Serviço Nacional de Saúde
Ainda a aventura do parto da Matilde
numa ambulância ao lado da A23
às sete da manhã de 1 de Janeiro 2024
Um leitor habitual teve a amabilidade de parabenizar Tomar a dianteira 3, por ter sido o único órgão que questionou a notícia algo insólita do nascimento do primeiro bébé do ano, em plena A23. Na verdade, não podia ser de outra maneira, pois habitualmente os órgãos de informação em geral limitam-se a reproduzir os comunicados das entidades oficiais ou privadas, sem acrescentar nem retirar o que seja, como foi o caso. O que é pena, ou pelo menos foi pena neste caso, como se passa a demonstrar, para os eleitores não continuarem a ser iludidos pela versão oficial dos acontecimentos. Nem tudo vai tão bem como dizem. Nem sempre a versão oficial é a verdade toda.
Residente em Minde, a parturiente mãe da Matilde tinha à partida três maternidades à escolha, todas em grandes hospitais de referência, que as outras já fecharam: Santarém a 42 quilómetros, Abrantes a 52 quilómetros e Leira também a 52 quilómetros. Provavelmente devido ao normativo legal em vigor, foi decidido levá-la para Abrantes.
Apenas dez quilómetros depois de sair de casa, a ambulância parou no nó da Zibreira da A23, e aí ocorreu o parto, com todas as condições de segurança, incluindo médico e enfermagem especializada. Que se passou afinal? A parturiente deu à luz um quarto de hora (10 kms) depois de sair de casa, porquê? Chamaram a ambulância tarde demais? A ambulância levou demasiado tempo a chegar? Naturalmente ninguém vai esclarecer, porque nestas coisas nunca há culpados. Todos sacodem a água do capote. Certo é que a parturiente tem experiência prática. A Matilde é o seu sexto filho. Ter-se-à equivocado?
Outro detalhe curioso e pouco ortodoxo. No nó da Zibreira, local do parto, estavam três ambulâncias, de Abrantes, Torres Novas e Minde. Porquê e para quê? Uma só não bastava? Houve alguma confusão, devido à urgência? É usual desperdiçar meios materiais? Falta de coordenação?
Após o parto, a Matilde e a mãe regressaram à A1 e foram conduzidas para Leiria, onde ficaram internadas. Devido ao incêndio entretanto ocorrido na Maternidade de Abrantes? Por falta de lugares de internamento em Abrantes e Santarém?
Após esta série de ocorrências algo estranhas, conviria que o hospital de Abrantes esclarecesse cabalmente o que aconteceu de facto e porquê, assim respeitando o direito constitucional à informação, em vez de se contentar com um comunicado muito bem feito, mas em estilo triunfalista, o que o transforma num caso de propaganda, em vez da informação honesta e completa a que temos direito.
O facto de haver apenas um cidadão a reclamar, não significa de modo algum que está tudo bem. Mostra pelo contrário que em termos de empenhamento cívico, no quadro dos deveres de cidadania responsável, há muita coisa que está mal. Fica aqui a denúncia. Ignorante sim, mas não tonto.
O mail do leitor habitual, mencionado no início, pergunta se, depois dos nascimentos em casa e com parteira, nos anos 50-60 do século passado, e dos partos em maternidade, com parteiras e médicos, se entrou agora na fase dos partos nas ambulâncias.
Obviamente não sei responder. Todavia, a julgar pelos contornos da aventura Matilde, alguns bastante estranhos como já vimos, pode-se constatar que seria mais fácil para as parturientes e mais barato para o Estado. Bastava uma só ambulância devidamente equipada e com meios humanos, evitando-se assim a ida para a maternidade, e desta para outro hospital de referência, com vagas no internamento.
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