Acabei agora mesmo de ler uma longa peça jornalística, sobre algo que considero absolutamente extraordinário -A Vendée globe. Um vez que grande parte dos meus leitores infelizmente não conseguirá ler o texto em causa, explico.
A Vendée globe é uma competição desportiva, uma regata à volta do Mundo. Sem escala, sem assistência, em barcos à vela, com um só tripulante em cada barco, que dura à volta de três meses. Tem lugar de dois em dois anos, alternando com a Route do rhum e alguns concorrentes já vão na sua terceira participação. Que paixão!
Filho de uma terra que esteve na origem dos gloriosos Descobrimentos portugueses, apesar de situada longe do mar, fiquei triste e preocupado com dois aspectos. Desde logo, a abissal diferença comportamental entre os jornais franceses e os portugueses. Enquanto o Le Monde me possibilita a leitura de quase tudo o que publica, apesar de eu não ser assinante, limitando-se a mencionar, só para alguns trabalhos e após 5 ou 6 parágrafos, que a continuação do artigo está protegida, com os periódicos portugueses é uma miséria. Com a notável excepção do Expresso, que segue a linha Le Monde, os outros querem à viva força que se faça uma assinatura, mesmo sem antes se poder aferir se vale ou não a pena, uma vez que a edição papel difere sempre da sua irmã on line. O Público então tornou-se de tal forma irritante que deixei mesmo de o consultar. E não tenciono voltar a comprá-lo na edição papel.
Publicam, no ângulo inferior direito do ecrã, sem que alguém tenha pedido, notícias sintéticas. Depois, quando se pretende aprofundar, aparece logo, a toda a largura da tela, a oferta de assinatura, que impede a leitura da notícia em causa. Parece ser a nova forma de prostituição jornalística. Insinuam-se e depois anunciam o preço. Ao que chegou o (mau) jornalismo em Portugal!
O outro aspecto é bem mais grave, por aquilo que denuncia. Falo da antes citada regata. País de navegadores, já nem sequer organizamos regatas à volta das Berlengas, quanto mais agora à volta do Mundo em solitário. O que explica finalmente, entre outras coisas, que já há cinco séculos o português Fernão da Magalhães tenha feito a sua volta ao Mundo ao serviço dos reis de Espanha. Tal como Colombo...
Mas conseguimos ganhar o campeonato da Europa, vencendo os franceses. Pois conseguimos. E foi bonito. Uma grande proeza de noventa minutos. Todavia, o resto, o que veio depois, é muito mais preocupante que motivo de orgulho. Como por exemplo a importância exagerada que os portugueses em geral concedem ao futebol, em detrimento da economia, da sociedade, da cultura.
Ainda assim, continuamos a ser um país de navegadores, não é verdade? As águas é que são outras. Infelizmente nem sempre muito limpas. É a vida!, dizia em tempos o agora prestigiado Guterres, decerto conhecedor do verso camoniano: Mudam-se os tempos/Mudam-se as vontades/Todo o mundo é feito de mudança/Tomando sempre novas qualidades...
Sou um infeliz. Ultimamente não tenho conseguido ver qualidades nenhumas. Defeito meu, sem dúvida. O leitor conhece algum oftalmologista competente, que me possa indicar?
Sou um infeliz. Ultimamente não tenho conseguido ver qualidades nenhumas. Defeito meu, sem dúvida. O leitor conhece algum oftalmologista competente, que me possa indicar?
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