Candidatura UNESCO
TABULEIROS A PATRIMÓNIO MUNDIAL?
Sabem todos os tomarenses, com fundas raízes locais, que a Festa dos tabuleiros é algo de sagrado. Uma religião, por assim dizer. Alterada e posta ao gosto da época, por um estrangeirado talentoso, em 1950, assim tem ficado até agora. Quem ouse discuti-la, mesmo só na sua forma organizativa, é logo amaldiçoado e excomungado, acusado de manifesta má intenção, que todavia nunca é especificada. Et pour cause...
Estava-se nisto, quando em 2019 os jovens eleitos camarários, ignorando deliberadamente o passado, cuidaram que bastava querer e crer, para alcançar. Equivocaram-se. Três anos depois, continuamos na estaca zero. Apesar de entretanto a câmara já ter gasto mais de 100 mil euros, com a mal preparada candidatura dos tabuleiros a património imaterial da humanidade.
Estaca zero, significa neste caso que ainda não se conseguiu sequer a inscrição na lista do património imaterial nacional, condição sine qua non para a posterior candidatura à UNESCO. Porquê? Eis o que falta apurar. Recentes declarações lastimosas da vereadora responsável parecem indicar que desgraçadamente ainda não estamos no bom caminho.
https://radiohertz.pt/tomar-festa-dos-tabuleiros-aprovacao-da-candidatura-a-patrimonio-cultural-imaterial-nacional-continua-em-banho-maria-infelizmente-nao-depende-de-nos-lamenta-filipa-fernandes/
Segundo a referida eleita, a DGPC solicitou várias outras coisas, além das já entregues desde 2019, entre as quais uma carta justificativa do vigário de Tomar. É um mau indício. Não só porque a festa sempre se fez fora da "igreja clerical", com a independência atestada pelas coroas do espírito santo, não fazendo portanto qualquer sentido pedir agora a opinião daquele ministro da igreja, que sempre se tem limitado a celebrar as missas aquando das saídas das coroas, e a abençoar os tabuleiros no dia do cortejo, mas também e sobretudo porque a eventual segunda fase da candidatura, uma vez alcançada a inscrição nacional, é extremamente exigente.
Muito concretamente, informações colhidas nos meios adequados indicam que a tendência actual na UNESCO - ICOMOS é a rejeição das candidaturas referentes a actos de culto católico e/ou cristão, entre outros pelos delegados dos países muçulmanos, o que se compreende, pois os crentes desta religião opõem-se a procissões e outras manifestações públicas de cunho religioso.
Sendo assim, ao exigir a opinião do vigário católico, como condição prévia para a inscrição na lista do património imaterial nacional, estão a meter-se na boca do lobo, se calhar sem disso se darem conta. Por outras palavras, estão a fornecer lenha para queimar a candidatura na UNESCO-ICOMOS, pois os delegados não cristãos vão servir-se dessa carta para demonstrar que a cortejo dos tabuleiros mais não é afinal que um acto de culto católico. E naturalmente votar contra a candidatura, arranjando qualquer outro pretexto mais consensual.
Temos por conseguinte que, ou a candidatura é cuidadosamente revista e expurgada do que possa não convir, mediante conversações prévias aprofundadas com a DGPC e o ICOMOS, ou nunca mais os tabuleiros serão património imaterial da humanidade, mesmo se entretanto inscritos na lista nacional.
Fica aqui este humilde oráculo, sobretudo para memória futura como sempre.
Ando frustradamente à espera de saber as vantagens desta candidatura : Para vir mais gente à festa? Para receberem subsídios?
ResponderEliminarComo bem sabe, pois é tomarense de nascimento e leu esta minha crónica logo no início, a Festa dos tabuleiros é praticamente uma religião para os nabantinos. Tem até o seu próprio clero, com padres, bispos, cardeais e um papa, que agora por acaso é uma papisa. Se colocar a sua dúvida a um destes ilustres conterrâneos, vai responder-lhe como em relação à existência da própria Festa grande. Quando se questiona para que serve, uma vez que cortejo de oferendas já não é, e felizmente também já não há fome endémica em Tomar, a resposta vem com o tom de um motu próprio papal --Para promover Tomar.
EliminarUma pessoa ouve e fica forçosamente a cismar. Na mesma ordem de ideias, o realojamento dos ciganos do Flecheiro tem como objectivo secundário infernizar a vida dos novos vizinhos à força? Ou despromover Tomar?