Política local e informação
Vai mesmo tudo dar ao mesmo?
A longa série de incongruências denunciadas na crónica anterior, terá tido como reacção, da parte de alguns notáveis locais, algo como "Tanto faz assim como assado, vai tudo dar ao mesmo." Ou, na versão pretérita, "Tanto fazia assim como assado, ia tudo dar ao mesmo". Apesar de duplamente falso, pois nem tanto faz assim como assado, nem vai tudo dar ao mesmo, o axioma tem sido uma das principais "bengalas" dos coxos intelectuais que temos. Serve para desculpar tudo e mais alguma coisa. E para justificar a posteriori todas as enormidades. Como por exemplo uns sanitários pequenos custarem mais de 100 mil euros, sem incluir o terreno, e continuarem fechados 8 meses após a conclusão da obra.
Situação que só surpreenderá quem viva longe da urbe nabantina, ou ande particularmente distraído e mal informado, pela Corredoura fora. Isto porque o "tanto faz assim como assado, vai tudo dar ao mesmo" se transformou praticamente num modo de vida, que tem a virtude de evitar fazer grandes escolhas. Optar é sempre difícil, e em política local pode mesmo transformar-se numa maldição. Que o diga António Paiva. Errou algumas vezes, porém deixou obra importante. Teve a coragem de optar com rigor. Não se ficou pelo "vai tudo dar ao mesmo". Por isso ainda agora é amaldiçoado por tantos tomarenses.
Tendo-se transformado num modo de vida, o "tanto faz assim como assado, vai tudo dar ao mesmo" invadiu silenciosamente todas as áreas. Acabo de ler no Tomar na rede -por cujo administrador tenho muita estima e consideração- o título "União Europeia financia construção do Hotel Vila Galé em Tomar". União Europeia financia construção do hotel Vila Galé em Tomar (c/ fotos e vídeo) | Tomar na Rede
Educado num ambiente de rigor cartesiano, lá para as bandas do Sena, pensei logo para com os meus botões: Bruxelas financia a construção toda? Há compadrio? Perderam a cabeça ou quê?
Afinal, lendo a notícia, a situação é bem diferente e o respectivo título engana. Na verdade, a União Europeia AJUDA no financiamento do hotel. Avança com 1,8 milhões de euros, parte como empréstimo e outra "a fundo perdido", se não erro, o que corresponde a cerca de 20% do orçamento total. Nada de extraordinário portanto. Através dos seus programas destinados a Portugal, a UE ajuda praticamente todos os investidores com alguma envergadura...e bem relacionados.
Donde não resulta, todavia, que "a UE paga tudo", ou "tanto faz assim como assado, vai tudo dar ao mesmo". Pior ainda, conheço e prezo o administrador de Tomar na rede há muitos anos, pelo que julgo estar certo ao afirmar que não agiu deliberadamente para induzir os leitores em erro. Mas a verdade é que quem lê só o título da notícia... É esse o perigo que nos ameaça, quando a falta de rigor começa a ser o pão nosso de cada dia. Cada qual age erradamente, como se não houvesse melhor alternativa, que de resto nem procura. No caso havia as alternativas "UE participa no financiamento", "UE ajuda no financiamento", "UE assume 20% do custo total da obra".
Conformistas conformados, e pouco rigorosos, em suma. Como os nossos eleitos, por exemplo. É todo um estilo de vida, afinal.
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