Cemitério, algures na Europa além-Pirinéus, coberto de erva alta, o que não impede a deposição de flores nas sepulturas.
Limpeza urbana
Se nem nas ruas e avenidas...
Lê-se no Tomar na rede que há vários cidadãos a protestar nas redes sociais contra a evidente falta de limpeza no cemitério de Marmelais. Acompanha a notícia um lote de imagens, mostrando alguma erva entre as campas.
Em circunstâncias normais, comentava naquele blogue. Mas depois do que me aconteceu há pouco tempo, nem à força lá voltarei a escrever seja o que for. Sou portanto levado a publicitar a minha opinião só no suporte que controlo. "Cautela e caldos de galinha..."
Peço antecipadamente desculpa aos cidadãos reclamantes, pois o que vou dizer pode não lhes agradar. No meu fraco entendimento, estão a ver mal o problema. Já alguma vez reclamaram assim, na redes sociais, porque a rua A, a avenida B ou o largo C estavam um nojo? Ou porque a água aumentou 23%? É claro que não. Não querem correr o risco de vir a sofrer represálias pela maioria que temos. Têm medo. Acobardam-se. É humano.
Mas então, se não têm tido coragem para enfrentar aqueles que atraiçoam a democracia, denunciando a falta de limpeza das zonas concelhias frequentadas pelos cidadãos vivos, ou o aumento da água, entre outras carências, o que vos leva a protestar agora contra as ervas no campo dos mortos? Foram eles que insistiram junto dos familiares e amigos? Ainda não perceberam que o problema é o mesmo e é geral, não se limitando à falta de limpeza?
Olhem que já no século XVIII (18, para os menos versados em numeração romana), o tão vilipendiado marquês de Pombal, confrontado com os imensos estragos do terramoto de Lisboa de 1755, foi lapidar. Quando lhe perguntaram o que fazer, a resposta foi pronta, clara e certeira: -"Enterrar os mortos e cuidar dos vivos". Infelizmente, parece que em Tomar, três séculos mais tarde, há uma forte tendência para fazer o oposto do anunciado pelo odiado marquês. Nas margens nabantinas, nota-se cada vez mais uma tendência para "enterrar" os vivos e cuidar dos mortos. E as vossas reclamações contra a erva nos cemitérios vão nesse sentido. Já pensaram bem nisso?
Nota final
É muito provável que este escrito desagrade aos meus queridos conterrâneos, como referi acima. Gostaria por isso de lhes pedir licença para lembrar um velho provérbio popular português: "Nosso amigo mesmo, é aquele que nos mostra a verdade. Não o que nos conta aquilo que queremos ouvir."
Procurar sacudir a água do capote, alegando que estou a defender a Câmara, não fará qualquer sentido. Sou insuspeito nessa área, pois o meu passado de décadas fala por mim. Estou, isso sim, a tentar que passe a prevalecer o bom-senso e uma normal escala de prioridades reivindicativas, que possa evitar risos malandros fora de Tomar, com gente a estranhar as raras e estrambóticas opções dos reclamantes nabantinos. Ainda não tinham percebido?
Caro autor, António Rebelo, sou assumidamente um dos reclamantes e nem ponho a questão de gostar ou não da apreciação que faz, quer do problema, quer da reclamação.
ResponderEliminarSó acho que faz sentido clarificar a questão do protesto, até porque é um dos recorrentes. Levantei este assunto (entre outros) em reunião pública da Câmara no dia 2 de março de 2020. Ficou em ata: "choca bastante a imagem de degradação que se tem encontrado no Cemitério de Marmelais, situação que é, seguramente da responsabilidade da Câmara e exige uma intervenção".
A resposta do vereador foi que era por causa das condições climatéricas e que faziam o corte em abril, a tempo do Dia da Mãe.
Nesse ano nem isso fizeram. Insisti, n´O Templário a 14 de maio:
"É indigno, a roçar a falta de respeito, tratar aqueles espaços assim. Mesmo que os defuntos não valham votos."
Entretanto houve eleições e estas práticas tiveram aprovação maioritária dos eleitores.
Porque é que vale a pena reclamar, mesmo sabendo que as vozes reclamantes vão cair em saco roto?
Porque o que está aqui em causa, politica ou operacionalmente, é a incapacidade da Câmara em implementar serviços que deviam ser a principal prioridade e finalidade deste organismo.
Sinceramente estou pouco interessado na visão estratégica do concelho no horizonte a 50 anos, se nos dias de hoje não se conseguem pôr a funcionar infraestruturas básicas e serviços essenciais. Sim, estou a falar de estradas e arruamentos, ou de acesso de banda larga em todo o concelho que, pelas promessas eleitorais, devia estar pronto no fim do ano. Até trocava pontos de carregamento do carros elétricos por algumas destas prioridades.
Do lado dos serviços tem-se falado da água e saneamento, recolha de lixo e também das limpezas (cemitérios municipais incluídos, pois os das freguesias estão de um modo geral impecáveis).
Isto é política - decisão de dotação orçamental, opção por meios próprios ou de serviços externos.
Isto é técnica - meios a mobilizar (mecânicos ou químicos), licenças, compras de equipamentos, seleção de fornecedores, a tarefa de fiscalizar.
Isto é planeamento, palavra que caiu no desuso neste regime - quantas vezes por ano, em que alturas, quem tem a responsabilidade de despoletar o processo, que cuidados se devem ter na proteção de pessoas, animais e ambiente.
Portanto, quando se reclama dos cemitérios, está-se a reclamar de tudo o que o António Rebelo tem assinalado, desde sinalização na cidade, obras de fachada, prioridades orçamentais, recuperação urbana e assim sucessivamente. Vale a pena fazê-lo.
Por último, só uma dúvida: estará a Câmara à espera dum forte desarranjo intestinal, de toda ou de parte da vereação, para inaugurar condignamente os WC da estação numa primeira utilização épica?
Agradeço o seu excelente comentário, bem documentado, o que é raro na informação local. O que me pareceu é que, contrariando o que escreveu, se estava a insistir num detalhe, como forma de entreter, escondendo o todo. Se assim não é, peço desculpa, conquanto não tenha tido, de forma alguma a intenção de prejudicar conterrâneos. Apenas de colocar as coisas en su sítio.
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