domingo, 7 de agosto de 2022

UM GRAVE DESASTRE ECOLÓGICO -1

Mesmo se a população pouco se importa, o tema é demasiado importante e complexo para ser tratado de forma ligeira. Pela rama como costuma dizer-se. Resolveu-se por isso dividir a crónica em partes. Na primeira apenas uma série de imagens. Cada uma com a respectiva legendagem explicativa. Nas seguintes explica-se então a génese do desastre e indica-se como remediá-lo. Trata-se do velho problema do abastecimento de água ao Convento de Cristo e à sua Cerca, agora conhecida como Mata Nacional dos 7 montes. Tudo propriedade do Estado e tutelado pelos ministérios do governo em funções, via DGPC - Direcção-Geral do Património Cultural.

Primeira parte - As imagens

Imagem 1 - Fontenário ao fundo do jardim do Convento de Cristo, do lado esquerdo, junto à escadaria de acesso à Charola. Ao contrário do que geralmente é dito, a água dos Pegões não chegava só ao Corredor do Cruzeiro e ao Claustro principal. Vinha também até aqui.  O tanque está seco há décadas.

Imagem 2 - A partir do tanque da imagem anterior, a água chegava até este, situado junto à torre de Dª Catarina, aquela da extremidade esquerda, quando da cidade se olha para o castelo. Repare-se no canal em telha romana invertida, do lado esquerdo, em segundo plano. A partir deste tanque regava-se todo o laranjal e inundava-se a anexa prisão subterrânea da inquisição, quando necessário. Era confissão certa, de heresia e do resto.


Imagem 3 - Aspecto do interior das muralhas do castelo, vendo-se arbustos e árvores secas. Em segundo plano, o canal entre os dois tanques mencionados nas imagens 1 e 2. Mais ao fundo, o laranjal a secar e a parte superior da muralha, na Porta do Sangue ou da Almedina.


Imagem 4 - Uma das "casas da água" do aqueduto dos Pegões.  Ao meio a bacia de decantação. Embora o canal da água fosse coberto, mesmo assim trazia sempre impurezas, pelo que havia necessidade de decantar. A água entrava por uma cavidade à direita (que não se vê na imagem) e saía pela outra, à esquerda, depositando as impurezas no fundo, que era limpo periodicamente. À volta da casa, no interior, bancos corridos, para que os frades pudessem aproveitar o ambiente fresco no Verão.

Imagem 4-A -  Exterior da casa da água referida na imagem 4, vendo-se parte do último troço do aqueduto. Depois a água entra na Mata por via subterrânea, passando por baixo de duas das estradas existentes na zona; a do Convento e a do Casal de Santo António.

Imagem 5 - Aspecto dos Pegões altos, a parte mais imponente do aqueduto filipino de 6 quilómetros, mandado edificar pelos reis espanhóis para abastecer de água o Convento de Cristo. A água provinha de várias nascentes, todas ainda activas. Do lado direito a passagem pedonal para assegurar a manutenção. Ao meio, o canal por onde vinha a água, agora descoberto porque entretanto roubaram as lajes que o cobriam. Restam ainda duas ou três, lá mais ao fundo.



Imagem 6 - O aqueduto, entre a casa da água da imagem 4 e a Estrada do Casal de Santo António, antes do muro da Mata. À esquerda a passagem de serviço. Note-se a existência de troços ainda cobertos com lajes, que escaparam aos amigos do alheio.

Imagem 6 - A - Cadeira D'El-Rei.  Lápide no muro da Mata, próximo da bifurcação do Casal de Santo António, a assinalar o local onde o canal com a água dos Pegões entra na Cerca do Convento, e onde o Rei de Espanha e Portugal Filipe III inaugurou o aqueduto em 1613. 32 anos após o seu avô ter ordenado a edificação do mesmo. Outros tempos, outros ritmos. Do outro lado do muro fica o Tanque grande, ou tanque da Cadeira D'El-Rei, a partir do qual se regava toda a parte baixa da actual Mata dos 7 montes. Conforme pode ver-se, a inscrição foi picada a martelo picão, e o brazão superior apagado. Mas foram os reis espanhóis que mandaram fazer o aqueduto... "o que os braços de tantos reis portugueses não alcançaram" , como reza a inscrição.

Imagem 6 -B - O Tanque grande ou Tanque da cadeira d'El-Rei, visto a partir do satélite Google. Do lado direito, no ângulo inferior, a casa da água que dá continuidade à ligação com o Convento de Cristo.
A água para regar a Cerca, agora Mata dos 7 montes vinha por uma torneira ainda existente junto à estrada, sensivelmente ao meio da parede do tanque.
Imagem 6 -C - Aspecto do mesmo tanque, sem água desde que nos anos 60 do século passado ali houve duas mortes por  afogamento. Dois jovens resolveram banhar-se e não sabiam nadar. Ao fundo, a cobertura vegetal toda a secar, por falta de água.

Imagem 7 - Tanque da horta, na Mata dos 7 montes. Aqui vinha ter a água dos Pegões, depois de passar pelo laranjal do castelo, pela encosta norte da Mata e pela nascente da Racha.


Imagem 8 - Detalhe da Mata, do lado norte, a partir da entrada. Note-se a cor amarelada da vegetação, a mostrar falta de água.

Imagem 9 - A nascente das flores, junto ao Tanque dos frades, na Mata,  seca há longos anos.


Imagem 10 - O Tanque dos frades, junto ao parque infantil instalado na Mata. Alimentado pelo Tanque grande e pela nascente da imagem anterior, está sem água há longos anos, como indica a vegetação entretanto nascida no fundo.

Imagem 11 - A Nascente da Racha, na encosta norte da Mata, no enfiamento da Porta da Almedina ou do Sangue. A água, proveniente da rega do laranjal, e portanto do tanque da imagem 2, escorria pela encosta e vinha também pela mina. Do lado esquerdo, em primeiro  plano, é visível o canal, agora coberto de folhas, que abastecia o Tanque da horta (imagem 7).

Imagem 12 - Outro aspecto do canal entre a Nascente da Racha e o Tanque da horta. O seu aspecto dispensa mais comentários.

Imagem 13 - Outra vista do Tanque da Horta (imagem 7). Logo mais abaixo, o buxo do jardim está a secar, com falta de rega. Mas dava muito trabalho usar esta água para regar. Até são capazes de alegar que é para o caso de um incêndio


Sem comentários:

Enviar um comentário