segunda-feira, 8 de agosto de 2022

UM GRAVE DESASTRE ECOLÓGICO - 5

Quinta parte - Conclusão

Passou em tempos na televisão aquele anúncio "O algodão não engana". Neste caso são as imagens que não enganam. A longa seca provocada pelo corte da água do Aqueduto dos Pegões, tem mesmo vindo a provocar um desastre ecológico no Castelo, no Convento e na Mata. Não é uma opinião. É um facto. Uma realidade à vista de todos os que queiram ver.

1 - Buxo a morrer de sede na Mata dos Sete Montes. Se recomeçaram agora a regar com água da Tejo Ambiente, pode ser que esteja recuperado para a tradicional exposição dos tabuleiros.


2 - Cactos aloés-vera morrendo à sede na sapata do castelo, do lado esquerdo da Porta do sol, à ilharga do jardim.

3 - Outro aspecto do buxo degradado do jardim da Mata dos sete montes.


4 - Aspecto da antiga horta conventual do Chouso, depois campo de futebol do Seminário das missões. Observe-se a falta de limpeza, a erva alta e seca, e o tom geral amarelado das árvores e arbustos. À direita o aqueduto, já no Convento de Cristo.

5 - Vista mais detalhada dos cactos aloés-vera, praticamente já secos por falta de água.

6 - Um terceiro aspecto do buxo no jardim da Mata. Para evitar dúvidas.


7 - Parte poente do laranjal do castelo, com as laranjeiras já amareladas e a perderem as folhas, por falta de água. O Convento costuma organizar anualmente uma "Feira da laranja conventual", mas parece ter-se esquecido que as laranjeiras precisam de rega periódica para produzirem.


8 - Parte nascente do mesmo laranjal do Castelo, onde os estragos provocados pela falta de rega são já bem mais evidentes.


9 - Nem a velha cerejeira do jardim do castelo conseguiu resistir a tanta sede, por evidente desmazelo.


10 - Aspecto do jardim junto à Torre da condessa, a menos de vinte metros de um tanque de rega com água do aqueduto.

Roubo, desvio, simples perda por infiltração, provocada por falta de adequada manutenção, ou uma conjugação desses factores, a verdade é que há décadas que a água dos Pegões deixou de chegar ao Convento, seu destino normal.
E não obstante os nefastos efeitos da seca serem cada vez mais visíveis no coberto vegetal da Mata,  e na parte verde do Castelo/Convento, conforme mostram as fotos acima, sem margem para dúvidas, nem a entidade de tutela, nem os eleitos, nem a informação local, nem os simples cidadãos, têm mostrado qualquer preocupação com o assunto.
Preferem talvez a encosta do castelo sem as árvores nem o coberto vegetal? Se é o caso, alegrem-se. Já faltou mais.
Há até duas situação deveras curiosas. Embora não tendo qualquer competência, ou outra obrigação, na área do património cultural tutelado pelo Estado, entendeu a srª presidente da Câmara de Tomar assumir os custos do restauro de alguns arcos e pilares dos Pegões, que ameaçavam ruína, o que a levou a invocar o interesse público. É uma atitude que só a dignifica, bem como ao órgão a que preside, mas que custou umas centenas de milhares de euros aos cofres municipais. O que torna ainda mais estranha a sua posição actual de alheamento da autarquia, face ao evidente desastre ecológico, que vai alterar profundamente a cobertura vegetal da Mata e do interior do Castelo/Convento, se entretanto nada for feito em tempo útil.

A outra situação é a de um devotado grupo de cidadãos corajosos, que há anos vêm trabalhando como voluntários em campanhas de desmatação e limpeza do Aqueduto dos Pegões. Entre eles há até pelo menos um funcionário do Convento de Cristo. Merecem aplauso e apoio material, mas também eles se têm calado ante o evidente desastre que conhecem bem, pois o aqueduto vai também ele padecendo pouco a pouco da falta de água. Sem humidade para garantir a elasticidade, a argamassa de ligação e reboco vai-se esboroando pouco a pouco, fragilizando a estrutura do monumento. Os arcos entretanto recuperados pela autarquia, aí estão para demonstrar isso mesmo, e o aspecto geral do aqueduto é assaz eloquente.

Fica aqui o registo, para constar onde convenha, nomeadamente na UNESCO - ICOMOS, pois o aqueduto é parte integrante do Convento de Cristo, Património da Humanidade que pode ser desclassificado, uma vez que o Estado se tem vindo a mostrar incapaz, neste caso específico, de honrar os compromissos que assumiu aquando da classificação.  Mas serve igualmente este escrito para estranhar que nem a Câmara, nem a Assembleia Municipal, nem a directora do Convento, nem os presidentes de junta, nem os partidos políticos, nem o referido grupo de cidadãos, nem a informação local, tenham ainda julgado indispensável e urgente alertar o governo e a DGPC para a necessidade de reabilitar quanto antes o Aqueduto dos Pegões, recolocando a água a correr, para evitar o grave desastre ecológico que já se adivinha. Devido à falta  da água do aqueduto, boa parte da vegetação da Mata começa a ficar amarelada, o mesmo acontecendo com a zona verde no interior do castelo e do convento. Querem arriscar que elas passem do amarelo ao castanho? É que, se e quando tal acontecer, já será demasiado tarde. Apenas restará então semear novas espécies...e conseguir água para as regar. Do aqueduto, ou da Tejo Ambiente. Porque sem água, já estamos a ver o que acontece.

Está assim cumprida a minha obrigação como cidadão e tomarense. Alertar atempadamente.  Agrade a quem agradar. Doa a quem doer.





1 comentário:

  1. Da minha parte agradeço a sua preocupação com os alertas e anotações, infelizmente parecem ser poucos são os que reconhecem o património que se está a perder..

    Muito (mas mesmo muito!) haveria a dizer, apenas sublinho que quem continua a chamar Aqueduto dos Pegões e não Aqueduto do Convento de Cristo não alcança verdadeiramente o que está em causa, provavelmente porque não conhece a verdadeira extensão e complexidade de um sistema desenvolvido para captar, tratar, e encaminhar água por mais de 6km, e acima de tudo a necessidade imperiosa de se agregar este Aqueduto ao Convento de Cristo, a Mata e sua Cerca num único complexo, gerido por uma única entidade )

    Sugiro a consulta:
    -Traçado do Aqueduto desde os mananciais até ao Convento e rede subsidiária da Cerca (por falta de informação não consegui ainda integrar a zona do terreiro e hortas.. nalguns pontos já ajudou!):
    https://www.openstreetmap.org/relation/12720403#map=19/39.60253/-8.41934

    - Atlas DGPC do Patrimonio Classificado (onde é possível ver todo o traçado do Aqueduto protegido como MN (e sua zona de proteção com 50m para cada lado do seu eixo, confirmado pela propria DGPC em oficio e posteriormente integrado no PDMT):
    http://patrimoniodgpc.maps.arcgis.com/apps/webappviewer/index.html?id=7f7d5674280f41849c0a0869ced22d91

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