quinta-feira, 11 de novembro de 2021

 


Política local - PDM - Oposição

É sempre possível fazer pior ainda

A mais recente crónica de João Marques de Almeida, no Observador, tem por título "Todos querem ver a Greta", e até reproduz a letra homónima do conhecido intelectual Quim Barreiros, para reforçar o jogo de palavras. 
https://observador.pt/opiniao/todos-querem-ver-a-greta/
Em Tomar ainda não estamos aí. Embora já haja um pseudónimo "Tomar na frente", cujo titular saberá decerto que quem toma na frente são as senhoras (embora também o possam fazer noutras posições) a atracção é mais pelo abismo, pelo buraco negro em vez da fenda rosa. A tal greta.
Quando até os próprios elementos que integram a autoria do estrago estavam convencidos de que o PDM ia ser chumbado na AM, aconteceu o improvável. Graças a um raciocínio alambicado, tipo Rui Rio, os laranjas resolveram votar a favor e o documento, execrado por quase todos, passou, com uma votação tipo bloco central. E agora?
Continuando no reino da asneira, vão os laranjas garantir que não senhor. Que os socialistas nunca estiveram convencidos que o novo PDM seria rejeitado. Mas então, Anabela Freitas afastou-se previamente, Hugo Cristóvão não insistiu demasiado e toda a bancada PS se calou, porquê? Só para melhor ouvirem e ponderarem as ideias luminosas do PSD?
Teve até a sua piada ver eleitos social-democratas criticando o facto da presidente recusar o debate, quando durante  a recente campanha eleitoral ocorreu o oposto. Foi a então cabeça de lista, e agora vereadora sem pelouros, que não aceitou debater frente a frente com a candidata rosa. Amor com amor se paga.
Decerto conscientes da asneira política, resolveram os social-democratas explicar, num longo comunicado, a sua posição. O documento está bem articulado, lê-se com muito agrado, faz um diagnóstico correctíssimo, mas é um pouco tipo burro preto e cilha amarela. Ou, repetindo uma frase já bem gasta, não bate a bota com a perdigota.
https://radiohertz.pt/tomar-aprovacao-do-plano-diretor-municipal-ainda-da-que-falar-psd-que-aprovou-o-documento-deixa-claro-que-nao-aceita-que-este-pdm
Com o diagnóstico impecável feito, a conclusão lógica seria o voto contra, a rejeição do documento. E passava-se à necessidade de elaborar nova versão, com menos doenças congénitas. Pois fizeram o contrário. Votaram a favor e agora avançam com uma terapêutica, que consideram susceptível de curar as múltiplas doenças. Antes deram a entender que as maleitas eram tantas e tão graves, que o doente não ia sobreviver. Agora asseveram que afinal, com os tratamentos adequados...
Escaparam-lhes todavia alguns aspectos que não auguram nada de bom. Nem para eles, nem para a cidade, nem para o concelho. O primeiro é a premência. Se até agora a maioria socialista estava condicionada, no sentido de ter de apresentar quanto antes um PDM aprovado para aceder às verbas europeias, a partir da aprovação na AM já nada urge. 
O segundo é que, sem nenhuma obrigação pendente, quem garante que Hugo Costa vai aceitar convocar a tal sessão extraordinária da AM, para debater o PDM? Que têm os socialistas a ganhar com isso? Sarna para se coçarem?
O terceiro óbice deriva do segundo. Ainda que, mercê da boa vontade socialista, possa ocorrer o tal debate sobre o PDM na AM, quem garante que o PS vai concordar com a constituição das comissões propostas pelo PSD? Quais as vantagens para a maioria autárquica?
Quarto, e por agora derradeiro obstáculo: Caso as referidas comissões venham a ser aceites, quem proporá a respectiva composição e as subsequentes ordens de trabalhos?
Tendo em conta o usual ritmo de trabalho, que precisou de 20 anos para aprovar uma simples revisão do PDM, entretidos com debates, comissões, propostas, votações e rejeições, entretanto estaremos em 2025 e haverá eleições para novo mandato. Se nada mudar até então, é bem possível que o PS volte a eleger 4 e o PSD 3 vereadores. Não porque sejam bons, ou sequer aceitáveis. Apenas porque os tomarenses já demonstraram ser alérgicos à mudança, sendo que PS e PSD  são afinal farinha do mesmo saco. Em termos políticos, que é o que interessa neste caso, um não é grande coisa e o outro pouco vale. Salvo uma ou outra excepção.
Mas estaremos de acordo num ponto: No estado actual das coisas, não há melhor. Os mais capazes já se foram quase todos, e os restantes não estão para aborrecimentos. Deixam-se ir na corrente dominante. É a crise de vocações!

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