Autarcas poupados
e eleitos com a mania que são ricos
Lê-se na informação local que houve em Ourém, no passado domingo, um cortejo de oferendas para os bombeiros voluntários, que rendeu 157 mil euros e materiais de vária ordem, faltando ainda apurar os donativos recolhidos durante o desfile: https://radiohertz.pt/ourem-cortejo-de-oferendas-dos-bombeiros-regressou-as-ruas-da-cidade/
O concelho vizinho de Ourém tem actualmente 40 mil eleitores inscritos, (mais 7 mil que em Tomar) e quatro corporações de bombeiros voluntários, em Caxarias, Fátima, Freixianda e Ourém. Assolados por vários incêndios de grandes proporções, durante o verão, não consta que nenhuma delas se tenha queixado de falta de material ou de recursos humanos. Beneficiaram da habitual ajuda solidária, a nível nacional, sempre desencadeada quando necessário. Mesmo assim, a autarquia resolveu incentivar um cortejo de oferendas, que já não se realizava há seis anos.
Vinte quilómetros ao lado, banhada pelo Nabão, Tomar tem agora menos habitantes que Ourém e uma única corporação de bombeiros municipais, que inclui alguns voluntários. Há queixas de falta de recursos humanos e de material operacional. No caso das ambulâncias, são frequentes as queixas de que têm de vir de fora do concelho, para levar doentes a Coimbra ou a Lisboa. Apesar de tal penúria, não consta que a autarquia tomarense tencione organizar qualquer cortejo de oferendas, para recolha de donativos.
É o mesmo país, com a mesma língua, mas costumes e mentalidades diferentes, separadas por 20 quilómetros! Gente remediada em Ourém, que se vai esforçando para ajudar os seus bombeiros voluntários, que não são funcionários da Câmara, mas estão bem equipados. Gente rica em Tomar, que municipalizou o velho "Corpo de Salvação Pública", agora Bombeiros Municipais de Tomar. Poucos e mal equipados, porque financiados pela Câmara e o orçamento municipal não dá para tudo. "Quem quer festa sua-lhe a testa", diz o povo. Excepto em Tomar, onde basta aguardar que a Câmara organize as suas frequentes festarolas.
Então, e o cortejo de oferendas a favor dos bombeiros? Nem pensar! Câmara rica não recorre à caridade popular. Era só o que faltava! Houve em tempos idos, até à primeira metade do século passado, um cortejo de oferendas nas margens do Nabão, destinado a matar a fome aos seus habitantes pobres. Era a Festa dos tabuleiros, no seu figurino original, com tabuleiros e outros donativos oferecidos pela população.
Com a reforma de João dos Santos Simões, em 1950, e sobretudo após o 25 de Abril, os Tabuleiros passaram a ser um cortejo municipal de beija-mão, quase integralmente financiado pela autarquia. Custou mais de 700 mil euros aos cofres municipais em 2019, e prevê-se que vai custar à roda de um milhão em 2023. Entretanto, os bombeiros que se vão governando com o que têm e chega muito bem, pensam os autarcas, pois quando necessário vêm sempre as corporações vizinhas para ajudar.
Vivam as festas, os eventos, as festanças, os passeios e as comezainas! Importa é ganhar as eleições e em Tomar não é com cortejos de oferendas ou bombeiros bem equipados que vamos lá! Assim devem pensar os que mandam na autarquia nabantina. Ou julgam que mandam...
ADENDA
Os meus queridos conterrâneos que não fiquem zangados nem tristes. Em Tomar há só um corpo de bombeiros, mas temos no concelho quatro bandas de música (Gualdim Pais, Nabantina, Paialvo e Pedreira) e os oureenses não. Portanto, a Câmara nabantina tem razão com as suas festarolas. O pessoal tomarista quer é música! Além disso, nós temos o Convento, o Politécnico, o RI 15 e um Hospital médio, e os oureenses não. Mas têm Fátima, dirão alguns oráculos locais, sempre muito esclarecidos e esclarecedores. Pois.
- Não se pode comparar a flexibilidade de financiamento dos bombeiros voluntários, com os municipais.
ResponderEliminar- A crítica de gastar-se 700 mil euros em festarola e em 2023: 1 milhão novamente em festarola, é uma crítica válida, e realmente esse dinheiro seria muito melhor investido a contratar mais pessoal (prioridade número 1) e a melhorar o equipamento disponível.
- Mas como a coisa anda a nível de prioridades parece mais fácil alguém abrir uma corporação de voluntários e a autarquia fechar as portas aos municipais, como fez o município de Abrantes. Assim se não houver meios a responsabilidade não é do município... mas mesmo sendo, aparentemente não dá em nada.