sábado, 13 de novembro de 2021

 


Economia política local - Subsídios - Valor acrescentado

A ILUSÃO DOS NEÓFITOS SOCIALISTAS LOCAIS

Está anunciada mais uma campanha de compra de votos. Vamos ter mais uma edição de "Tomar natal é no comércio local", entre 17 de Novembro e 31 de Dezembro:
https://radiohertz.pt/tomar-esta-de-volta-a-iniciativa-tomar-natal-e-no-comercio-local-populacao-pode-comprar-cartoes-de-desconto-por-metade-do-preco-e-u
Trata-se de mais uma injecção autárquica, de 100 mil euros, na economia local. Coisa pouca. As esmolas nunca são suficientes. Neste caso, mais ou menos 2,5 euros por habitante. Como mais ou menos metade da população não paga IRS, por não ter rendimento para isso, a autarquia vai distribuir pelos comerciantes 5 euros por contribuinte de IRS. Nada mau! Vamos todos, caros irmãos pagadores de IRS, ajudar as senhorecas do burgo a pagar as prendas de natal. Quer queiramos ou não.
Justificação para tal benesse? Temos duas versões. A que parece mais plausível é a compra de votos para Janeiro. Mas a vereadora da cultura tem naturalmente outra explicação. Trata-se de repetir uma iniciativa "cujo sucesso foi significativo e levou mesmo à sua replicação noutros pontos do país."
Nunca ninguém terá dito à senhora que oferecer subsídios, comida, bebida ou divertimento, é sempre um sucesso garantido? O problema é que o dinheiro dos impostos de todos nós pagantes, mesmo sendo fácil para quem o desperdiça, não é elástico. É claro que a eleita até estará convencida, tal como os seus camaradas do executivo, da bondade da sua iniciativa. Mas está enganada e a ser vítima da sua manifesta iliteracia em termos de macro-economia, ou mais prosaicamente em economia política. Como se passa a tentar demonstrar
O que faz progredir, crescer, avançar um país,  uma cidade , ou uma empresa, é a criação de riqueza. Mais-valia ou valor acrescentado, para os economistas. Será que a tal iniciativa municipal vai criar valor acrescentado? Não se vê como. A Câmara nunca mais vai recuperar os 100 mil euros investidos, quanto mais agora algum valor acrescentado. Ah mas vêm mais visitantes, os comerciantes vão pagar mais impostos... Balelas. Tretas. Há décadas que nos andam a vender isso, e tanto o concelho como a cidade continuam a mirrar. E o pessoal a calçar os patins. 
Na verdade, tudo aponta no mesmo sentido: a única mais valia que interessa à maioria PS local são os votos dos comerciantes e dos consumidores beneficiários, neste caso  dos vales de compras, em Janeiro próximo.
Temos outro exemplo prático, a manejar com pinças por se tratar da idolatrada Festa dos Tabuleiros. Se fosse gerida em moldes europeus, respeitando integralmente a tradição, mas procurando criar valor acrescentado, haveria pelo menos duas vantagens. Por um lado teríamos recursos para a festa anual. Por outro, a nossa Festa grande cresceria muito em termos económicos e em reputação, pois passaria a fazer parte dos cartazes anuais do turismo nacional e internacional.
Uma vez que os Tabuleiros continuam sendo governados como sempre foram, ou seja conforme convém a alguns, só há festa de quatro em quatro anos. A autarquia gasta cada vez mais dinheiro (600 mil euros sem retorno em 2019, o que corresponde a 30 euros por cada contribuinte de IRS), as portadoras de tabuleiros e outros participantes não são correctamente retribuídos, como deviam ser, e não há criação directa de valor acrescentado. Donde a necessidade de um intervalo de 4 anos, para a Câmara poder recuperar o fôlego financeiro. O problema é que uma festa quadrienal não conta para nada, na área do turismo internacional. E sem isso...
Mas quem manda, ou julga que manda, continua contente na sua cegueira económica. O que interessa é caçar votos, e para isso nada melhor que manter os cidadãos tão dependentes quanto possível do poder local.
A  cidade e o concelho definham? A população emigra? O comércio local está em crise? O turismo já conheceu melhores dias? Há mais de 10 anos que não se edifica qualquer edifício de apartamentos no concelho? Há prédios por acabar em plena cidade, nas traseiras do Pavilhão Jácome Ratton? 
Paciência! É o preço que temos de pagar, para sustentar a nossa fraca casta política. Cuja preparação académica nunca lhes permitiu entender bem os matizes entre gasto, despesa, investimento, lucro, mais valia, valor acrescentado, criação de riqueza.
É a consequência natural da notória falta de eficácia e de adequação do nosso sistema de ensino. O país nunca preparou capazmente os seus filhos, consoante as suas capacidades, e agora vamos sofrendo as consequências.
Não sabem, não pedem, nem aceitam ajuda. Para que ninguém possa constatar directamente a miséria intelectual que por aí vai.
Não é sempre o caso? Há excepções? Certamente. Mas é o que parece. E em política aquilo que parece é, dizia o Botas. Que foi um ditador, mas não era néscio. E sabia de finanças...

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