terça-feira, 14 de março de 2023



Serviços públicos

APÊNDICES MUNICIPAIS DISTO E DAQUILO 

https://tomarnarede.pt/economia/quem-da-mais-autarquias-em-concorrencia-pela-captacao-de-medicos/

Após oito décadas bem vividas, tenho tendência para procurar ver além das evidências. Quando a Câmara mandou restaurar uns arcos dos Pegões, interroguei-me, por se tratar de uma tarefa do governo, cuja DGPC gere, ou devia gerir, aquele conjunto monumental.
Voltei a discordar, já com mais intensidade, quando anunciaram as obras em S. João Baptista. Visivelmente, dois milhões de euros para comprar votos dos católicos locais. Uma vez que se trata de um monumento à guarda da DGPC, que outra explicação para uma despesa que devia pertencer ao governo?
Entretanto os costistas tentaram transferir para as autarquias algumas responsabilidades governamentais. No ensino, nos assuntos sociais, umas vezes com êxito, outras nem tanto. Com origem numa manifesta vigarice, quando em 2015 culparam os vencedores das eleições de tudo e mais alguma coisa, o governo Costa acabou premiado. É bem sabido que quem semeia ventos, colhe tempestades, e elas aí estão, cada vez com maior intensidade. Médicos, professores, enfermeiros, ferroviários, funcionários judiciais, todos protestam e vão contribuindo para a ruína da já fraca economia portuguesa.
Cansados de tanta bagunça, com o PS negando agora o que antes prometera, para chegar a S. Bento, são muitos os presidentes de Câmara que procuram honrar o seu compromisso de servir quem os elegeu. Nesse sentido, perante a crescente desertificação médica no interior, viram-se forçados a encontrar uma solução aceitável, e começaram os incentivos mensais. Os rebuçados para adoçar a boca aos clínicos.
Mação, um pequeno concelho do Médio Tejo, com apenas seis mil eleitores inscritos, oferece um acréscimo mensal de 2.500 euros a um médico que queira fixar-se lá. Não é caso  único, conforme pode conferir no link supra. Até Ourém, o mais populoso e menos encravado concelho da região, a apenas vinte quilómetros de Leiria, já oferece incentivos de 600 euros mensais, para médicos e enfermeiros.
Onde vamos parar por tal caminho? Está aberta a nova corrida ao ouro, sendo certo que o médico que vai para o concelho A, poderá trabalhar igualmente no B, mas dificilmente num terceiro. Como dizia certo primeiro sargento, "pode-se trabalhar 24 horas por dia, mas depois há a noite." E temos o caso da manta pequena para uma cama grande. Quando se puxa para cobrir um lado, está-se a descobrir o outro.
Com o tempo, tudo indica que vamos ter serviços nacionais, cada um com os seus apêndices concelhios. Exactamente o que os socialistas sempre ambicionaram. Transferir para as autarquias aquelas responsabilidades mais onerosas e complexas, ficando só com as nobres -Defesa, Relações diplomáticas, Justiça e Administração interna.
Não tarda, os incentivos terão de chegar também ao ensino e aos transportes, por exemplo. Já estou daqui a imaginar a Câmara de Tomar a contratar professores, mediante um acréscimo mensal, para assegurar a continuidade das aulas. Ou até a atribuir um subsídio mensal aos ferroviários do Ramal de Tomar, para acabar com as greves na nossa ligação umbilical à capital.
No caso de Tomar, um concelho rico, na opinião da maioria socialista, não haverá problema de maior. Quem distribui subsídios de mais de um milhão de euros anuais, a cerca de 150 associações, mais do dobro das existentes em qualquer outro concelho da região, e faz obras de três milhões de euros só para ornamentar, como foi o caso da Várzea grande, também pode subsidiar os profissionais indispensáveis ao bom andamento da vida local. O problema são os concelhos pequenos e pobres. Quem lhes acode, na nova realidade competitiva? Mesmo os pretensos ricos, uma vez que o dinheiro não é elástico, quando não esticar para tudo, como é? Trocam-se três subsídios a associações, e duas festarolas, por um médico avençado? Ou volta a dizer-se que "a Câmara não tem nada a ver com isso", como tem acontecido com outras desgraças?
Diz-se que "Quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré". O problema tomarense agrava-se, em vez de se ir resolvendo, entre outros óbices, porque há no poder local  lagartixas convencidas de que são jacarés. Uma delas, costuma até dizer que "Ninguém é mais forte do que eu." Poderá ser verdade, mas apenas na respectiva categoria. O resto é só bazófia. E a falta de médicos, por exemplo, não se resolve com balelas.

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