terça-feira, 20 de setembro de 2022


Sanitários da Várzea grande

Uma infindável série de problemas

Ao princípio era o verbo, uma frase feita bem conhecida, toma nova forma quando se aborda o desastre dos WCs da Várzea grande. Ao princípio, se bem se recordam, eram os sanitários englobados na empreitada geral. Já durante a execução das obras, não se sabe bem porquê, resolveu-se que a recuperação das velhas sentinas públicas seria separada.

Concluídas os obras dos novos sanitários, verifica-se que o aspecto geral não é mau, mas os problemas subsistem. Desde logo o custo exorbitante. Se uns sanitários de poucos lugares custaram mais de 100 mil euros, não incluindo o valor do terreno, para onde vão os preços do imobiliário em Tomar e no país? Mas ninguém parece ter-se incomodado até ao presente. Siga a música, que o baile está animado.

Ignorando deliberadamente o passado, designadamente as causas da indispensável requalificação das sentinas, o novo projecto implementado sofre de várias maleitas. A distribuição de espaços torna muito difícil a colocação de sistemas de controlo de admissão. Os materiais usados não são os mais modernos, nem sequer os mais adequados, sobretudo no que se refere a loiças, torneiras e autoclismos. Ter deixado troços de calcáreo antigo à vista, contraria elementares normas sanitárias, as quais impõem superfícies vitrificadas, para evitar cheiros e bolores, facilitando a limpeza.

Consumado o desastre, o executivo fechou-se em copas e manteve os sanitários fechados. Como as crianças que procuram esconder as asneiras que fazem. Neste caso, a primeira asneira foi nunca ter esclarecido cabalmente o problema das velhas sentinas públicas junto à Abegoaria municipal. Porque chegaram a tal estado de degradação, que as tornou irrecuperáveis?

Porque a actual maioria socialista se tem mostrado incapaz de gerir os funcionários municipais, de forma a que cumpram as obrigações para as quais foram contratados. Donde resultou e resulta que, entre outros óbices, não há quem cuide da limpeza e manutenção das instalações sanitárias. Situação por assim dizer normal em Tomar, a terra do penacho. Todos gostam de ser heróis, mas ninguém gosta de vergar a mola, sobretudo quando o trabalho não é muito limpo, nem prestigiante. É uma situação que tende a agravar-se, mesmo em países com menos cabotinos. Em França, por exemplo, o país da cultura por excelência, o governo enfrenta agora graves dificuldades para recrutar professores, sobretudo do ensino secundário. Porque será?

Perante uma situação de todo inesperada, e não podendo apertar com os funcionários para não perder votos, o executivo foi forçado a encarar a única hipótese disponível para acabar com o impasse dos WCs da Várzea grande -o recurso a empresas privadas. A chamada "terceirização" É o que já fazem há muito os hipermercados, por exemplo. Mediante contratos prévios, que não são nada baratos, empregados especializados limpam, lavam e reabastecem de PH e toalhas de papel, várias vezes por dia, as instalações sanitárias, ou alertam para a necessidade de reparar os secadores de mãos e outro material. Depois indicam, no quadro existente no local, a data e hora do serviço.

É este sistema que a autarquia parece pretender adoptar, mas está com sérias dificuldades, porque falta aos seus membros Mundo e experiência de vida fora da função pública. Se assim não fora, não teriam caído na incerteza actual, com os sanitários fechados enquanto o executivo municipal vai procurando moedeiros de acesso, que funcionem com moedas de 20 cêntimos, uma vez que estão todos calibrados para moedas de 50 cêntimos, dado o mais elevado custo de vida na Europa para lá da fronteira, mas que seria demasiado caro em Portugal.

Nas actuais circunstâncias, em vez de perder demasiado tempo com "problemas de merda", para usar linguagem chã, os senhores do executivo andariam bem se celebrassem mais um ajuste directo com uma empresa que assegure a limpeza, manutenção e vigilância presencial nos WCs luxuosos (tendo em conta o preço de custo) da Várzea grande, tudo sem pagamento no local por parte dos utentes.

Ficaria muito caro? Sem dúvida. Mas faz parte das funções essenciais da autarquia, no quadro da higiene, limpeza e saneamento urbano. Ao contrário das dezenas de eventos anuais, muito mais caros, que só servem para angariar votos, pois são sempre supérfluos. Qualquer cidadão pode passar semanas, meses ou anos sem assistir a um espectáculo gratuito pago pela autarquia, sobretudo agora com a Tv e os filmes "pagar para ver", mas precisa várias vezes por dia de um local adequado para se aliviar.

Obrigar a pagar como forma de evitar degradações, é mais uma ilusão dos anjinhos que nos governam. Primeiro porque não evita nada, conforme demonstra a experiência. Segundo, porque na verdade, ao usar gratuitamente sanitários públicos, cada qual está apenas a beneficiar daquilo que já pagou antes, ao liquidar IRS, IVA, IMI, IRC, etc. Ou a Câmara tem alguma máquina de imprimir notas do BCE?

Quando é que os nossos autarcas resolvem começar a encarar os problemas com olhos de ver e a agir em conformidade? Vai sendo tempo...

(Não estranhem as cores dos títulos. Correspondem aos dejectos dos WCs. Convém tentar manter sempre a coerência entre o que se vê e o que se escreve. Só ainda não consegui ultrapassar os problemas do relevo e do cheiro, que melhorariam muito a prosa, estou convencido.)

1 comentário:

  1. Um divertido comentador do blogue do vizinho, julgou descobrir a pólvora ao escrever " É um exemplo do princípio cagador-pagador" para justificar os sanitários pagos. Pois está a ver mal a questão o nosso querido conterrâneo. Trata-se na verdade do princípio "duplo cagador-duplo pagador". Quem faz merda ao votar e repete no sanitário, paga depois nos impostos e nos WCs. Não rima, mas é a triste realidade, numa terra que tem dinheiro para fornecer alojamento gratuito a quem não paga impostos, mas não tem recursos para permitir que um cidadão pagador de impostos possa aliviar-se à borla. Que falta de coerência!

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