quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Jornalismo cego, surdo e com preconceitos

Pela segunda vez em menos de um ano, a informação global (jornais, rádios, televisões, net) errou estrondosamente. Almejando condicionar os seus ouvintes e  leitores, como sempre fazem sem por vezes disso sequer se darem conta, centenas de milhares de briosos profissionais da informação confundiram, deliberadamente e uma vez mais, opinião  pública com opinião publicada. No primeiro caso recente, o do Brexit, -pois terá havido decerto muitos outros antes, porém com menor repercussão- a comunicação social foi praticamente unânime. Difundiu a ideia dominante mais conveniente, segundo a qual a Inglaterra não ia sair da Europa, porque os partidários do Brexit iam ser derrotados. Viu-se.
Agora, a mesma comunicação social global avançou outra vez a ideia mais conveniente: Hilary Clinton ia ganhar, embora por pequena margem, porque Trump é intragável. Não tem boas maneiras, agindo como um carroceiro, vocábulo fora de uso mas muito adequado.
Contagem feita, o imprevisto aconteceu. Trump derrotou a opinião publicada com os votos da opinião pública. Há portanto algo de podre no reino da comunicação social. Algo tão grave que mesmo os profissionais mais prestigiados procuram evitar pedir desculpa ao seu vasto auditório, o que seria natural, após o terem ludibriado reiteradamente. Nem sempre com as melhores intenções. O que arrasta consigo uma situação bem delicada: a urgente necessidade, para todos os órgãos de informação, de recuperar quanto antes, ainda não se vê bem como, a credibilidade perdida. Sem o que, doravante, estarão na prática a escrever e a falar para o boneco. Pelo menos no que diz respeito aos consumidores de informação mais atentos, que deixaram de acreditar no publicado como algo de sagrado. E sem fiabilidade...

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Vendo as coisas de fora e sem outro interesse que não seja a verdade, julgo que tão lamentável situação é, em suma, o produto inevitável do mundo à parte em que vive essa categoria profissional. Mundo rodeado de barreiras sociológicas, os chamados preconceitos, que impedem os seus membros de ver ou ouvir o que se passa cá fora. Surgem assim as "verdades ou evidências da casa, ou da classe", que naturalmente excluem todas as outras, sobretudo se sustentam o contrário.
Descendo à terra natal, que é o âmbito normal deste blogue, a informação tomarense não tem meios materiais nem humanos para grandes feitos. Não está portanto em condições de tentar com alguma eficácia condicionar o eleitorado local. O que não significa de modo algum que não haja tentativas nesse sentido, umas mais canhestras, outras nem tanto.
Como de resto sucede em todas as terras pequenas, salvo raras excepções, jornais e rádios obedecem à voz do dono, o que é natural. E o dono age em função dos interesses de quem lhe paga para inserir publicidade, ou para qualquer outra tarefa legal e transparente. São as leis normais do mercado, contra as quais nada tenho. Salvo em caso de abuso evidente. Pouco provável nas margens nabantinas, onde a frontalidade é planta rara, o que propicia as chamadas práticas encapotadas. Tipo gato escondido com o rabo de fora.

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Julgo portanto útil alertar os políticos domésticos, (sobretudo os instalados no poder) para a necessidade de relativizar as coisas enquanto é tempo. Não se iludam, nem se deixem iludir com promessas vãs. Não é porque jornais e rádios locais difundem o que vos convém e este modesto blogue, remando contra a maré, porque nada tem a perder ou espera ganhar, ousa atacar-vos lealmente, mas sem dó nem piedade, que aqueles têm razão e Tomar a dianteira está errado. A eleição imprevista de Trump acaba de confirmar isso mesmo. Simulando não ter a noção das conveniências, o multimilionário americano ousou ser franco. Proclamou bem alto aquilo que muitos eleitores pensam realmente, e por isso gostam de ouvir. Ganhou folgadamente. Contra as conveniências urdidas pelos do costume.
Por conseguinte, convém não perder de vista que  as eleições são já ali adiante. O que exige muito cuidado com as tais barreiras sociológicas, que tendem a isolar do mundo exterior tal como ele é. O exercício do poder deslumbra, mas Ut flatus ventisic transit gloria mundi. Tal  um sopro de vento, a glória mundana é efémera. Ou, como traduziu o aluno cábula mas sabidão, A gloria mundana não vale um flato.

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