segunda-feira, 12 de setembro de 2022

 

 Primeiro tribunal da inquisição em Portugal, no claustro da Micha do Convcnto de Cristo.

Autarquia

Um executivo de empatas

Frei António de Lisboa -o tomarense António Moniz da Silva, que professou nos Jerónimos espanhóis- parece que sabia muito bem o que estava a fazer, ao instalar em Tomar o primeiro tribunal da santa inquisição, no Convento de Cristo, naquela parte a que agora chamam "noviciado novo". Salas das cortes, a designação tradicional, era realmente demasiado evidente, porque ainda hoje em França "la cour" é afinal o tribunal.

Quase cinco séculos mais tarde, ainda há tomarenses com espírito inquisitorial. Aquela tendência condenável para tentar  limitar ou acabar com as liberdades fundamentais dos outros, usando os mais variados pretextos,  e já não a ortodoxia religiosa. Não serão muitos, mas são influentes, obstinados e relapsos, ao ponto de não se assumirem, escondendo-se sob nomes supostos.

A crónica de ontem, sobre a oposição, terá desagradado bastante, ou até chocado, nas margens nabantinas, enquanto em Abrantes os seus poucos leitores a acharam irónica quanto baste, e útil. Porquê tal diferença, a 30 quilómetros de distância? Julgo que designadamente porque em Abrantes nunca houve Ordem de Cristo, nem tribunal da santa inquisição.

Para os mais renitentes conterrâneos, segue-se um complemento da crónica anterior, com uma curta explicação prévia. Em termos europeus, cada cidadão tem direito à sua vida privada. Porém, as chamadas figuras públicas, sempre sob os projectores da informação, apenas beneficiam do direito à intimidade, muito mais restrito, como se entende.

A comparação implícita entre "palha" e "beija-me depressa", na crónica  passada, não foi fortuita. Se bem se recorda, neste mandato autárquico já ocorreram três nascimentos, tendo por progenitores vereadores do executivo. Cumpre naturalmente saudar tal esforço em prol da natalidade tomarense, parabenizando os felizes pais e mães. O que não impede uma visão realista e divertida da situação, respeitando totalmente o direito à vida íntima, uma vez que, sendo figuras públicas por inerência de funções, não têm na prática vida privada.

Os três bébés são um exemplo perfeito da situação autárquica nabantina, em termos de poder e oposição. Um deles é de um casal PS (H. Cristóvão), outro de um casal PSD (Tiago Carrão), outro ainda é de um casal misto (Filipa Fernandes PS, pai PSD). Nestas condições, qual oposição, qual história. O que se topa é o consumo eficaz de "beija-me depressa", e um feliz empate técnico: Um rebento PS, um rebento PSD e um rebento PSD/PS. São portanto uns empatas, mas felizmente nem tanto assim. Oxalá sejam todos muito felizes, porque merecem, para além das naturais divergências. Tais são os votos sinceros do cronista, que não tem inimigos. Só discordantes. Por vezes mal educados, o que se lamenta, mas é o que há.

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