quarta-feira, 10 de novembro de 2021

 

Imagem Rádio Hertz, com os agradecimento de TaD3

Política local - autarquia - PDM

UNS REJEITARAM O BOM  OUTROS APROVARAM O MAU

Leu bem. Foi mesmo isso que aconteceu. Graças aos votos de gente paga com os seus e os meus impostos. Quando se sabe, e os factos demonstram, que os cidadãos -sobretudo os tomarenses- fogem de tudo o que cheira a política, como o diabo foge da cruz, (segundo dizem), devia ser curial proceder da forma mais pedagógica possível, explicando tudo, muito bem explicadinho, para tentar evitar ainda mais afastamentos deliberados dos eleitores. Mas não senhor. Fez-se exactamente o inverso.
A nível nacional, mais precisamente lisboeta, uma proposta de orçamento do Estado, que ninguém considerou má, foi rejeitada pelo conjunto da oposição, alegando as mais díspares justificações. 
Dissolvido o parlamento por causa dessa bizarria, vamos ter eleições em Janeiro, com todas as formações a sacudirem desde já a água do capote. Os culpados foram os outros. Como sempre.
Pouco tempo decorrido, em Tomar, cada vez mais um arrabalde decadente de Lisboa, ocorreu o oposto. Para desespero dos menos habituados às incongruências à nabantina, a surpresa deu-se. 
Criticada de forma severa por todas a bancadas, a nova versão dessa encrenca chamada PDM, -que levou 20 anos para ser elaborada-, foi aprovada com os votos do bloco central PS-PSD-CDS. Votaram contra as outras formações, que na AR também reprovaram o orçamento, acompanhadas pelo independente da Serra-Junceira.
O jornalista da Hertz refere que, apesar da votação favorável, "não faltaram críticas ao documento e ao futuro que este PDM permite". É bem verdade. Todavia, o que sobrou em matéria de crítica, faltou nitidamente em termos de concordância entre o que disseram e o que depois votaram.
Qual a justificação para semelhante incoerência? Boa pergunta, para a qual não tenho resposta cabal. Terá sido o chamado voto útil, tornado inevitável pelas circunstâncias. Contudo, os intervenientes que votaram a favor nunca foram de grandes esclarecimentos, e não é certamente desta vez que vão mudar. Aos pagantes nabantinos, ainda interessados apesar de tudo por estas saladas com todos, resta aguardar melhores dias. Quanto mais mudamos, mais estamos na mesma. Bem dizia o Lampeduza, "é preciso ir mudando qualquer coisinha, para tudo poder continuar na mesma."
Assim de longe, de muito longe mesmo, a 7 hortas de avião de Lisboa, o que parece é que em Tomar continuamos no tempo do cego e do moço. Até 2013, o cego era o PSD e o moço o PS. Daí para cá, inverteram-se os papéis. Com a notável ajuda da metade do eleitorado que ainda se desloca para votar.
Temos assim a nova versão de um PDM do tempo de Pedro Marques - PS, que nunca passou de um trambolho, por manifesta incapacidade dos vários intervenientes aquando do trabalho inicial. O qual, ao contrário do conhecido verso da Sophia sobre o 25 de Abril, não foi inteiro nem limpo. Pois se a empresa encarregada da respectiva elaboração, fortemente conotada com determinada formação política, (que não é essa em que está a pensar), colocou logo à disposição do sr. presidente da câmara um imponente Volvo azul para todo o serviço, é preciso acrescentar mais?
Quase 40 anos mais tarde, o PSD insiste em coadjuvar os socialistas a nível local.
Não se pode dizer que iniciam bem o novo mandato. E o povo começa a dar sinais de estar farto de tanta asneira.
Por agora ainda são só 50% de abstenção, comentários adversos, grafitos, vidros partidos, sinalização torcida ou arrancada e sanitários maltratados. Até quando se ficam por aí? Convém ir olhando para o que se passa por essa Europa fora. Antes que seja demasiado tarde. Tratem de saber, por exemplo, se entretanto já aumentou ou não a venda de coletes amarelos...

