quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Luis XIV, rei de França e de Navarra

Gestão municipal

Ornamentar, enfeitar, alindar, camuflar

O recente pedido tomarense, chegado à direcção do Parque natural da Serra de Aire e Candeeiros, mostra bem o tipo de gestão municipal que se pratica em Tomar, pelo menos desde 2013. A solicitação é clara: Precisamos que o jardim da Mata esteja bonito no próximo ano, porque vai haver ali a exposição dos tabuleiros. Nem mais nem menos.

Em resposta, o organismo florestal contactado vai decerto proceder em conformidade. O jardim será regado com água da rede, fornecida pela Tejo Ambiente, a preço especial para organismos públicos. E estará bonito, como se pretende, durante os Tabuleiros. Depois? Logo se vê! A Mata? Que se lixe! A água no aqueduto? Quero lá saber!

Vivá festa! Vivam as ruas populares enfeitadas, onde nem sequer passam os tabuleiros! Atitude tomarense que não é nova. Tradicionalmente, enfeitava-se o percurso, quando o rei resolvia visitar o Convento, e passava pela cidade. Ideia vinda do estrangeiro. No século XVIII (18, para os alunos do facilitismo), a csarina Catarina II (2ª, para os mesmos), deslocava-se por estradas ladeadas de grandes painéis pintados com paisagens,  escondendo a miséria circundante.

Tudo porque, no século anterior, por volta de 1680, o rei francês Luis XIV (14, para os mais avançados, Xís i Vê, para os outros) disse "LÉtat c'est moi" (o Estado sou eu), ideia que fez o seu caminho, estando agora entranhada nas cabeças dos nossos eleitos. e de alguns funcionários superiores. Aquilo a que os mais cínicos apodam pela calada de "autocracia tomarense". "O concelho sou eu", "A câmara sou eu", "O município sou eu", "O poder sou eu", "O urbanismo sou eu", "O plano de pormenor sou eu", há para todos os gostos e todas as bolsas. Uma monarquia local, de eleitos com pouco mais de sete mil votos (num universo de 33 mil possíveis). Mas que havemos de fazer? São feitios e contra idiossincrasias, nicles!

Pois se mesmo os estudantes do Politécnico, se ainda não dizem "Tomar somos nós", já gritam "Tomar é nossa!", durante os seus desfiles. A coisa promete. Por conseguinte, ornamente-se, enfeite-se, alínde-se, esconda-se, camufle-se, para os nossos reisinhos locais poderem transitar por aí descansados. Eles gostam, e o povo aprecia. Ou pelo menos não protesta.

O futuro? Que se lixe! Depois logo se vê!

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