Estruturas de acolhimento turístico
NOVO AEROPORTO EM SANTARÉM?
Inesperadamente, apareceu um amplo movimento de apoio à localização em Santarém do novo aeroporto "de Lisboa", um problema por resolver há mais de meio século. Consta tratar-se de um projecto privado, com a participação de Humberto Pedrosa, do grupo Barraqueiro, accionista minoritário da TAP. Cheira a manobra mais vasta, cujos contornos desconheço, por estar a sete horas de avião do "diz que disse" da região.
Antes dos dinheiros de Bruxelas, fomos um país de pobretanas assumidos, de forretas, cujo expoente máximo foi o Botas de Santa Comba. Poupar era uma virtude. Os tempos mudaram, e de que maneira! com as verbas europeias. Agora até já temos auto-estradas paralelas quase sem tráfego, grandes estádios às moscas, e a mania que somos um país rico, com recursos ilimitados. Donde as ideias mirobolantes, para caçar fundos europeus.
Andamos há cinquenta anos à procura de uma solução para o futuro aeroporto de Lisboa, o único na Europa que ainda funciona dentro da cidade, e nos últimos anos têm-se sucedido as tentativas de nova localização (Ota, Alcochete, Alverca, Montijo). Esta de Santarém é apenas a mais recente, e tem algo de estranho. Não só na maneira como veio a público, mas também e sobretudo por se tratar de uma iniciativa não governamental, o que em Portugal é pouco comum, para além de uma certa envergadura. Acresce que, tratando-se de um projecto de dezenas de milhões de euros, os seus mentores não parecem estar assaz documentados sobre a realidade envolvente.
Se estivessem, e se mantivessem com os pés bem assentes no solo, teriam em conta o que já existe nessa área e na região. Há em Tancos, a 30 quilómetros de Santarém, um mini-aeroporto pronto a servir (basta adaptá-lo), dispondo de auto-estrada de acesso (A 23) e de ligação ferroviária ao Entroncamento. Para quê então ir triplicar o equipamento da zona? Para fazer um triângulo Monte Real - Santarém - Tancos?
Visitei parte da China, no final do século passado, quando Macau ainda era administrado por Portugal e nem sequer dispunha de aeroporto. Fui no voo Londres - Hong-Kong, e daí em hidro-deslizador para Macau. Regressei duas semanas depois, no voo Pequim-Londres. Na altura, o turismo ainda despontava naquele grande país, de tal forma que andávamos em auto-estradas novas e com muito pouco trânsito...a 40 quilómetros por hora. E para ligar as cidades distantes, descolei e aterrei em bases aéreas toscas, sem salas de espera nem sanitários decentes, com os velhos caças MIG alinhados ao lado das pistas. Nalguns casos, ainda não estava sentado e já o avião rolava na pista...
Outros tempos, num país muito acolhedor, que por não beneficiar de fundos europeus nunca se considerou rico, o que levou os seus dirigentes comunistas a recorrer a práticas capitalistas. Usar os então fracos recursos disponíveis, para conseguir mais-valia destinada a melhorar as estruturas de acolhimento, sem cuidar de saber se os ditos recursos eram militares ou civis.
Como bem disse o falecido Deng Xiau Ping, "pouco importa a cor do gato, desde que cace ratos". Os mentores da ideia do futuro aeroporto em Santarém, ou têm cartas escondidas na manga, ou parece que têm. Conviria por isso jogá-las quanto antes, se as têm, para apoiar a ideia. No estado actual das coisas, aeroporto em Santarém? Sou contra! Em Tancos fica muito mais barato, porque já há pista, torre de controlo e as indispensáveis ligações rodoviárias e ferroviários. Além de ficar mais perto de Abrantes, Tomar, Ourém, Leiria e Coimbra, por exemplo. Sejamos realistas!
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