terça-feira, 22 de novembro de 2016

Uma renúncia enigmática

Conforme se pode ler aqui, Rui Serrano renunciou ontem, 21/11, ao seu lugar de vereador na Câmara Municipal de Tomar. Vice-presidente desde o início do actual mandato, entregou os pelouros uma primeira vez em Janeiro deste ano, na sequência de uma remodelação feita pela presidente que não lhe terá agradado. Voltaria a assumir alguns pelouros pouco tempo decorrido, mas entretanto a vice-presidência já fora entregue a Hugo Cristóvão.
Em Agosto passado, voltou a entregar os pelouros, tendo declarado então que não se revia na actual equipa dirigente, à qual não reconhecia credibilidade para gerir os destinos concelhios. Apesar disso, numa atitude algo estranha, resolveu manter-se como vereador, tendo até chegado a votar, conjuntamente com a oposição, a proposta que estabeleceu as reuniões hebdomadárias do executivo.
O sua inesperada demissão, formalizada por carta, justamente no dia do aniversário da presidente e sem qualquer explicação, permite pelo menos duas interpretações plausíveis:1- Ao manter-se como vereador, mas colocando de facto os seus camaradas em minoria, apesar da coligação com a CDU, Serrano esperava poder forçar a presidente a alterar significativamente a sua linha de. rumo. Tendo constatado a inviabilidade de tal esperança, resolveu demitir-se. 2 - Eventualmente encorajado pelos seus colegas da oposição, Serrano terá pensado ser possível constituir uma verdadeira força alternativa, susceptível de suster as políticas que considera erradas. Verificando na prática que afinal a actual oposição ao executivo não está virada para grandes sobressaltos, desesperou e resolveu abandonar.

Foto O Mirante

Trata-se assim de uma renúncia enigmática, tanto mais que o seu principal protagonista recusa de forma obstinada qualquer explicação. O que impede de saber, entre outras coisas, de quem foi afinal a ideia inicial da remodelação de Janeiro, que lhe retirou a vice-presidência e acabou conduzindo ao desfecho de hoje. De Anabela Freitas? De Luís Ferreira? De ambos? De Bruno Graça? A seu tempo se saberá. Quiçá em conjunto com a resposta a esta outra pergunta indispensável: Politicamente e desde 2013, quem mandava em quem no PS Tomar? Anabela Freitas queixou-se no local próprio de maus tratos psicológicos, tendo depois  declarado à comunicação social  que tinha inimigos e que estavam identificados.
Perante tais acusações, Luís Ferreira assumiu o papel de vítima, ao mesmo tempo que acusava a sua ex-companheira de estar a tentar vitimizar-se por razões eleitoralistas. Afinal em que ficamos? Quem é agredido? Quem é agressor?
Rui Serrano deverá ser substituído por um dos nomes seguintes da lista PS, o que não vai ser fácil. Respeitando a respectiva ordem, segue-se Anabela Estanqueiro, que só poderá assumir caso decida antes deixar de exercer como advogada síndica da autarquia. Não espantará se o vier a fazer, uma vez que o vencimento de vereadora a tempo inteiro é bem mais convidativo que o de síndica. Caso resolva não ir por aí, segue-se Virgílio Saraiva, que também não pode assumir por ser o actual chefe de gabinete da presidente Anabela Freitas. E chegamos à vez de Rui Sant-Ovaia, professor do Instituto Politécnico (ver foto). Como não conheço o senhor, solicitei algumas informações, tendo-me sido dito que se trata de um verdadeiro cavalheiro, que até passeia a cadelinha à noite. A ser assim, não me espantaria nada que também não aceitasse, um vez que, no meu humilde entendimento, nunca um verdadeiro cavalheiro ousará integrar-se num funeral já em andamento, quando ainda nem sequer teve tempo de fazer o nó na gravata preta.

Adenda

Recomendo a leitura integral de um comunicado socialista, de 17 Junho de 2013, que pode ser consultado aqui. Dele destaco este excelente naco de bela e clara prosa portuguesa. A demonstrar que as dificuldades da actual gestão socialista tomarense, tanto com a escrita  como para perceber a realidade, não começaram com a sua tomada de posse: "No quadro da preparação das próximas autárquicas... ...o tomarense Rui Serrano ... ...deixará de ser candidato a vereador em Abrantes, passando a integrar a equipa socialista candidata ao Município de Tomar, a qual beneficiará da experiência política e técnica, obtida num dos mais equilibrados e bem geridos Municípios da nossa região".
Lê-se e fica-se incrédulo. Abrantes, dos concelhos mais equilibrados e bem geridos da região? Governado pelo PS, entre 2001 e 2016, passou de 38.480 para 34.063 eleitores inscritos. Uma perda de 4.417. Se a boa gestão socialista continuar como até aqui, é só calcular quando passará a ser uma aldeia com muitas casas vazias, perdida no amplo e rico vale do Tejo. De forma equilibrada, claro!

2 comentários:

  1. Acima de tudo uma decisão sensata.

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  2. De acordo. Mas porquê só agora e sem explicação a fundamentar?

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