Política municipal
Duas asneiras grandes
que os seus autores consideram grandes êxitos
Em declarações ao semanário O Templário, o vice-presidente autárquico disse que "Requalificar o Flecheiro era premente para nós." Sempre na busca do melhor português possível, foi-se ao dicionário e em PREMENTE apareceram três acepções possíveis: 1 - que exige solução rápida; urgente; 2 - Que aperta, que faz compressão; 3 - Que afecta o coração, angustiante, aflitivo.
Conclui-se portanto que, para o grupo do sr. autarca eleito, o PS, venceram as hipóteses 1 e 3, com destaque para esta última. O que impediu a indispensável ponderação. Aflitos e angustiados, ninguém se lembrou do velho provérbio segundo o qual "cadelas apressadas costumam parir cachorros cegos". Mas foi o que aconteceu, em sentido figurado, é claro.
Ninguém de bom senso contesta a acção de realojamento dos ciganos do Flecheiro. Discorda-se porém, e muito, da maneira como vem sendo feita. Não por questões pessoais ou partidárias. Apenas por se constatar que, para acabar com um problema grave, acabaram por criar quatro ou cinco, potencialmente ainda mais graves.
O que vai obrigar, quanto mais cedo melhor, a destricotar o que foi mal feito, por muito que isso possa doer a quem fez. Apregoar êxitos é fácil. Consegui-los é que é difícil.
É dos livros que "uma asneira raramente vem só" e o caso do Flecheiro é mais um exemplo flagrante disso mesmo.
Falhado, por má execução, o plano de realojamento, veio a seguir e vai agora começar a parte prática de requalificação daquele imenso espaço. A presidência da Câmara acha que os tomarenses vão querer desfrutar de tudo aquilo, e até se lastimou um dia destes de ter 55 anos sem nunca ter podido fazer isso mesmo.
Bastante mais velho, tão pouco tive a ocasião de desfrutar daquela zona, que era na minha juventude o matadouro municipal, o esterqueiro municipal e uma quinta privada, com árvores de fruto, sobretudo ameixieiras, para ser mais preciso. Roubei por ali alguma fruta, que os tempos eram de fome e não de desfrute, aprendi a nadar no então açude do matadouro, e atravessei algumas vezes o milheiral "da Marchanta". Aceito por isso que agora alguns dos seus descendentes nem sequer me cumprimentem quando nos cruzamos na rua. A nova geração, porque com os papás sempre me dei muito bem, uma vez que fomos companheiros de escola, nalguns casos.
Quer isto dizer que viva o progresso e que a população vai finalmente aproveitar todo aquele espaço? É claro que não! Só quem passa os dias e os anos sentado, olhando para o computador, pode ter semelhante ideia. Quem já teve ocasião de observar o Mouchão, a Várzea Pequena ou a Mata, com olhos de ver, sabe bem que, mesmo com sombras e árvores de grande porte, são raros os frequentadores respectivos. E iam agora para o Flecheiro, numa extremidade da cidade, sem árvores de grande porte nem sombras, apanhar um escaldão? Os tomarenses têm os seus defeitos. Não me consta que sejam néscios.
Vamos ter assim mais uma obra falhada, de pura propaganda, que não serve para nada, a não ser para gastar dinheiro europeu. Uma espécie de Várzea grande 2, o que faz todo o sentido, pois até ao final do século XVIII aquilo também integrava a Várzea Grande.
Que fazer então? Não sei. Não fui eu que me apresentei ao eleitorado para o representar, e nem sequer frequentei qualquer curso de arquitectura ou urbanismo. Limito-me a opinar, como cidadão pagante.
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