sábado, 25 de março de 2023


Vida local

Sobre emigrantes tomarenses

Assim sem quase me dar conta, já estou em Fortaleza  há perto de sete anos. E a vontade de regressar é nula. Por causa do clima, pensará quem lê. Também, mas não só. Há em Tomar gente simpática e hospitaleira, calculo que como em qualquer outra terra, mas não serão maioritários, bem pelo contrário. E os outros...
Sem entrar em detalhes, residem aqui na capital cearense alguns tomarenses, que trabalham na área do comércio. O que surpreende, quando se fala com eles, é que expressam saudade, porém sem qualquer vontade de regressar.
Outro indício no mesmo sentido, de todo inesperado, aconteceu há semanas. Uma amiga brasileira, que aluga em regime de alojamento local, apresentou-me a três clientes portuguesas. De conversa em conversa, acabei por concluir que uma delas é tomarense de nascimento, como eu, mas está na Suiça há perto de vinte anos.
Estiveram aqui três meses, e já se foram embora, mas antes convidaram-nos, a Neila e eu, para as ir visitar no próximo Verão, em S. Martinho do Porto, onde uma delas tem uma vivenda. Julgando estar a dizer uma evidência, avancei que antes disso se calhar ainda nos íamos encontrar em Tomar. A resposta da conterrânea foi algo ríspida: -Voltar a Tomar? Nem à força! Nunca mais. Só morta!.
A boa educação impediu-me de questionar. Ficou a dúvida. Que lhe terão feito, ou deixado de fazer, que justifique tal reacção? É o problema das terras pequenas dos países menos evoluídos. As pessoas vivem contentes consigo próprias, viradas para dentro, alheias ao  Mundo que as cerca, julgam-se cheias de razão, defendendo ideias e princípíos que já não se usam em nenhum outro sítio civilizado e achando que os culpados são sempre os outros. Será assim?
Inadvertidamente, ou talvez não, arranjam conflitos com os vizinhos e conterrâneos, agravando ainda mais o autismo dos tomarenses, produto de um ensino que deixa a desejar. Não é por mero acaso que, logo à primeira tentativa, o Chega, intolerante, ultrapassou a  barreira dos 10%, colocando-se na posição de 3ª força política do concelho, bem na frente de outros que se dizem progressistas e andam há quase cinquenta anos a difundir uma doutrina com cada vez menos seguidores. Definham, como a igreja católica.
Tomar é uma bela cidade, com um monumento fora de série e uma festa original. É portanto normal que os tomarenses gostem da sua terra. Mas é também doentio endeusar a urbe e idolatrar os tabuleiros, como tem sido feito e tende a agravar-se. É uma lástima o que se vai vendo no Facebook, publicado por nabantinos.
O mundo é grande e ameno, dizem os espanhóis. Convém olhar também para ele, saber relativizar as coisas, e questionar-se: Porque está Tomar a ficar cada vez mais trás? Será exagero dizer que os piores inimigos da cidade e do concelho são os seus próprios habitantes, ainda que sem disso se darem conta?

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