sexta-feira, 20 de abril de 2018

Uma jornalista maltesa assassinada

O caso foi muito pouco moticiado em Portugal. Só agora, com a constituição de uma cadeia de 18 órgãos de informação internacionais, tendo como objectivo principal que o assassinato premeditado de uma jornalista não fique impune, se começam a encontrar mais referências. Por isso, pareceu importante reproduzir uma parte do editorial do LE MONDE, de 17/04/2018, subscrito pelo seu director, Jérôme Fenoglio.
Felizmente, no nosso país de brandos costumes, não há notícia de profissionais da informação assassinados. Convém todavia realçar que é cada vez mais difícil ousar escrever o que se pensa, dando a cara e o peito às balas, porque regra geral tanto os detentores transitórios do poder como os seus serventuários mais caninos se julgam acima da crítica, simplesmente porque têm o condão da infalilibilidade. Nunca cometem erros. O autor destas garatujas também gostava de ser assim.

Editorial do LE MONDE

"Daphne Caruana Galizia foi assassinada a 16 de Outubro de 2017. Uma bomba explodiu debaixo do assento do seu carro de aluguer. Um vizinho ouviu-a gritar. Morreu queimada. Esta jornalista maltesa de investigação, perseguia desde há anos a corrupção na ilha de Malta, e não hesitara em atacar as mais altas autoridades do seu país.
Daphne lutava com raiva controlada, num blogue bastante lido, no qual nem sempre respeitava meticulosamente as regras do jornalismo. Tinha pendentes várias queixas contra si por difamação, mas abriu pistas sérias de inquérito, designadamente a implicação de próximos do primeiro ministro maltês nos "Panamá papers", ou a conta offshore, na ilha de Jersey,  do chefe da oposição. Daphne era corajosa, polémica e muito pessimista. Tinha medo de sair de casa e escreveu, pouco antes de morrer, uma última constatação: "Doravante há vigaristas por todo o lado. A situação é desesperada."
18 órgãos de informação internacionais resolveram agrupar as suas capacidades, visando impedir que a morte de Daphne Caruana fique por esclarecer. É inaceitável que uma jornalista tenha sido atacada fora dos tribunais e das regras do direito, conhecidas e acatadas por todos.
65 jornalistas foram mortos no mundo em 2017, segundo a contagem de Reporters sans frontières. 27 tombaram em zonas de guerra. 39 foram friamente assassinados, entre os quais Daphne Caruana."

Jerôme Fénoglio, Le Monde online, 17/04/2018
Tradução e adaptação de António Rebelo UPARISVIII

Adenda de Tomar a dianteira 3

Na muito modesta medida das suas possibilidades, o autor destas linhas, que não é jornalista nem a tal pretende, tem procurado denunciar, em tom cordato e  neutro, o que lhe parece que não está certo, para um leitorado manifestamente pouco preocupado com a liberdade de informação ou o contraditório. Continuam agarrados ao estilo no qual foram educados -a chamada voz do dono, num contexto político tipo quero posso e mando. Daqui têm resultado alguns mal entendidos, felizmente sem consequências de maior. Apenas amuos, evidente falta de estofo político e algumas tentativas de assassinato de carácter, crê-se que sem grande convicção ou eficácia.
Ao contrário da malograda Daphne Caruana, o administrador deste blogue ainda está vivo. Porém, infelizmente e tal como ela, já está "queimado" por aqueles que se julgam acima do comum, quando a situação triste é aquela a que todos assistimos dia após dia...

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