Refugiados venezuelanos a caminho de Bela Vista, Roraima, Brasil
Política local - comparações - população - emigração
Muito diferentes, todavia...
Conforme já referido em adenda num escrito anterior (ler texto Aleluia! Aleluia! Aleluia!), houve no passado domingo eleições autárquicas e estaduais na Venezuela. Desta vez, graças aos esforços conjuntos dos Estados Unidos e da União Europeia, a oposição voltou a apresentar candidatos, após o governo ter consentido finalmente na fiscalização internacional do acto eleitoral. Apesar disso, os candidatos do poder obtiveram uma vitória esmagadora. Venceram em 20 dos 23 estados. A abstenção chegou aos 58,5%.
É claro que Tomar nada tem a ver com a Venezuela, excepto duas curiosas coincidências que até podem não ser únicas: Lá os detentores do poder também se intitulam socialistas, (PSUV - Partido Socialista Unificado de Venezuela), e também chegaram ao poder por via eleitoral. Quanto ao resto, ou quase, tudo separa o país sul americano da cidade nabantina.
Resguardados pelo euro e pelos fundos europeus, em Tomar não existe a miséria que infelizmente grassa em toda a Venezuela. Para se ter uma ideia do descalabro económico naquelas paragens, segundo a enviada especial do jornal Le Monde, agora que o governo Maduro, forçado pela penúria, foi levado a liberalizar o câmbio e o comércio, um trabalhador médio ganha o equivalente em bolívares a 3 dólares por mês e um professor universitário a 10 dólares mensais.
Não surpreende por isso que, desde a chegada dos chavistas bolivarianos ao poder, há 22 anos, já tenham fugido do país, segundo as estimativas do comité da ONU para os refugiados, cerca de 5 milhões de venezuelanos. A maioria fugiu para a Colômbia. Mas o Brasil também acolheu centenas de milhares, uma parte dos quais continuam a acampar nas ruas de Bela Vista, capital do estado brasileiro de Roraima, um dos menos desenvolvidos do país.
Aqui chegados, e tendo sempre presente que a situação em Tomar não é nada parecida com a da Venezuela, embora lá o poder também seja socialista e referendado por eleições, comparando o caso dos refugiados ou emigrantes, constata-se que abandonaram aquele país nos últimos vinte anos cerca de 5 milhões.
Curiosamente, ou talvez não, em Tomar também emigraram 4.500 eleitores inscritos desde 2001. O que, tendo em conta a população total de 32 milhões na Venezuela e o corpo eleitoral de 33 mil inscritos em Tomar, acaba por dar um resultado bastante semelhante. Da Venezuela, empurrados pela fome e outras carências, saíram os tais cerca de 5 milhões, ou seja 5.000 de cada 32.000 habitantes, nos últimos 20 anos. De Tomar foram-se, por causas que ainda falta apurar, segundo os dados do MAI, 4.520 dos 33.000 mil eleitores inscritos, durante o mesmo período. Temos assim que na Venezuela abandonaram o país um em cada 6 habitantes (arredondado). Já em Tomar a proporção é de um emigrante por cada 7 eleitores inscritos (arredondado).
No caso de Tomar, não terá sido de certeza por causa da fome ou da penúria de bens essenciais, mas algo os deve decerto ter influenciado, pois nada acontece na vida por mero acaso. Tendo em conta que, de caordo com os dados disponíveis, a hemorragia demográfica se acentuou a partir de 2013, o que terá sido?
Dada a embaraçosa semelhança, em vez de nos indignarmos uns com os outros, (nomeadamente com o autor destas linhas, que podia muito bem estar calado), era capaz de ser melhor criar, na AM ou fora dela, um grupo de trabalho, sem antolhos nem açaimos, para tentar apurar as causas da emigração tomarense desde 2001. Isto porque, como disse há mais de dois séculos o Lavoisier, "as mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos".
Já sabemos que o efeito foi o mesmo, tanto na Venezuela como em Tomar. As pessoas foram-se. Fugiram. E sabemos igualmente que as causas não foram as mesmas, nem coisa parecida. Mas é bem capaz de haver mesmo assim alguns aspectos comuns. Que tal tentar apurar quais, doa a quem doer, para depois procurar remediar?
Se continuarmos a anunciar medidas contra a desertificação, sem antes conhecer as causas do fenómeno, ou a meter a cabeça na areia, como os avestruzes, não vamos longe. Excepto os que entretanto resolverem fugir também.
Na Venezuela é que há socialismo, em Tomar não, já aqui expliquei que o PS não é socialista. A malta também foge de Tomar por causa da fome, não há trabalho não qualificado e nem toda a gente leva jeito para trabalhar em Turismo ou nas tecnologias de informação!!!! Quem não for qualificado, como é o meu caso, não consegue ganhar o pão em Tomar. Faltam fábricas... Eu já ouvi os políticos tomarenses a dizerem que querem o que interessa para Tomar é trabalho qualificado, aqueles que pagam bem, mas esquecem-se que uma casa se começa a construir pelos alicerces e não pelo telhado. E não vislumbro melhorias. O PS vai voltar a ganhar, resta saber se com maioria absoluta ou não. Os portugueses não querem saber da economia e do crescimento económico...
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