quinta-feira, 19 de abril de 2018

Comer à custa, enquanto outros se esforçam para engrandecer a cidade e o concelho

A escandalosa comezaina durante a Festa dos Tabuleiros

Quem mal não faz, mal não pensa, diz o povo. O autor destas linhas já por cá anda há muito tempo. Conheceu e conversou com João Simões, Fernando de Oliveira, Mota Lima, Bento Baptista, Nini Ferreira, Tó Carvalho, Manuel Bonet, Luís Santos e muitos outros. Quando já depois da guerra em Angola e da emigração em França, viu que o modelo da Festa grande continuava o mesmo, apesar de manifestamente desactualizado, tendo em conta a péssima situação financeira da autarquia, estranhou mas calou-se. Ainda não acontecera o 25 de Abril e naqueles tempos criticar publicamente não era assim muito saudável.
Nunca imaginou todavia que, quatro décadas mais tarde, perante tantos defensores da tradição e uma câmara apoiada por tantos tomarenses, a Festa dos Tabuleiros pudesse dar azo a uma situação tão escandalosa. Tanto mais que, quando se fala em compra de votos, os senhores eleitos mostram-se injustiçados. A verdade porém é que tem acontecido e este humilde escriba de nada sabia, pois nem imaginava que tal fosse possível.
Durante a Festa dos Tabuleiros, que é afinal um cortejo de oferendas a favor dos mais pobres, como bem demonstra a distribuição da peza, carne, pão e vinho, os que vivem do sistema -os eleitos e os que se consideram donos da autarquia- aproveitam para encher a pança à custa dos contribuintes. As imagens seguintes, do jornalista António Freitas, não deixam dúvidas. Havia mais gente para comer e beber que no início deste mês, para escolher a mordoma.







 

Enquanto centenas de tomarenses, do mordomo e seus ajudantes aos que ornamentam as ruas e aos que angariaram donativos de porta em porta, no âmbito da Comissão do peditório, passando pelos presidentes de junta e, sobretudo, pelas portadoras de tabuleiros, que alombam durante perto de quatro horas com 12 quilos à cabeça; enquanto isso, gente endomingada e manifestamente sem vergonha, convidada não se sabe bem por quem, nem porquê -embora se veja para quê- enche a pança à custa do orçamento, em pleno salão nobre dos Paços do concelho. É um escândalo, que chega a ser ignóbil, tão evidente é a compra de votos. Numa câmara que tem uma dívida global superior a 22 milhões de euros. E que paga aos credores com mais de seis meses de atraso.
E tudo isto aconteceu em 2015, durante o mandato de uma maioria relativa PS, apoiada pela CDU. Por isso a actual maioria absoluta tem tantos adeptos. Por isso o obsoleto modelo organizativo da Festa  grande continua a ser tão defendido por alguns. É que já cheira a nova comezaina!
Bom proveito. Mas depois não se queixem. É bem sabido que as lautas refeições provocam quase sempre problemas gástricos e não fazem nada bem à saúde. É só esperar para ver.
No seu texto no Facebook, António Freitas diz que só faltou o caviar. Todavia, pelo que mostram as fotos, mal abriram as portas, foi logo um toca a aviar, antes que se fizesse tarde.
Quanto às portadoras de tabuleiros -afinal o principal pilar da festa- contentam-se com uma sandes, embrulhada em plástico, e uma garrafita de água. Ou meia caneca de tintol, escondido nalgumas enfusas.
Não está mal, não senhor. Está péssimo! E devia envergonhar tanto quem compra como quem se deixa comprar. Mas se até o senhor presidente nacional do partido, e líder da bancada parlamentar do PS, sustenta que pedir o reembolso de bilhetes de avião pagos pela Assembleia da República, nada tem de ilegal ou contra a ética, e que sempre assim se tem feito, estamos conversados. Por este caminho, não tardará uma década estamos todos atascados na dita e mal cheirosa até ao pescoço.
Infeliz país que tais filhos tem!

2 comentários:

  1. E depois queixem-se do crescimento do populismo, soltando patacoadas do género, "o povo está-se lixando", " o povo é ignorante", etc., como frequentemente ouço da boca de gente de esquerda com responsabilidades políticas (ou que se diz de esquerda) quando os resultados eleitorais não satisfazem. É nestas pequenas coisas que os populistas e oportunistas pescam para depois se barricarem no apoio aos grandes interesses económicos e financeiros.

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  2. Não vou falar sobre o banquete, porque esta é uma característica nossa, que está profundamente enraizada nos diversos sectores da nossa sociedade. Se possível à conta, julgam muitos, dos outros, mas depois na realidade quem paga somos nós.

    No que tem falado neste blogue, sobre a diminuição da população aproveito para lhe falar no Editorial que li numa revista de uma associação de técnicos de papel "Tecnicelpa" da autoria do seu Presidente, Eng.º Pedro Matos Silva.
    Passo a citar quando referia a necessidade da Associação se reinventar.
    " Lembra-me este tema de um recente seminário a que assisti e que me marcou. Tratava-se da apresentação de um jovem Presidente de Câmara, sobre a forma como pegou num Município do interior, com uma dívida avultada e a perder continuamente população pelo êxodo para o Litoral.
    Até aqui nada de particularmente diferente ao que acontece em tantos outros Concelhos, até pela primeira medida que se viu forçado a tomar: um plano de recuperação económica que colocou em causa todas as iniciativas de investimento que pudesse ter em mente.Perante o contexto parece que pouco havia a fazer.

    Não se conformou. Lançou uma 2ª medida estratégica para o seu mandato: apostar num programa de inovação tirando partido das mesmas infraestruturas rodoviárias que lhe levaram pessoas da terra, para atrair outras. Fez um levantamento dos recursos que tinha disponíveis e percebeu que tinha um stock imobiliário publico elevado, que necessitava de rentabilizar. Confirmou ainda que o Concelho era rico em paisagem, em recursos naturais, em história e cultura e sobretudo num aspecto absolutamente inovador: em Qualidade de Vida!
    Decidiu vender este conceito ao mundo e atrair gente de sectores altamente qualificados e com grande mobilidade profissional.
    Ofereceu espaço de trabalho atractivo reconvertendo os edifícios que tinha disponíveis. Conseguiu atrair investimento empresarial e tem hoje no mesmo Concelho deprimido um um Centro de Programação e Código de Software com mais de 800 profissionais residentes e a crescer, que conta inclusivamente com uma Academia de Código. Para tornar a descrição mais curta deixo-vos o nome do Concelho - Fundão- e convido-vos a procurarem mais informação."

    É uma perspectiva interessante e acima de tudo uma forma de olhar para um problema e tentar combate-lo.

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