quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Câmara de Tomar: PSD ajudando PS sem querer?

O PSD local é, como se sabe, liderado por João Tenreiro, jovem conterrâneo por quem tenho consideração e amizade. Não só por o saber intelectualmente desempenado, educado, bem formado, solidário e empenhado na resolução dos problemas da comunidade tomarense. Também por ser amigo dos seus pais e concordar com várias das suas opções. O que não me impede de o criticar com a imparcialidade possível.
Politicamente, há um detalhe importante que me parece que Tenreiro deveria ter em conta. Que é este: Decerto não por mero acaso, os seus companheiros de militância alcunharam-no, há já algum tempo, de "João Tenrinho". Epíteto que, após reflexão, lhe assenta muito bem. Porque o visado parece pensar e agir de forma escorreita, porém parcelar, demasiado lenta, e por isso menos adequada. 
Por outras palavras, a actuação excessivamente prudente dos actuais dirigentes laranja, tanto os vereadores como os outros, podendo parecer à primeira vista a mais apropriada, é no final nefasta, devido às consequências que origina. A principal das quais julgo alarmante, porque preocupante para o futuro político da comunidade nabantina. Refiro-me à frase assassina que por aí se ouve,  cada vez com maior frequência: -"A câmara PS não vale grande coisa (ou não presta, noutra versão), mas também não há melhor."


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                                   Foto Cidade de Tomar, com os meus agradecimentos.

Esta afirmação, à primeira vista trivial, numa terra de endémica má-língua, parece-me pelo contrário muito grave e profunda, porque indica afinal o futuro que nos espera, caso nada façamos para alterar quanto antes o triste estado actual das coisas. Numa curta frase, ela anuncia subliminarmente o funeral da democracia   em Tomar. Porque, sendo a democracia o governo escolhido pelo povo, e não havendo escolha real ("estes não prestam, mas os outros também  não são melhores"), adeus democracia, adeus eleições. Não vale a pena perder tempo com inutilidades. Haverá então cada vez maior percentagem de abstenções e os eleitos terão cada vez menor credibilidade. "Votei nestes que não valem nada, porque os outros ainda eram piores." Optar pelo menor dos males, em suma. Aceitar o fatalismo. Admitir que, enquanto comunidade, nunca mais vamos conseguir sair da cepa torta. Ultrapassar esta apagada e vil tristeza, como diria o poeta.
O que têm Tenreiro e os laranjas a ver com tão trágico estado de coisas? Não tudo, mas quase tudo, que os outros oposicionistas também não podem lavar as mãos como Pilatos. Mas o caso laranja é o mais grave. Porque é dali que os eleitores esperam a alternativa. Como sempre tem acontecido desde o 25 de Abril, período durante o qual os tomarenses já tiveram 5 Câmaras PSD, 2 AD, (ou seja 7 mandatos liderados pelos social-democratas) e apenas 4 PS. Que, agravando ainda mais a situação, conta neste mandato com apenas 3 eleitos em sete, um dos quais já se transformou em dissidente, por causas ainda não totalmente apuradas.
No mandato iniciado em 1993 conseguiu o PS quatro mandatos, tendo-se contudo esfrangalhado, tal como acontece agora, o que facilitou as vitórias do PSD em 1997, 2001, 2005 e 2009. Quatro triunfos seguidos, que terminaram como se sabe. Com um cabeça de lista obnubilado pela bem conhecida síndrome de deslumbramento pelo poder, que logicamente perdeu, apesar da igualmente evidente falta de consistência dos adversários vencedores.
Desta vez, infelizmente, apesar da conhecida fractura socialista,  com as suas hesitações, os seus adiamentos, as suas incapacidades, os seus erros tácticos  e estratégicos, a actual direcção laranja nabantina está afinal transmitindo, de forma implícita, aos eleitores tomarenses, que o melhor é votarem novamente no PS. Porque eles, PSD, não se sentem preparados para grandes opções. Para a alternância no poder. E muito menos para subsequentes programas audaciosos, que a gravíssimaa conjuntura tomarense exige. É uma pena porque, conforme dizia o outro, "Em política, o que parece é". E, nesta altura em Tomar, o que parece à opinião pública é que, tal como os restantes oposicionistas, incluindo o vereador Serrano, o PSD, com o seu incómodo e detestado imobilismo, aliado à manifesta dificuldade para fazer escolhas complicadas, está afinal a ajudar o cada vez mais esfrangalhado e minoritário PS. Deliberadamente? Sem querer? 
Há que dar tempo ao tempo, para ficarmos a conhecer enfim a resposta inapelável. As próximas autárquicas praticamente são já ali adiante.

anfrarebelo@gmail.com

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