Esta coisa de ser afrancesado, ou inglesado, ou americanizado, ou espanholizado, e por aí adiante, tem um pequeno inconconveniente e grandes vantagens. O pequeno inconveniente provém do facto de alguns conterrâneos detestarem quem possa ver mais longe do que eles. Inveja mal disfarçada, é o que é. Uma das grandes vantagens é a de permitir, graças a informações noutras línguas, fazer comparações com outras cidades, outras regiões, outros países, outros continentes. Ter Mundo, como é uso dizer-se. Um remédio para muita coisa, que infelizmente não se vende nas farmácias. Para se obter, só metendo os pés ao caminho.
Aqui vai uma dessas comparações, lembrando desde já que em França o nível de vida é bastante superior ao nosso. A título comparativo, o ordenado mínimo gaulês é de 1.498,47 euros mensais, contra apenas 580 euros em Portugal.
"Região dos Alpes Marítimos: Pode uma empresa de águas provocar o afundamento de um concelho?"
Todos nos lembramos ainda da recente emissão televisiva de Élise Lucet, Negócios chorudos, feita a partir de Nimes e que abordava o negócio da água. Nimes é a cidade recordista das perdas de rede. 30% da água paga pelos consumidores perde-se pelo caminho, nunca chegando às torneiras domésticas. ... ... ...
Quem pense que Nimes é uma excepção engana-se redondamente, pois na Riviera francesa começa a reinar a inquietação, particularemnte na cidade de Roquebrune-Cap-Martin. Este concelho assinou uma concessão por vinte anos com a empresa Véolia/Orféo, para a construção de uma ETAR, que entrou em serviço em 2012, mas começou a ser paga a partir de 2010, ao que tudo indica.
Desde então, os recibos têm levantado voo. O custo do primeiro metro cúbico de água é de 6,30€ (tarifa fixa), quando em Menton, uma cidade vizinha, se fica pelos 4,90€. Perante tais custos, alguns concelhos já municipalizaram novamente o serviço de águas, ou renegociaram os respectivos contratos. É o caso da cidade de Antibes, que conseguiu uma redução de 44%.
Marie Christine Franc de Ferrière, vereadora em Roquebrune, diz-se espantada com tais tarifas proibitivas da água, pelo que solicitou ao presidente da câmara, Patrick Cesari, e sobretudo ao seu vice-presidente Richard Ciocchetti, que consigam uma negociação com a empresa fornecedora de água e saneamento."
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Christian Gallo, Le Ficanas, 10 de Abril de 2018
Tradução e adaptação de António Rebelo, UPARISVIII
Exposta assim sucintamente a situação nalgumas cidades do sul da França, vamos às comparações, relembrando a diferença de nível de vida entre os dois países, que é de mais de 2 em França (1.498,47€), para 1 em Portugal (580€).
De acordo com o tarifário em vigor, que pode consultar aqui, em Tomar, um consumidor do primeiro escalão paga obrigatoriamente o primeiro metro cúbico de água 4,5894 € sem taxas, ou 11,7307€, incluindo as taxas de saneamento e resíduos sólidos, mas sem TRH. Como se vê, uma diferença abissal em relação a Roquebrune-Cap-Martin, (6,30€). O que de certa forma se entende, sendo porém inaceitável.. Naquela cidade francesa, diz o texto traduzido, as perdas de rede são da ordem dos 30%, enquanto em Tomar, segundo afirmou recentemente um vereador do PSD, em plena reunião do executivo camarário, metade da água comprada à EPAL desaparece na rede. 50%, portanto. E depois ainda temos a ETAR de Santa Cita a tratar água da chuva no Inverno, com a EPAL a cobrar pontualmente cada metro cúbico tratado.
Se em vez de consumidor doméstico do primeiro escalão, considerarmos um pequeno comerciante tomarense, por mais reduzido que seja o seu volume de negócios, terá de pagar obrigatoriamente aos SMAS, no final de cada mês, 10,3906€ pelo primeiro metro cúbico de água, sem taxas, ou 28,8895€ já com as taxas de saneamento e resíduos sólidos, mas sem TRH.
Será justo? Estará certo? Não será uma das causas da acentuada fuga da população?
Têm a palavra os tomarenses, que doravante já não vão poder alegar, respeitando a verdade, que não sabiam da evidente espoliação legal em curso no concelho de Tomar, via recibo da água. Quem beneficia de um regime de monopólio, tem sempre tendência a abusar.
Não é justo. Não está certo.
ResponderEliminarÉ preciso intenso debate interno, capacidade (e vontade política) de negociação, uma imprensa local contundente e mobilização dos munícipes. Suponho que este blogue é lido por muita boa gente no concelho. É confrangedora (diria até provocadora) a ausência de participação. Revela muita miúfa, mais do que no tempo do Salazar.