quarta-feira, 18 de abril de 2018

Duas realidades em rotas de perdição

Parecem-me duas realidades paralelas, ambas em rotas de perdição. Falo da realidade autárquica tomarense, com todos os seus satélites e outros dependentes, e da realidade dos outros, a chamada sociedade civil. Conquanto estreitamente imbricadas, percebe-se que na verdade estão separadas por um fosso, cada vez mais largo e profundo. Ambas em rota de perdição, por manifesta inviabilidade.
Vivem no mesmo contexto geográfico e político, falam grosso modo a mesma língua, vestem-se de forma semelhante, porém têm valores cada vez mais díspares. O principal é a noção de tempo, com todas as suas implicações. Para os integrantes da realidade autárquica, um ano de espera corresponde a uma semana, ou nem isso. Têm o vencimento garantido ao fim do mês. Para os outros, a sacrificada e explorada sociedade civil, que não vive do Estado, uma semana é um ano, porque têm de deitar contas à vida. Cada fim de mês é um problema.
Sem  concorrência, graças ao monopólio que garante também clientela e receitas fixas; sem patrões a quem imperativamente prestar contas; eleitos e funcionários superiores  em geral usam e abusam da situação, arranjando sucessivamente as desculpas e as argumentações mais alambicadas, para tentar justificar aquilo que a população começa a perceber cada vez melhor, mas não pode dizer, porque o seguro morreu de velho: No concelho de Tomar, a realidade autárquica só atrapalha, e atrapalha cada vez mais.
Contrariando de antemão os instalados que vão alegar má-língua, crítica sistemática, e mais não sei quê, não sei quantos, seguem três exemplos actuais, verificáveis por quem queira e tenha capacidade para tanto:


Exemplo 1

O inferno de Palhavã

Os habitantes desta localidade, da área urbana de Santa Maria dos Olivais, lamentam-se amargamente.  A via que atravessa a povoação está intransitável há mais de um ano e já nem merece a designação de rua ou estrada, tal o desconforto, tanto para habitantes como para os simples atravessantes. O nosso colega tomar na rede faculta um retrato completo da situação, que pode consultar aqui.
Pois apesar de tanta miséria estrutural, os defensores da realidade autárquica que temos, em vez de providenciarem com urgência umas carradas de serrisca ou de tout venant, para remediar provisoriamente a situação, tapando os buracos, já conseguiram arranjar três bodes expiatórios  - O Tribunal de contas, a EDP e os SMAS, conforme se pode ler no tomar na rede nos comentários anónimos, mas de origem conhecida. O executivo camarário não tem culpa nenhuma, está claro. O costume. Entretanto a desgraça continua.

Exemplo 2

O PDM e a revisão que nunca mais acaba

Na reunião do passado dia 2 do corrente mês de Abril, os vereadores do PSD apresentaram uma declaração de voto, da qual consta isto:

"O processo de revisão do PDM tem muitos anos. Iniciou-se em 2007, com base numa cartografia homologada de 2005, na posse da Câmara de Tomar.
Passaram muitos anos e nesta fase a DGT-Direcção Geral do Território sugeriu a utilização da cartografia existente em 2015... ...No entanto essa cartografia não foi considerada ... ...e a sua introdução nesta fase poderá pôr em causa todo o trabalho desenvolvido até agora."

A situação é de tal forma indefinida que os próprios autarcas PSD, em princípio com acesso a todos os documentos, acabaram por inserir três perguntas na antes citada declaração de voto:

1 - Qual o ponto real da situação da revisão do PDM de Tomar?

2 - Qual o motivo de se estar a trabalhar com uma cartografia desactualizada?

3 - Qual a data prevista para a conclusão da revisão?

Que se saiba, a actual maioria ainda não respondeu, sendo mesmo pouco provável que alguma vez o venha a fazer de forma cabal. Seja como for, onze anos para rever o PDM de um pequeno concelho, até agora sem nada de substantivo, levam um leigo na matéria, como o autor destas linhas, a perguntar: Não seria melhor, mais rápido e mais económico, encomendar a quem saiba, mediante prévio concurso público, um novo PDM? Certo, mesmo certo, porque demonstrado pela experiência recente, é que com coisas assim, só gente desgarrada e/ou mal informada pode resolver investir em Tomar. E sem investimento suficiente... a desgraça continua e agrava-se.

A reunião camarária aqui noticiada no mediotejo.net, aconteceu em 21 de Junho de 2016. A declaração de voto dos eleitos PSD foi lida na reunião do executivo  de 02 de Abril de 2018. Quase dois anos mais tarde.
Confuso? Sem dúvida. Trata-se visivelmente de um dos cancros da autarquia, a justificar o conhecido provérbio "Aquilo que nasce torto, tarde ou nunca se endireita".

Exemplo 3

Os xilófagos do Convento de S. Francisco

Desde pelo menos Maio do ano passado que se ouve falar da requalificação do Convento de S. Francisco. Soube-se agora, um ano depois, que ainda não há projecto, que o gabinete contratado (o mesmo da desgraça da Levada) ainda só entregou o projecto de arquitectura e que há divergências sobre as áreas a recuperar, bem como sobre o custo final. A autarquia pretende obras para 800 mil euros, o citado gabinete aponta para 1,2 milhões de euros. 
Como se tudo isto não bastasse, só há um mês, durante uma sondagem parcial, os técnicos superiores da autarquia concluiram que toda a cobertura do ex-convento está em risco de ruir, devido a infestação por xilófagos, nome técnico para bicho da madeira.
E só agora, quase um ano depois, é que chegaram a semelhante conclusão? Abençoada terra, que consegue sobreviver, apesar de tais servidores públicos.

Conclusão
Os aproveitadores do sistema, aqueles a quem interessa que nada mude, ou que mude apenas qualquer coisinha, para tudo poder continuar na mesma, como escreveu Lampedusa, vão alegar decerto que são outros os responsáveis e que se trata de casos isolados, desgarrados do seu contexto. Mentem, como sempre, com quantos dentes têm na boca. Uns deliberadamente, outros por ignorância e seguidismo.
Na verdade, atrasos intoleráveis em qualquer outra autarquia, erros clamorosos, falta de planos adequados e impasses evidentes, são a marca da casa da realidade autárquica que temos. E que já vem de longe. Vicios antigos que se preservam, porque tal é do interesse de alguns.
Só falta saber até quando vai ser possível trilhar tal caminho, sem que os tomarenses digam de sua justiça. Ou deixe de haver recursos para sustentar tantos apoiantes.
É bem sabido que casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Por enquanto ainda vai havendo dinheiro para "o pão". Mas depois? Logo se vê?

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