3 comentários:

  1. Bom dia
    Após leitura atenta do seu artigo de opinião, e atento ao seguinte trecho: "A nível nacional, mais precisamente lisboeta, uma proposta de orçamento do Estado, que ninguém considerou má, foi rejeitada pelo conjunto da oposição, alegando as mais díspares justificações."
    Dr. Rebelo permita-me a minha discordância acerca desta afirmação.
    Houve variadíssimas opiniões de que o orçamento é mau...
    Pessoalmente, o orçamento é bom para quem vive da subsidio-dependência...
    Para as empresas e para a economia em geral é um mau orçamento, sem qualquer tipo de dúvida.
    Por último não estou assim tão certo da culpa do orçamento ter caído...nem tudo o que parece é...
    Abraço

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    1. Agradeço o seu comentário, útil para melhor entendimento do texto inicial. A sua discordância é algo normal e saudável em democracia, mormente quando educada e fundamentada, como é o caso. Pena que em Tomar os provisórios detentores do poder ainda se sintam ofendidos com opiniões desfavoráveis.
      Indo ao âmago do tema, terá decerto notado que houve na AR várias críticas de pormenor, mas nenhuma global. Donde, para a maioria parlamentar, o orçamento era bom, com alguns detalhes menos conseguidos. Prova disso, e confirmando o que escreve sobre a subsidiodependência, tanto O BE como a CDU tiveram o cuidado de apresentar a Costa algumas propostas muito afastadas do orçamento, que o primeiro-ministro foi forçado a recusar, como já antes se sabia, em virtude das directivas europeias. Se recorreram a essa artimanha, terá sido porque o orçamento até lhes agradava, tolhendo porém os seus impulsos estratégicos.

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  2. Do que me apercebi, arrisco-me a dizer que a MAIORIA dos representantes chamados a votar este PDM não o conhecem de TODO, e consequentemente não alcançam os problemas e melhorias que têm (a nível macro, do concelho).
    Mas quem não sabe pergunta e estuda o assunto - podiam e deviam tê-lo feito, em especial nos últimos anos após a CMT ter apresentado a proposta final em dez 2016.

    Seja mau ou bom, é difícil ajuizar porque persiste a falta de transparência (para os representantes e cidadãos em geral).
    No site da CMT, a informação vai-e-vem, como o acesso ao SIG e revisão das peças após concertação).
    Américo Pereira disse-o também e questionou nestes dias, sem ter obtido resposta: "foram omitidas 81 das 434 participações da discussão pública, por não terem conteúdo segundo CMT, qual a razão de não serem apresentadas e publicamente se poder ajuizar se são válidas ou não?" .
    Subscrevo, e também fiz esse pedido de explicação à CMT, e em particular porque é que no relatório de ponderação de Junho 2021 foi omitida identificação dos participantes na discussão PÚBLICA e porque a transcrição para as fichas de participação não foi completa e sem os anexos da participação (fotos, por exemplo)?
    A CMT poderia ter-me respondido que é culpa do RGPD (o que não faz sentido, por ser participação pública, basta ver outros processos recentes de PDM's..), só que não, não obtive resposta.

    Não se entende porque razão as participações públicas tal como foram recebidas, incluindo seus anexos não foram apensas ao relatório de ponderação, nem estão disponíveis online (obviamente mantendo nome do participante seja a título individual, colectivo ou empresa; e ocultando dados pessoais).

    Também me faz imensa confusão a existência de tantos Planos de Pormenor "mortos-vivos" que foram feitos desde o final do séc. XX até 2011 (ver em http://www.cm-tomar.pt/index.php/pt/educar/planos-ordenamento-territorio#planos-de-pormenor , infelizmente apenas está disponível parte da documentação desses planos, que deveria estar toda publicada).

    PP Açude de Pedra: 2011

    PP Avessadas: 2010, em alt

    PP Flecheiro/mercado: 2007

    PP Pegões: 2011

    PP Núcleo Histórico: 1996

    PP Vila Nova: 2011

    Se alguns destes planos já estão ultrapassados seja por viabilidade económica, ou outras.. porque não são extintos?
    O caso dos Pegões - nesse plano estão previstas construções dentro da zona de proteção do Aqueduto, isso não é ilegal?

    Nota final: uma das "autoras" da parte técnica deste plano do IST/FUNDEC é agora a nova vereadora do Urbanismo e Anticorrupção da CML..
    Do que vejo o vector principal que esta equipa de Lisboa impôs no PDM foi a definição dos núcleos residenciais e a delimitação de crescimento urbanístico nas aldeias. Se isso fará com que o território extra-cidade definhe e acabe por voltar aos matagais do século XVIII é algo que os representantes políticos que participaram neste processo terão que explicar e confirmar se deram essas diretivas.
    Mas também é uma evidência que não se pode continuar a construir em qualquer lado, quando não existem recursos (técnicos e humanos, já que dinheiro até haverá da UE) para fazer chegar redes de água, esgotos e comunicações às casas que já existem e que ainda não estão devolutas

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