segunda-feira, 6 de março de 2023


Política local

O naufrágio do TITANIC

Por razões de convivência, abstenho-me de qualificar a  atitude cidadã da maioria dos meus queridos conterrâneos. Não lhes quero mal por serem como são, mas eles sentem-se ofendidos quando se vêem retratados por escrito. Prefiro, apesar disso, optar pela convivência, tendo em conta a resposta de Beresford, quando chegado a Portugal para comandar as tropas contra os franceses, lhe disseram cobras e lagartos sobre os soldados portugueses.
Tendo percebido que a intenção era desencorajá-lo, levando-o a regressar ao seu país, o ilustre militar britânico respondeu no melhor estilo inglês: - "Os senhores têm razão. Será assim certamente. Mas é com esses maus soldados que vamos ganhar esta guerra. Porque não temos outros!"
Dois séculos mais tarde, a guerra é outra, e o problema não são os maus soldados, mas a mentalidade dominante. Não só em Tomar, mas por esse país fora. No caso nabantino, graças aos esforços das agências de comunicação e imagem, bem pagas pela autarquia, até parece que vai tudo bem, no melhor dos mundos possíveis, como diria o voltairiano Pangloss.
Imaginem! Sucesso do desfile dos tabuleiros na BTL, Festa dos tabuleiros que promete vir a ser um êxito estrondoso, como sempre,  e "a obra do século", noticiou a SIC, na igreja de S. João Baptista, onde foi baptizado quem escreve estas linhas . É só grandes acontecimentos. Que infelizmente "enchem o olho", mas não passam disso. Não induzem criação de valor acrescentado, mas iludem os eleitores desprevenidos, alvo de uma administração ávida de promoção, para eventuais futuros voos.
O caso das obras de S. João, é mesmo o exemplo limite. A Câmara gastou milhões, a obra está uma maravilha, mas era da responsabilidade da DGPC e não da autarquia. Duas ruas ao lado, na Rua Nova, começa uma espécie de reserva indígena, que vai até à Rua da Graça, com sarjetas velhas sem sifão, emissários de esgotos da idade média sem separadores, rede de água de 1937, com condutas de amianto, matéria cancerígena agora proibida, ratos e mau cheiro durante o verão. Mas quê? Contas feitas, são mais os fiéis nas missas de S. João, que os eleitores residentes na tal reserva indígena, e para o PS o que conta são os votos entrados nas urnas. Bom proveito.
Uma nota final, para lembrar que as obras de fachada e os eventos promocionais enganam muita gente, de resto já disposta a deixar-se enganar. Mas a triste realidade é muito teimosa e acaba sempre por se impor. Basta recordar que, durante o célebre naufrágio do TITANIC, a orquestra continuou a tocar e os pares a dançar, mesmo quando já não havia salvação possível...

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