quinta-feira, 25 de novembro de 2021

 


Autarquia - fuga da população - alojamento turístico

Porque emigram os nabantinos?

Os leitores puderam constatar, no texto anterior, a manifesta boa vontade da autarquia para ajudar os tomarenses que a ela recorrem, mas são críticos da actual maioria PS. Que rica gestão municipal, que nem sequer se preocupa em cumprir as leis do país. Como se Tomar já fosse uma daquelas repúblicas das bananas. E se calhar até já é. Mas adiante.
Perante a recusa camarária no que concerne ao fornecimento de informações técnicas,  e dada a penúria do IPT nesse âmbito, resta a quem procura estudar os problemas locais ligados ao turismo recorrer a outras fontes. Foi o que se tentou fazer.
Uma vez que ninguém parece saber (ou não querem que se saiba?) quantos estabelecimentos de alojamento turístico local existem no concelho de Tomar, foi-se aos sites de reservas hoteleiras (Airbnb, Booking.com, Trivago. Hotelhunter, etc), tendo-se optado finalmente pelo Booking.com, porque digitando o nome da localidade, indica logo à cabeça "encontrámos X acomodações". Eis alguns resultados, com o respectivo total de eleitores inscritos em 2021, para comparação:

 ESTABELECIMENTOS DE ALOJAMENTO LOCAL EM NOVEMBRO DE 2021
(Não inclui hotéis, nem residenciais)

  Localidade                     Estabelecimentos              Eleitores inscritos em 2021

1 - Abrantes................................21...........................................31.591
2 - Alcobaça...............................39...........................................48.605
3 - Covilhã.................................42...........................................44.115
4 - Leiria....................................43.........................................113.419
5 - Ourém..................................11..........................................40.870
6 - Santarém............................30...........................................50.899
7 - TOMAR..............................72...........................................33.892
8 - Torres Novas........................8..........................................30.795

Fontes: MAI, resultados eleitorais 2021
             Booking.com alojamento local

Contas feitas, a presidente da câmara de Tomar é capaz de ter razão, mesmo trabalhando sem suporte técnico adequado. ´É provável haver em Tomar falta de alojamento residencial a preços moderados na área urbana, uma vez que pelo menos 72 edifícios antes residenciais foram entretanto desviados para o mercado turístico. Ou seja, de acordo com as normas internacionais, 72 x 5 camas = 360 camas. Numa terra pequena pode fazer toda a diferença.
Podendo parecer que não aos leigos, trata-se de uma enormidade. Quase uma anomalia. Como se explica que Tomar, com menos de 35 mil eleitores, tenha praticamente o dobro dos alojamentos turísticos não hoteleiros de qualquer outra cidade da região? Com população comparável, Abrantes e Torres Novas têm, respectivamente, três e nove vezes menos. Porquê?
Tenho uma resposta, que me abstenho de revelar por enquanto, para não criar atritos inoportunos. Que fiquem no entanto cientes os eventuais prevaricadores de que sei aquilo que escrevo, baseado em documentos e em factos verificáveis, como os que aqui se publicam. Mesmo sem a ajuda da desobediente autarquia.
Qual o principal problema resultante de tal estado de coisas, que os próprios eleitos e funcionários locais parecem desconhecer? Em todas as cidades com elevada clientela turística, as autoridades municipais limitam, e proíbem mesmo, a existência de novos alojamentos locais. No caso específico de Paris e Barcelona, por exemplo, só autorizam novas unidades de alojamento local por parte de investidores, desde que os mesmos disponibilizem, em simultâneo, para fins residenciais, vez e meia a superfície de alojamento turístico.  (Exemplo: Para autorizar um alojamento local, na área urbana, com 50 metros quadrados, a autarquia parisiense exige outros 75 metros quadrados residenciais, do mesmo proprietário e no mesmo bairro). Em Tomar ainda é  à vontade do freguês e a presidente parece estar convencida de que a futura solução é o alojamento social. A tal habitação a custos controlados, forçosamente de qualidade mediana, devido ao preço, que traz consigo rendeiros assistidos. Não me consta que a parisiense Hidalgo, ou a catalã Colau, andem de olhos fechados, ou decidam em cima do joelho. E se optaram pela limitação do AL (alojamento local), lá terão as suas razões.
Uma nota final, para os eventuais "adeptos da equipa", que avancem com argumentação do tipo "há muito alojamento local em Tomar, mas é por causa do Convento, Património da humanidade", etc.
Simples conversa da treta. Alcobaça também tem um monumento Património da humanidade da UNESCO (até mais visitado que o de Tomar, conforme dados da DGPC), e dispõe de apenas 39 estabelecimentos de alojamento local, contra 72 em Tomar. Haverá portanto outras razões que a razão desconhece. Afinal, porque não forneceu a autarquia os dados solicitados, conforme é sua obrigação, nos termos da Lei 26/2016, artigos 5º e  15º ? Tem algo a esconder? É o que parece.
Façam o favor de continuar a governar "às cegas", subtilmente influenciados por alguns interesseiros quadros superiores da autarquia, (que avançam sempre "argumentos técnicos" e "condicionamentos legais"), mas depois não se lastimem.

