Informação local
Há mesmo corrupção na Câmara de Tomar
Foi uma grata surpresa, encontrar na grelha inicial da Rádio Hertz um debate sobre corrupção, entre o vice-presidente Cristóvão e o vereador Carrão, com o incansável António Feliciano sempre ao ataque, procurando extrair mais e mais. Neste caso, sem grande resultado. Os convidados ficaram-se pelas usuais generosas generalidades.
Partindo do recente caso de Torres Novas, Carrão discordou da posição dos eleitos torrejanos, por afirmarem que era apenas um problema de funcionários municipais. Vincou e bem que a responsabilidade é sempre dos eleitos, que são os responsáveis máximos.
Cristóvão afirmou não querer referir-se a outras câmaras, como sempre tem feito, e asseverou que no caso de Tomar não há exemplos de corrupção, embora não se possam excluir à priori, conforme acrescentou, pois tudo o que é humano... Nada a recear, portanto. Contudo, sendo certo que não há provas nem indícios suficientes, desde há muito que se fala numa "panelinha municipal" nabantina, mais cara que a de Leiria, por exemplo.
Não podendo ir por aí, dada a falta dos tais elementos mencionados, uma vez que as pessoas falam falam, mas quando chega a ocasião de apresentar provas, ou mesmo dar a cara, não estão para ninguém, sustenta-se ainda assim que há corrupção na Câmara de Tomar.
Não, talvez, aquela corrupção "hard", de embolsar milhares, mas a corrupção "soft", para obter vantagens indevidas, para si ou para os parceiros. Não indo muito longe no tempo, pense-se naquele concurso para chefe de divisão do turismo e cultura. Causou algum escândalo que se tenha exigido, no programa do concurso, uma licenciatura em "geografia humana", quando a legislação vigente apenas exige uma licenciatura, sem qualquer especificação.
Questionado sobre o assunto, uma vez que a dita licenciatura em geografia humana era exactamente a habilitação da pessoa que ocupava o cargo, à data do concurso (que recorde-se, é sempre para uma comissão de serviço, limitada no tempo), Cristóvão esclareceu que há anos se fazia assim, pelo que se decidiu continuar.
Admitiu portanto que há anos se pratica na Câmara uma forma de corrupção, a qual consiste em falsificar previamente os resultados dos concursos públicos de recrutamento. Aquilo que vulgarmente se chama "concursos com vencedor antecipado". Que os eleitos achem normais tais práticas, que se prolongam para o sector dos ajustes directos, dos projectos e das obras municipais, mostra bem que a administração pública carece cada vez mais de uma ampla reforma, que a possa tornar novamente naquilo que foi antes do 25 de Abril -a garantia do rigoroso cumprimento das leis da República, que são iguais para todos. É para quando?
Uma nota final, para os leitores perceberam melhor a situação pantanosa em que nos encontramos cada vez mais. Há umas dezenas de anos, ruiu a velha ponte de Entre os rios, quando ia a passar um autocarro cheio, causando dezenas de mortos. Logo a seguir, o ministro da administração interna, o agora falecido Jorge Coelho (PS), demitiu-se alegando que a responsabilidade era também dele. Décadas mais tarde, num caso de corrupção municipal em Torres Novas, os autarcas PS acham que é um assunto só entre funcionários, que não envolve eleitos. Haverá quem acredite?
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