sábado, 3 de setembro de 2022


Estranha forma de vida?

Há algo pouco normal no meio bombeiral

Duas notícias chamaram a atenção do cronista nestes últimos dias. Ambas sobre socorro urgente, ambulâncias e bombeiros. No primeiro caso, perante uma indisposição súbita de uma cliente, um comerciante, que por acaso também é autarca, telefonou para o 112, como mandam as normas em vigor, e ficou surpreso ao ver chegar, quase meia hora depois, uma ambulância do Entroncamento. O local da ocorrência fica a duzentos metros dos Bombeiros municipais de Tomar.

No dia seguinte, uma residente estrangeira sentiu-se mal em plena Corredoura e houve chamada de socorro. Desgraçadamente, a informação local não menciona quem fez a chamada, nem qual a origem das ambulâncias, o que é pena. Ficou mesmo assim a saber-se que compareceram três ambulâncias. Uma passados 15 minutos, as duas outras um pouco mais tarde.

Tendo em conta a relativa rapidez, a pobre cabecita que escreve estas linhas conclui que era nabantina a primeira ambulância, porque em 15 minutos nenhum veículo de concelhos vizinhos consegue chegar à Corredoura. E as duas outras de onde vieram? E porque vieram, se havia apenas uma cidadã em dificuldade? Quem ordenou que viessem? Com que objectivos?

Esta questão dos bombeiros e das ambulâncias não é nova em Tomar. Já em 2013, houve necessidade de chamar uma ambulância de Constância, para conduzir uma doente a Coimbra, aos HUC, após os bombeiros de Tomar terem informado que não dispunham de ambulância disponível em condições para fazer 160 quilómetros. A situação mantém-se em 2023?

Seja ou não o caso, não é preciso ser muito perspicaz para perceber que há algo pouco normal no meio bombeiral. Pelo menos a nível regional. Porque é muito questionável que num dia apareça uma ambulância que percorreu 20 quilómetros, para socorrer uma paciente a 200 metros de um quartel de bombeiros municipais, e no dia seguinte apareçam três ambulâncias para outra enferma nas mesmas condições. Tal como é muito estranho que quando ocorre um acidente, mesmo ligeiro, apareçam várias viaturas e pelo menos meia dúzia de socorristas. Que se passa afinal? É tudo mais a mim, mais a mim?

Não se ignora que há um centro regional de coordenação, com um acrónimo pomposo, cuja missão consiste em receber as chamadas do 112 e distribuir os serviços, em conformidade com as necessidades. Mas a que propósito aparecem quase sempre em Tomar ambulâncias de outras corporações? Os bombeiros agora municipais de Tomar carecem de meios humanos capacitados? Não dispõem de material suficiente e de qualidade? 

Se é o caso, há que denunciar, pois se abunda dinheiro para subsídios, festas e eventos de toda a ordem, seria muito criticável sacrificar os esforçados soldados da paz, envergonhando-os perante os seus pares de outros concelhos. Mas se o problema é outro, eventualmente mais grave, estão à espera de quê para providenciar um inquérito e esclarecer o pessoal pagador de impostos? Já se esqueceram que, eleitos ou funcionários, são afinal só e apenas servidores públicos? Tomar não tem donos. É de todos.

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