domingo, 21 de agosto de 2022


Aqueduto do Convento sem água há mais de 15 anos

Uma bela entrevista, mas...

Tomar a dianteira 3 leu com satisfação a entrevista de Andreia Galvão, diretora do Convento de Cristo, publicada esta semana num semanário local. Vasta cultura, vivência no património, conhecimento dos problemas, discurso bem articulado e agradável, tudo isso transparece das declarações da senhora. Uma grande senhora. E agradece-se, por ser raro cá no sítio.

Há contudo um aspeto que parece criticável. Por razões que se entendem, mas não se aceitam pacificamente, Andreia Galvão procura vincar que há responsabilidade tripartida na situação do aqueduto dos Pegões, que designa por "problema hídrico". Sucede que, se por um lado é de louvar que finalmente a diretoria do convento reconheça haver problema com o aqueduto, por outro lado, a questão referente à classificação daquele património como monumento nacional apenas na zona dos "Pegões altos", parece ser apenas argumentação para baralhar, complicando a situação.

Na verdade, os Pegões são, na sua totalidade, o aqueduto do Convento de Cristo, pois foi exclusivamente para isso que foram edificados, (por ordem do rei espanhol, neto de D. Manuel I, "o que os braços de tantos reis portugueses não conseguiram levar a cabo", diz a lápide comemorativa, depois picada a martelo). Para fornecer água à casa-mãe da Ordem de Cristo. Donde resulta que, no atual enquadramento administrativo, são propriedade pública, tutelada unicamente pela DGPC em toda a sua extensão, incluindo uma zona de proteção de dois metros de terreno para cada lado. A chamada serventia pública. Pouco importa, por conseguinte, que sejam ou não "monumento nacional" na sua totalidade, ou estejam em terrenos de outras entidades públicas ou privadas.

Tutelado sucessivamente pela  Fazenda Pública - DGEMN, pelo IPPC, pelo IPPAAR e agora pela DGPC, o aqueduto foi praticamente abandonado à sua sorte a partir da altura em que o Seminário da Missões deixou de ocupar parte do Convento de Cristo, o que ocorreu na segunda metade dos anos 80. Urge por isso assumir com urgência, e até por uma questão moral, o encargo de o recuperar integralmente, pois daí depende a saúde do coberto vegetal do Convento, do Castelo e de parte da Mata dos sete montes.

Tratando-se de propriedade do Estado, tutelada pela DGPC, só esta entidade tem plena competência para proceder em conformidade. Tentar incluir o Município de Tomar  e o ICN, só pode vir a complicar as coisas, pois como é sabido, mesmo na administração, ninguém gosta de fazer filhos em mulher alheia, com receio de poder vir a perder o feitio.

Resta portanto arranjar coragem e proceder à ribatejana -pegar o toiro pelos cornos. O que significa neste caso repor o mais rapidamente possível a água a correr em toda a extensão do aqueduto. Da nascente da Boca do cano até ao tanque junto à Torre de Dª Catarina. Doa a quem doer.  Custe o que custar. Ontem já era tarde.

NOTA FINAL

Depois, já com as escorrências do laranjal do castelo a chegarem de novo cá abaixo, ao Tanque da horta, via Fonte da Racha, podem até conseguir fundos europeus para limpar o aqueduto de ponta a ponta. À mão e com especialistas reputados, bem entendido. Como vai acontecer agora na Janela do capítulo. Tal como os jogos Santa casa, "é fácil, é barato e dá milhões."

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