Política local
Debater no nevoeiro
A Rádio Hertz emite, julgo que duas vezes por semana, em video, Olhar Tomar. É um programa de debate convergente, digamos assim, bem conduzido pelo jornalista António Feliciano. Os dois intervenientes residentes são, por ordem alfabética do primeiro nome, Hugo Cristóvão e Tiago Carrão, ambos eleitos locais a dispensar apresentação. Cada programa dura mais ou menos meia hora, seguindo-se com muito agrado, pelo menos quando se está a milhares de quilómetros do vale nabantino, com o oceano na frente e 30º durante todo o ano.
O programa anterior foi sobre as Festa dos tabuleiros, o que me levou a nada escrever a respeito, devido à promessa que fiz de só voltar a escrever sobre tal assunto a partir de 15 de Julho. Desta vez, o tema era mais amplo, posto que se tratava do desenvolvimento local, e das condições prévias para que ele aconteça.
Tendo claramente presente que se trata de opiniões de dois eleitos jovens, com a idade do meu filho, por conseguinte diferentes das minhas, devido às diversas experiências de vida, fiquei mesmo assim surpreendido com dois detalhes algo inesperados. As divergências convergentes e o nevoeiro ambiente.
As divergências convergentes, ou convergências divergentes, acabam por se tornar algo fastidiosas. Mesmo tratando-se de eleitos e dirigentes de partidos social-democratas, todos sabemos que um é mais virado para o Estado e outro para a iniciativa privada, coisa que não tem sido nada nítida nas intervenções de cada um. Sem querer ofender, fiquei com a imagem dos Dupont et Dupond, da conhecida BD.
O outro detalhe inesperado foi o nevoeiro ambiente. Já presente no programa anterior, neste chegou a ser mesmo excessivo. Falando da falta de habitação, ambos os residentes mostraram não possuir dados estatísticos sobre a matéria. Foi mesmo algo constrangedor da parte do convidado socialista, incapaz de avançar uma tabela sequer. Ficou-se por uma referência a rendas de 500/600 euros mensais.
O que não me surpreende. Requeri à Câmara no mês passado uma relação completa dos imóveis que possui ou administra, e da respectiva situação (arrendados, cedidos gratuitamente, devolutos, decrépitos), não tendo obtido resposta nos dez dias previstos na Lei, o que me levou a apresentar mais uma queixa à CADA, que dirá de sua justiça.
Apesar das divergências conhecidas, sabendo que os eleitos socialistas são pessoas competentes, educadas e responsáveis, não quero querer que se recusem a fornecer as informações solicitadas por simples birra política. Será simplesmente porque na autarquia também reina, em certos sectores, o tal nevoeiro ambiente. Dito de forma mais clara, é bem possível que neste caso não cumpram a lei de acesso aos documentos administrativos, apenas porque também não têm os dados solicitados, devidamente coligidos. É lamentável, mas parece ser o caso. Ao cabo de dez anos no poder.
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