Coro alto manuelino do Convento de Cristo, cujo fecho do adarve sul, destruído pelo tornado, está por reparar há mais de 10 anos. Mesmo com fundos europeus. Exige mão de obra especializada...
Bazuca europeia - autarquia - Convento de Cristo
Os estragos indirectos da bazuca europeia
Creio ser dos poucos escribas públicos ainda activos que já dispararam granadas-foguete de bazuca. Uma arma anticarro blindado, usada como arma de grande destruição pessoal em África, cujos movimentos nacionalistas não tinham veículos blindados. Daí a minha estranheza: Quem decidiu apelidar de bazuca -arma de destruição- fundos europeus destinados à reconstrução da economia? Se calhar o nosso Costa, com o seu habitual sentido de oportunidade, tipo optimismo irritante. Quem nunca "fez a tropa", como o ministro da defesa, tem destas coisas. E outras, bem mais graves ainda.
Adequada ou não, a designação aí está. Segundo o Público, citado pelo Tomar na rede, vão ser gastos no Convento de Cristo mais quatro milhões da bazuca europeia, aos quais há que juntar 1,1 milhões atribuídos anteriormente. Tanto dinheiro para quê?
Segundo a directora do monumento, ainda estão a estudar a melhor maneira de afectar tal verba. Já se sabe no entanto que o milhão anterior se destina a lavar a cara à Janela do capítulo e às fachadas manuelinas. Trata-se de uma asneira monumental, mas que se há-de fazer? "É fácil, é barato e dá milhões", conforme já se escreveu nestas colunas em tempo oportuno, todavia sem qualquer resultado prático. Só para desabafar. E para memória futura. Poder dizer mais tarde "Eu bem vos avisei!", é algo que não tem preço.
Agora com os quatro milhões, vamos pelo mesmo caminho, ou quase. Andreia Galvão, directora do monumento há mais de 10 anos, fala de nova entrada pelos Paços do infante, com possibilidade de um novo circuito de visita, mas aqui equivoca-se ao mencionar a alcáçova, posto que Paços do Infante, Alcáçova e Convento Velho são designações diferentes para um mesmo espaço. No qual, a única provável atracção será o varandim da muralha, no qual cabem apenas 5-6 pessoas de cada vez. E cujo acesso só pode ser feito em fila única, de ida ou de regresso. Não há plataforma para mais. A senhora directora já lá foi ver? Olhe que o amplo panorama da cidade e arredores vale bem a pena.
De qualquer forma, a entrada mais prática para os visitantes do Convento de Cristo terá de ser a antiga entrada do Hospital Militar. Só não se sabe ainda quando. Noutra ocasião se explicará porquê.
Estes desencontros e incoerências resultam de uma situação que, não sendo única no país, se tornou assaz rara devido ao comportamento muito próprio de duas responsáveis. Com efeito, embora situado a menos de quinhentos metros dos Paços do Concelho, o Convento pertence ao governo, o qual, via DGPC, aqui coloca uma ou um director, com a categoria de chefe de divisão, quando o de Mafra, por exemplo, é director de serviços. Longe de Lisboa, longe de quem manda...
Temos assim de facto, e em termos de funcionamento quotidiano, o condado tomarense e, dentro dele mas independente, o baronato do Convento. Uma condessa eleita e uma baronesa nomeada por concurso. Aquela limita-se a almejar alcançar uma parte das verbas provenientes das entradas no monumento. Mais um milhão de euros anual para uns subsídios e umas festarolas à borla.
Esta, por sua vez, considera que o Convento carece cada vez mais de acessos capazes, estacionamento suficiente e seguro, bem como instalações sanitárias e adequada sinalização exterior, mas sabe que tudo isso é da alçada da srª condessa.
E temos o caldo entornado. Com maneiras hipócritas. Uma não manda planear ou projectar, porque não tem a intenção de mandar fazer. "Quem come a carne que roa também os ossos". Quem cobra as entradas, que pague as infraestruturas de acolhimento.
Enquanto isto, a outra vai improvisando conforme pode, porém sem avançar com a decisão que se impõe: Sugerir à DGPC que seria melhor entregar o monumento à autarquia, ou a uma empresa municipal, tipo Parques de Sintra - Monte da Lua, susceptível de facultar melhor gestão operacional.
Porque, como estamos, nunca mais vamos conseguir sair do atoleiro. Vamos, isso sim, estoirando fundos europeus sem qualquer vantagem, para além do restauro e manutenção do monumento, por vezes com erros monumentais. Como a prevista lavagem da janela do capítulo, por exemplo, que a vai degradar e desproteger para sempre. É um dos inconvenientes dos fundos europeus. Mesmo quando manifestamente mal aplicados, dada a sua natureza, nunca provocam queixas. E assim vamos andando, até ao estoiro final.
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