quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Imagem Rádio Hertz, com os nossos agradecimentos

Turismo e arqueologia

Só nos faltava mais esta

Após meses de pesado silêncio, a Câmara resolveu agora informar os súbditos de que vão recomeçar as obras, junto aos bombeiros, do alegado forum romano. Trata-se de algo tão peculiar que praticamente ninguém se mostrou preocupado com tal interrupção dos trabalhos: TOMAR – Já foram retomadas as obras no ‘Fórum Romano’, que tiveram de parar devido a achados arqueológicos - Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Compreende-se. Em arqueologia, é fácil dizer que o que resta de duas igrejas católicas, mencionadas nos livros antigos (Santa Maria de Selho e S. Pedro Fins), são afinal indícios de um alegado forum romano de Sellium. O mais difícil vem depois. Admitindo que se trate dos tais vestígios romanos, hipótese nunca confirmada cabalmente, o que há para mostrar aos futuros visitantes, uma vez que se entendeu "musealizar"? Pouco. Muito pouco mesmo. Apenas restos de alicerces, com um ou outro elemento mais vistoso, aqui e ali, que até pode ter sido trazido de outro lado.

Com tão curto rol de atractivos, é claro que, exceptuando os coitados dos alunos do ensino obrigatório, nas suas visitas ditas de estudo, praticamente ninguém ali irá perder o seu tempo, suputando hipóteses e olhando para coisa nenhuma. Abundam em Portugal os exemplos de ruínas romanas, às moscas durante todo o ano, mesmo com entradas gratuitas. A excepção é Conimbriga, que mesmo assim não consegue nem metade das entradas no Convento de Cristo, apesar da sua imponência, e de estar próximo de Coimbra e ao lado da A 1 e A 13.

Neste contexto, a inopinada interrupção das obras, alegadamente porque apareceram novos vestígios, bem como a imagem publicada, com tudo bem tapado, (ver imagem supra), apesar de não se prever chuva, levantam sérias dúvidas na comunidade científica sobre a credibilidade de tudo aquilo. E quando há dúvidas sérias, mesmo antes de concluída a obra...

É duvidoso que o executivo municipal tenha ponderado com cuidado todos os aspectos do empreendimento. Pode ter-se tratado simplesmente de mais um projecto que havia necessidade de comprar para satisfazer compromissos antes assumidos. Como quer que seja, um local de visita como o pretendido vai implicar a criação de vários empregos, com os respectivos custos. Como acontece com a Sinagoga, por exemplo. E, não se prevendo receitas com as entradas, terão de ser os contribuintes a arcar com mais esse fardo. Para quê? Só para angariar mais alguns votos? É caro demais.

Há uma derradeira hipótese para sair honradamente do mal entendido. Uma vez pago o projectista, (que se ignora quem seja) e a empresa que adjudicou a obra, alegar que as escavações entretanto efectuadas mostraram que as novas construções estão afinal sobre vestígios importantes, pelo que devem ser demolidas. E depois tapar aquilo tudo, após identificação adequada a deixar no local, e vender o terreno para construção de apartamentos. Ou aproveitá-lo para ampliar o quartel dos bombeiros.

A não ser assim, vamos ter mais um mono, tipo museu polinucleado da Levada, com muito mais moscas do que visitantes. E onerosos aborrecimentos sem fim.

Os eleitos PSD do executivo pensam alguma coisa a este respeito? Ou, como sempre, limitam-se a apoiar mais esta asneira camarária? Vai sendo tempo de se posicionarem, tendo em vista novos tempos que terão de vir forçosamente.

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