quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Sexo reprodutivo e sexo recreativo

Presumo que seja demasiado complexo para um blogue o texto Um projecto para Tomar. Creio igualmente que a maioria dos leitores o terá mesmo assim entendido, posto que a vertente algo rebarbativa de Tomar a dianteira provoca uma selecção severa logo à partida. Numa frase simples, quem aqui vem, já sabe ao que vem. Ainda assim, temo que a questão central informação desportiva versus informação política, escrita de lazer versus escrita incisiva, tenha ficado algo obscura.
Procurando facilitar o entendimento, segue-se o meu ponto de vista, explicado da maneira mais simples que consegui. Ao princípio era o verbo. Pois era. E o sexo também era então intencionalmente reprodutivo. A sua dimensão prazerosa, recreativa portanto, só existia para provocar atracção, o agora célebre sex-appeal, ou apelo carnal, visceral, que se foi ampliando até aos nossos dias. Com o andar dos tempos, essa versão primitiva, praticamente idêntica à das outras espécies menos evoluídas, foi-se modificando. Acentuou-se cada vez mais o objectivo recreativo, em detrimento da reprodução. Até que, com o advento dos métodos contraceptivos modernos e a concomitante  liberalização dos costumes, o sexo tornou-se quase exclusivamente uma actividade recreativa, reprodutivo  só excepcionalmente e de forma deliberada.




No meu entendimento, outro tanto se passa com a escrita e com a informação. Primitivamente reprodutivas de ideias, de padrões de vida, utilitárias por assim dizer, transformaram-se com a natural evolução em algo recreativo. Simples passatempo para distrair, ajudando a abstrair-se dos problemas cada vez mais graves e complexos das nossas sociedades.
É aí que estamos, na informação recreativa. Desportiva sobretudo, mas também mundana, musical e artística no sentido largo. Que, embora possa também trazer-nos a realidade objectiva, faculta regra geral, pela escrita, pelo som ou pela imagem, momentos de sonho, de bem estar,  de alegre esquecimento das vicissitudes diversas do nosso quotidiano.
Nenhuma consequência grave resultará desse voluntário alheamento, antes pelo contrário. Desde que cada qual dele  tenha consciência. Infelizmente, outro tanto não posso dizer quando cada alienado se julga no bom caminho, apesar da triste realidade todos os dias demonstrar o contrário.
Não há piores cegos que aqueles que não querem ver.
É isto. E não é nada pouco, pelas tristes consequências que tem.
Aplicado ao caso tomarense, pode resumir-se em poucas palavras. Assim: Muitos são os que pensam que estamos cada vez pior, mas poucos os que estão dispostos a fazer algo concreto para melhorar a situação. E sem o indispensável apoio popular, mais vale dedicar-se à leitura da imprensa desportiva. Ou  do coração, por exemplo.

Sem comentários:

Enviar um comentário