terça-feira, 10 de abril de 2018

Até os tunantes já perceberam

Registam os diversos dicionários da língua portuguesa que tunantes podem ser vadios, embusteiros, trampolineiros, tratantes, malandros, ou só membros de tunas. O título supra, Até os tunantes já perceberam, refere-se exclusivamente aos membros da Tuna Templária, do Instituto Politécnico de Tomar. Pensem os leitores o que pensarem.
De acordo com a notícia d'O Mirante online, que pode ser lida aqui, até os tunantes já perceberam o óbvio: que um evento cultural só pode vingar se não depender, inteiramente ou mesmo em grande parte, de subsídios directos ou indirectos, provenientes do orçamento do Estado. Por isso, cobram bilhetes que custam até 10 euros por pessoa, no espectáculo que vão levar a efeito no Cine Teatro Paraíso, no próximo dia 14.

Foto O Mirante

Só os políticos que vamos tendo, cuja experiência de vida, salvo raras excepções, também não é nada por aí além, continuam obstinadamente fechados a qualquer evolução. Em nome de uma pretensa tradição, que nem sabem bem o que seja, já conseguiram que uma festa das colheitas -a Festa dos Tabuleiros- se realize só a cada quatro anos, por não haver fundos para mais. Como se não houvesse colheitas todos os anos. (Ver adenda) 
Além disso, de forma ardilosa, têm submetido sempre os sucessivos mordomos a longuíssimas e angustiantes esperas de meses e mais meses. Primeiro para conseguirem verbas para funcionamento, depois para poderem apresentar as contas. Tudo porque insistem em confundir eventos culturais com actividades de compra de votos, e a câmara tem cada vez menos disponibilidade orçamental para financiar a festa. Os contribuintes são cada vez menos, posto que a população vem diminuindo de forma preocupante, e a festa fica cada vez mais cara.
Fontes bem informadas garantiram a Tomar a dianteira 3 que, tudo bem contado, a edição de 2015 custou mais de 400 mil euros aos cofres da autarquia. Quanto vai custar a de 2019? Quantos votos vai render em 2021? Valerá a pena continuar a hipotecar o futuro da cidade e do concelho, para conseguir mais alguns votos? Admitindo que o método dos subsídos a fundo perdido seja eficaz, uma vez que o PS conseguiu em Outubro passado mais 2.493 votos que em 2013, em termos de conjectura é legítimo dividir os 400 mil euros que custou a festa  (e que poderiam ter sido poupados, não fora a compra de votos) por esses ditos votos, o que nos dá 160 euros e 44 cêntimos cada voto. É muito dinheiro! Dirão alguns que nem todo esse dinheiro foi só para comprar votos. É verdade. Mas a despesa com a festa também não foi a única com esse objectivo implícito. Longe disso.
Para ultrapassar a actual fase de decadência acentuada, e começar a crescer de novo, Tomar e o concelho só podem contar com as suas gentes, com o Convento, a Festa Grande, o Nabão e a Albufeira. São excelentes trunfos. Infelizmente, no estado actual das coisas, as gentes estão acomodadas, para não dizer adormecidas, ou compradas pelo poder local. O dinheiro das entradas no Convento vai todo para Lisboa. A Festa custa um dinheirão e não produz valor acrescentado transaccionável, por cauda da oculta compra de votos, com o falso pretexto de respeitar a tradição. O Nabão está cada vez mais poluído e desprezado. Quanto à  Albufeira do Castelo do Bode, rende bom dinheiro, mas é à EDP e à EPAL. Apesar de os lisboetas pagarem a água que vai da barragem mais barata que os tomarenses. Políticas...
É assim, com um executivo que se recusa a ver as coisas como elas são, com uns SMAS que exploram os tomarenses, mas só facturam metade da água que compram à EPAL; com um município que gasta com pessoal 40% do seu orçamento anual, e só paga aos fornecedores um ano mais tarde, mas continua a financiar eventos sem retorno acrescentado; é assim que esperam que a cidade e o concelho possam progredir?
Se não mudarem radicalmente e quanto antes, não se vê como.

ADENDA, às 15H00 de Lisboa, em 10/04/2018

Quem não seja completamente ignorante em matéria de turismo moderno, sabe que um evento realizado apenas de 4 em quatro anos, não serve para nada, no âmbito do turismo organizado, cuja programação é plurianual. Apenas pode atrair aqueles visitantes ocasionais, os chamados excursionistas, sucessores dos que em tempos eram designados como "turistas de cabaz e garrafão". Ou de "chapéu preto e kodak". Os tais que sujavam muito, nos parques de merendas, mas pouco ou nada gastavam. É isso que Tomar ambiciona, com o actual modelo organizativo da festa?



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