Não é costume abordar aqui questões de âmbito internacional. Desta vez porém, não consigo resistir. Perante rios e rios de conversa sobre a vitória de Trump, que praticamente ninguém previra, uma reporter do jornal O POVO, de Fortaleza, disse em poucas linhas o que me parece essencial e convenceu-me. Segue-se a transcrição da sua prosa:
Isabel Filgueiras
Reporter do Núcleo de Conjuntura
O POVO, Fortaleza 13/11/2016
Página 2
"Os democratas que elegeram Donald Trump"
"Os sinais estavam lá, evidentes. Havia muito tempo que o povo pedia algo diferente, um jeito novo de governar. mas o partido democrata resolveu apostar na velha fórmula. Em vez de Bernie Sanders, escolheram Hillary Clinton. A derrota do senador septuagenário não ocorreu nas urnas, no voto popular. Perdeu por falta de apoio dos caciques do partido. Sanders não tinha delegados para competir com Clinton nas primárias, porque quis uma campanha mais independente, que rompesse com o sistema, ficando bem à esquerda, longe das grandes empresas. Tal como Donald Trump do lado oposto.
Os democratas preferiram uma campanha com a segurança dos grandes donativos dos lobistas e o apoio quase total da comunicação social nacional. Não arriscaram com aquele que podia oferecer o que o povo queria -ideias e um outro modelo. Tiraram às pessoas a escolha entre direita e esquerda, que transformaram na disputa entre mais do mesmo e o extremismo.
Até se esqueceram da campanha de Barak Obama, que tinha como lema "esperança", algo novo, e deixaram que o mesmo povo que elegeu o primeiro presidente negro dos Estados Unidos escolhesse agora um multimilionário sem plano de governo. Apenas com um discurso de ódio, que acabou ofuscado pela vontade de mudança."
O meu comentário
Em Tomar, como no resto do país, os partidos controlam eficazmente as candidaturas, graças aos homens de mão de espinha maleável que os servem. Não é portanto plausível que o próximo presidente da câmara venha a ser um extremista de direita. E ainda menos de esquerda. Mas podemos muito bem vir a ter mais um ou uma incapaz. Os sinais premonitórios não são nada animadores, numa terra que como bem sabemos odeia as ideias novas, os espíritos livres e os insubmissos que continuam com as mãos limpas.
Por isso estamos cada vez melhor.
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