sexta-feira, 23 de setembro de 2022

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Demografia e política local

"Alguns autarcas têm falta de mundo e chegam a recusar investimento para não perderem poder."

A frase anterior não é do autor destas linhas. Foi copiada daqui: https://omirante.pt/entrevista/autarcas-tem-falta-de-mundo-e-chegam-a-recusar investimentos-para-nao-perderem-poder/ Os eleitos nabantinos quase todos, tanto da maioria como da oposição, ficam muito incomodados, e até furiosos nalguns casos, quando o escriba opina que lhes falta mundo, e dá exemplos.

Pois surge agora, n'O Mirante online, parte de uma entrevista com o eng. José Eduardo Marçal, fundador da NERSANT e ex-governador civil, da qual se extraíram os seguintes tópicos: "Natural de Abrantes, vai à terra de 15 em 15 dias. Os filhos já não têm ligação à cidade, que na sua opinião está cada vez pior."

À pergunta "Estamos perante um contrassenso, quando ouvimos autarcas a dizerem que querem cativar mais população?" foi directo e contundente: "Acredito que alguns autarcas dizem isso porque têm falta de mundo. Eles até acreditam no que dizem, mas o único modelo de desenvolvimento que conhecem, é aquele que praticam. É fundamental que os autarcas vejam outras realidades. Se chegarmos a uma localidade do interior do país, 70% depende, directa ou indirectamente, da Câmara."

Perante isto, dito por quem sabe e não tem qualquer interesse em enganar os leitores, perpassa a ideia de que, se o emprego local depende nalguns casos em 70% da Câmara, os movimentos de população também devem depender em grande parte das autarquias respectivas. 

Que movimentos têm sido esses desde o 25 de Abril, nas quatro principais autarquias da região? Desculparão os queridos autarcas locais, sempre muito irritados com os dados estatísticos de TAD3, mas aí vão mais alguns:

Dados auxiliares para a interpretação dos resultados:

1 - Abrantes foi governada pelo PS desde 1976, salvo num mandato PSD, nos anos 90.

2 - Ourém foi governada sobretudo pelo CDS e o PSD, com dois mandatos PS intercalados.

3 - Tomar tem alternado entre o PSD e o PS, com os socialistas no poder local desde 2013.

4 - Torres Novas é feudo do PS, tal como Abrantes.

ELEITORES INSCRITOS...............1976.............2013................2022

ABRANTES...................................35.886..........35.075.............31.508

OURÉM..........................................27.035..........43.331............40.778

TOMAR..........................................32.438..........37.310............33.705

TORRES NOVAS...........................26.837..........32.546............30.774

Fonte: eleicoes.mai.gov.pt

Perante estes números alarmantes, que os autarcas simulam  ignorar, os esclarecidos arautos nabantinos do costume, não deixarão de proclamar que o nítido êxito demográfico de Ourém "é por causa de Fátima". Será mesmo? Desta vez o milagre da procriação humana entre azinheiras?

Já no caso do nítido avanço de Torres Novas, quase a ultrapassar Abrantes, será por causa do casal A1 - A23 não usar preservativo nas suas relações?

E a nossa querida Tomar, objecto proclamado de todos os desvelos (ou preferem "zelos"?) que depois de ter chegado ao máximo histórico de 40.906 em 1997, já estava nos 37.310 em 2013, e desde então tem sido sempre a descer, estando agora a apenas 1.267 eleitores de 1976, o que é uma vergonha?  Será porque a artilharia do Gualdim é só a fingir? Ou haverá também muita aselhice camarária pelo meio? 

Na freguesia urbana, temos uma aldeia chamada Cabeças, mas no panorama intelectual concelhio, não tenho visto assim muitas. Devo ter andado distraído. Ou será da idade. No verão passado, alguns foram perguntando, aos que me são próximos, como é que eu estou da cabeça. Só posso agradecer a preocupação. Se calhar contrariados, mas lá foram admitindo implicitamente que tenho cabeça. Já é um princípio de aceitação da realidade desconfortável.

2 comentários:

  1. Este é um dos problemas do País- Demografia.
    Concordando com o Prof Rebelo, acrescento que a responsabilidade não será apenas dos Municípios.
    As prioridades do poder central nunca valorizaram questões, tais como:
    - Natalidade em decrescendo
    -Fiscalidade e sua complexidade, a nível nacional
    - Burocracia a quem quer investir
    - Justiça a piorar ano após ano e muito dispendiosa

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    1. Totalmente de acordo.
      A responsabilidade não é só, mas é sobretudo dos municípios. Tanto por omissão (nem sequer abordam o problema, quanto mais agora encomendar estudos, ou organizar e participar em debates)) como por acção. A tenebrosa burocracia nabantina é bem conhecida em todo o país.

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