quarta-feira, 3 de agosto de 2022

 


Felizmente vou tendo inimigos

Andava um bocado desanimado com Tomar, minha querida terra natal, que também foi dos meus pais e avós. Por causa do clima durante o inverno, devido à falta de horizontes, e dado o evidente encapsulamento social de boa parte dos queridos conterrâneos. Tornaram-se intolerantes. Não aceitam ideias alheias. Detestam pontos de vista originais. Odeiam críticas, sobretudo quando certeiras.

De repente tudo mudou na minha cabeça. Graças à amável colaboração do sector de comentários do blogue Tomar na rede, (bem-hajas José Gaio!) fiquei a saber que tenho cada vez mais inimigos. Ainda bem! Dá-me alento ao levantar-me o moral. Segundo o pensador Daniel J. Rice "Um homem sem inimigos é um homem desonesto", e eu nunca me tive nessa conta. Por conseguinte, obrigado inimigos meus, sobretudo os de estimação. No duplo sentido do termo. Aqueles que estimo e aqueles que julgo que são. Também sei navegar à estima.

Isto porque, escreveu o brasileiro Medeiros Albuquerque, "Um homem sem inimigos é, segundo a velha comparação árabe, como uma árvore sem frutos, à qual ninguém, por isso mesmo, atira pedras." Convém ainda acrescentar o provérbio bósnio "Um homem sem inimigos, é um homem sem valor", bem como o ditado alemão "Quem não tem inimigos, também não tem amigos."

É certo que até agora, a julgar pelos exemplos conhecidos, os meus inimigos não passam afinal de simples nomes supostos, os chamados pseudónimos. Sem espessura portanto, e que em democracia de tipo ocidental revelam apenas hipocrisia e cobardia. De resto, nem debatem. Limitam-se a ataques pessoais. Em comentários regra geral concisos, por vezes descabelados. Outros ainda, colocando-se na posição de grandes pensadores, a escrever "cá para baixo". Mas que posso eu fazer? Não se escolhe a ascendência, nem o local de nascimento, nem os inimigos. Contento-me portanto com o que me calhou e manifesto a minha satisfação por poder contar com a ajuda involuntária de alguns dos meus conterrâneos de residência. Ou nasceram todos cá? E os pais também?

A pergunta impõe-se, porque já o meu falecido padrinho dizia muitas vezes que "esta terra é madrasta para os seus filhos, e madrinha para os metecos", e não acredito que Tomar tenha mudado desde então. Logo, devem ser metecos aqueles que fazem o favor de ser meus inimigos, e assim vão animando uma vida já longa, numa terra onde para ter horizontes é preciso subir. Ao castelo, por exemplo, mas não só.

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