5 comentários:

  1. Você não pode comparar Tomar com Paris ou Barcelona!!! Eu também me espanto com o número de camas disponíveis em Tomar e esse número não pára, a única explicação que eu encontro é que a fome de investimento é tanta que aceitam tudo!!!! E trata-se de um investimento que traz pouco emprego, a maioria desses alojamentos locais tem como funcionários os donos, familiares e pouco mais. Até a entrada é feita com um código, não há recepcionista. E ainda por cima é um investimento feito com uma parte apoiada com dinheiros europeus, diria a nossa presidente: "E muito bem", mas eu acho estranho, para mim um investimento deveria de ser realizado com 100% de capitais próprios até para o investidor sentir aquela adrenalina, aquele buzz, entregar-se a 100% ao negócio para não falhar. Ás vezes a malta queixa-se porque raio é que há de subsidiar as obras em Lisboa, dizem que estão lá na outra ponta do país e nunca irão usufruir dessas infraestruturas e eu também me pergunto porque raio é que hei de contribuir para a riqueza de outra pessoa???!!!!

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    1. Parece-me claro que a primeira frase do seu comentário, de puro bom senso, é apenas retórica, conterrâneo Helder. A prova que podia e posso comparar, é que já o procurei fazer, relativizando. Tendo em conta as dimensões respectivas. Paris e Barcelona são alguns milhões de habitantes. Tomar são cada vez menos milhares de habitantes.
      Quando marquei no Booking.com alojamento local Paris e depois Barcelona, apareceram-me sucessivamente 4.170 e 2.380 acomodações. Um bocadito mais que em Tomar. Nisso tem razão Helder. É muito arriscado comparar elefantes com uma formiga.

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  2. Não sei se a sua análise dos dados é a melhor abordagem ou não, mas do que vejo é a ÚNICA, mais ninguém parece quer saber...
    Por isso os meus parabéns, e se quiser dados oficiais, estão aqui:
    https://dadosabertos.turismodeportugal.pt/
    Pode ver no site (tabela ou mapa) ou melhor descarregar em CSV e depois importar para o Excel/Sheets/etc e filtrar como quiser
    ("Dados Abertos", coisa que ao contrário de ciclovias e afins tende a não querer entrar na moda, vá-se lá saber porquê..)

    AL (registados TdP):
    Abrantes 60
    Alcobaça 887 (maior parte , praias)
    Leiria 137
    Ourém 229
    Santarém 90
    Tomar 184
    Torres Novas 20

    AL, em Tomar por freguesia(registados TdP):
    Asseiceira 2
    Carregueiros 4
    Olalhas 2
    Paialvo 1
    Sabacheira 4
    S Pedro 13
    Alem R/Pedreira 7
    Casais 3
    Madalena 12
    Serra 33
    SJ SMO 103

    Por exemplo, tem tb este indicador - Atividades Turisticas (registados TdP):
    Abrantes 20
    Alcobaça 30
    Leiria 32
    Ourém 33
    Santarém 17
    Tomar 45
    Torres Novas 13

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    1. Agradeço o seu comentário, os dados nele contidos e a amável referência.
      Em relação aos totais que indica, sendo o mercado turístico aquilo que é, creio que não mencionamos referimos bem a mesma coisa. Eu usei os dados de um site de reserva hoteleira, o qual só indica os estabelecimentos que continuam abertos. Os números que tem a bondade de indicar parecem ser um conjunto de estabelecimentos ainda a funcionar, e de outros já fechados, cujos registos não foram actualizados. O costume.
      Para lhe dar um exemplo flagrante, ainda o mês passado o Booking.com indicava 81 acomodações AL em Tomar. Portanto, em pouco mais de 30 dias já desapareceram daquele site 9 estabelecimentos. E o mais que aí vem, infelizmente, pois a pandemia não perdoa.
      Continua por responder a pergunta que formulei: Porquê tanto AL em Tomar?

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    2. A resposta a sua pergunta pode estar nos dados.. estão registados o dobro dos que são efetivamente colocados "no mercado habitual", mas ainda assim podem receber subsídios, fundos, etc

      Acresce que mesmo os que estão registados no TdP (imagine-se um AL com 4 camas) pode estar a ser vendido no Booking.com com 8 camas.. enfim a entidades devem fiscalizar isso seguramente...

      Já na hotelaria, para garantir a pontuação "luxo" que alguns hoteleiros gostam de ter só-porque-sim ( 4 e 5*) é necessário ter parqueamento privativo no local ou próximo..
      E isso é possível, e o TdP aceita, por exemplo garantia de lugares em estacionamentos públicos (avenças).. havendo muitos casos destes o Zé Povinho não terá lugar para estacionar, mesmo pagando (o lugar, e os custos de exploração desses edifícios..)

      Estou curioso como será no Vila Galé que com 100 quartos precisa de mínimo 20 lugares (500m2 aprox), enfim havendo vontade tudo se consegue..

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