbvia tem sido e continuará decerto a ser muito praticada: Nenhuma das candidaturas me agrada, pelo que não tenho por onde escolher. Por isso abstenho-me. Também podia votar branco ou nulo, mas teria de me deslocar e os brancos e nulos não contam para nada, a não ser para a estatística.
Outra solução, bastante mais ampla e por isso mais confortável, é adoptar logo de início o benefício da dúvida como factor decisivo, e agir depois em conformidade. Assim, se considera positivos os dois mandatos de Anabela Freitas, apesar do que está à vista de todos, nesse caso deve continuar a votar PS, e depois não se queixar. Se, pelo contrário, é um descontente, então conceda a todos os outros candidatos o benefício da dúvida. Ainda nenhum deles foi presidente da edilidade e até pode acontecer que venha a ser uma agradável surpresa. Vote portanto naquele que lhe parecer o mais capaz.
Como conterrâneo e do alto dos meus 80 anos, apenas peço que ninguém se iluda. Que não concedam o benefício da dúvida a quem já ocupa o poder local há oito anos:
Vinho que vai pra vinagre
Não retrocede caminho
Só por obra de milagre
Pode de novo ser vinho
(António Aleixo)
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