quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Sobre turismo, esse desconhecido

O turismo é uma das principais actividades económicas contemporâneas, sobretudo nos países desenvolvidos. Apesar disso, continua a ser pouco conhecido. A provar que assim é, aí estão as frequentes declarações equívocas dos governantes, ao abordarem essa área. Ainda recentemente, em pleno parlamento, se enaltecia o extraordinário e inesperado incremento do turismo estrangeiro em Portugal, como um dos componentes da nossa excelente prestação económica no 3º trimestre, deixando entender que isso se deve à acção do governo, o que não é de todo o caso.
Na verdade, o turismo estrangeiro cresceu bastante em Portugal, mas devido a factores conjunturais, que são bem conhecidos de todos os que se interessam pelo sector. Entre esses factores, avultam o receio de visitar os países muçulmanos, tradicionais receptores de turistas (Egipto, Líbano, Marrocos, Tunísia, Turquia, por exemplo) e sobretudo a insegurança nalguns países europeus, com relevo para a França. Primeiro país receptor de turistas, com mais de 80 milhões de visitantes anuais, a república gaulesa tem assistido com preocupação à redução do fluxo de turistas estrangeiros, na sequência dos atentados conhecidos de todos. Para se ter uma ideia mais precisa, de acordo com os mais recentes dados estatísticos disponíveis, em 2016 o fluxo turístico já diminuiu 12,7% em Paris e 11,8% na região do Loire. Nestas duas regiões, os visitantes japoneses foram menos 23% e os italianos, apesar de vizinhos, menos 22%, em relação a 2015.
Quanto aos países muçulmanos, em declarações ao Le Monde, o director de marketing da cadeia hoteleira turca The House Hotel referiu que "a nossa taxa de ocupação passou de 85% para 65%, apesar de entretanto termos reduzido os preços. E não somos dos mais atingidos. Em Fevereiro deste ano houve menos 10% de entradas de estrangeiros na Turquia."


Como é evidente, estes milhões de visitantes, que renunciaram à visita a França ou aos países muçulmanos, terão optado por outros destinos. Com o que Portugal beneficiou bastante, nomeadamente devido à tradicional paz civil e à nossa tão apregoada hospitalidade, que todavia já terá conhecido dias melhores. Tudo isto é portanto positivo, sendo contudo imprudente embandeirar em arco, porquanto os motivos conjunturais apontados, sobre os quais os governantes portugueses não tiveram nem têm qualquer influência, vão decerto alterar-se mais cedo que tarde E então...
Outro tanto acontece em Tomar. Ainda recentemente, um membro do executivo referia, com evidente satisfação, que a noite tomarense estava cada vez melhor e que nunca houve tantos turistas em Tomar. O que é verdade. Havia porém um evidente subentendido: -Como podem ver, graças aos esforços do executivo camarário, do qual faço parte...
Está contudo equivocado o respeitável vereador. Naturalmente, se o turismo cresce no país, é normal que também haja um notório incremento de visitantes em Tomar. Sem que a autarquia seja vista ou achada no assunto. Na verdade, o executivo gastou em 2015 quase 250 mil euros, a fundo perdido, na Festa dos Tabuleiros mas, decorrido um ano,  os eventuais benefícios económicos daí resultantes não são assim muito evidentes.
No concreto, para usar uma expressão estilo PCP, em 2015 o Convento de Cristo terá vendido cerca de 250 mil bilhetes de entrada, que a 6 euros cada, proporcionaram uma receita bruta de um milhão e meio de euros. Que foi integralmente para o IGESPAR, em Lisboa. Também em 2015 e mesmo com entradas gratuitas, só a Sinagoga (com 50.303 visitantes, entre os quais 12.360 israelitas) e a Igreja de Santa Iria (38.839 visitantes) conseguiram ultrapassar a barra dos 10% dos visitantes do Convento. O que mostra bem o enorme fosso existente em termos de afluência, entre o nosso principal monumento, (mal) gerido a partir de Lisboa, e os outros. E também evidencia  porque se lastimam os comerciantes do centro histórico.
De acordo com dados fornecidos pela própria autarquia, (que por razões desconhecidas não incluem a Igreja de S. João), Santa Maria dos Olivais registou em 2015 22 mil visitantes, a igreja da Misericórdia 2.568 e o Museu dos fósforos cerca de 16 mil, entre os quais 2.800 estrangeiros.
Confirmando que a autarquia nabantina praticamente não tem nada a ver com o desenvolvimento do turismo local, o registo de visitantes do turismo municipal ficou-se em 2015, apesar da Festa dos Tabuleiros, pelos 13.801, dos quais apenas uma minoria de 5,493 eram portugueses. Ou seja, em palavras claras, o organismo que teoricamente é o dinamizador do turismo tomarense, apenas foi procurado em 2015, ano da Festa Grande de Tomar, por 5,52% dos visitantes que pagaram 6 euros para visitar o Convento de Cristo. Pior ainda, nesse total os portugueses foram só 2,19% em relação aos visitantes conventuais. Naturalmente devido à excelente sinalização turística e também por já saberem muito bem, de ouvir dizer, o que a casa gasta. A esmagadora maioria optou portanto pela conhecida expressão em emigrês-gaulês "chacun se desenrasca".

Agradeço a colaboração do leitor João Alcobia, que teve a amabilidade de me enviar os dados estatísticos municipais.

anfrarebelo@gmail.com


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