quinta-feira, 11 de janeiro de 2024



Política autárquica

Agravam-se as consequências do problema cigano, no quadro da decadência da cidade e do concelho

TOMAR – Hugo Cristóvão nega que algumas famílias tenham sido forçadas a sair das suas habitações devido à instalação de ex-residentes do acampamento do Flecheiro nos bairros sociais (c/vídeo) | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

TOMAR – Hugo Cristóvão admite que «tem havido uma permanente tentativa de contrariar as regras impostas pelo município» no Centro de Acolhimento Temporário (c/vídeo) | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Tanto quanto consegui saber até agora, Portugal é o único país da União Europeia que tem dois partidos assumidamente social-democratas, um mais para a esquerda (PS), outro mais para o centro (PSD), mas com uma larga faixa comum de sobreposição de opções de governação. Donde resulta que, em relação a qualquer problema importante, ambos tendem a adoptar as mesmas soluções, conquanto qualquer deles procure demarcar-se logo que a situação começa a degradar-se.
Exactamente  o que está acontecendo agora em Tomar com os ciganos. Incomodado com o aparente sucesso socialista, ao conseguir realojar uma comunidade de quase trezentas pessoas, os social-democratas procuram macular essa imagem que julgam favorável, por não terem sido eles a resolver o problema.
Em poucos dias, duas intervenções de eleitos PSD sobre os ciganos, mostraram a vontade de assediar a maioria socialista, numa área que vai ser determinante em Outubro de 2025. Infelizmente, o facto de os social-democratas não mostrarem possuir uma política alternativa sobre a questão, faz com que esses curtos debates sejam vistos como mini-tragicomédias, que não impressionam ninguém. Os eleitores em geral estão convencidos de que se trata de teatro de fraca qualidade.
Na primeira dessas intervenções, (ver link) o vereador PSD questionou se a Câmara tinha previamente desalojado alguns moradores tradicionais, para em seu lugar realojar ciganos. Questão mal colocada, de resposta induzida, distorcendo gravemente a situação. Na verdade, ninguém imagina a Câmara a expulsar rendeiros seus, designadamente por falta de pagamento das rendas, ou não cumprimento das condições do aluguer, para depois realojar ciganos, embora legalmente o pudesse fazer. O que se passa contudo é algo ligado, porém diferente. A experiência colhida noutros concelhos, mostra que os rendeiros tradicionais tendem a ir-se embora logo que podem e têm novos vizinhos ciganos. Tomar não é excepção. E porque seria?
Confirmando implicitamente essa evidente dificuldade de convívio entre etnias diferentes, respondendo a outro eleito do PSD, o presidente Cristóvão reconheceu que "tem havido uma permanente tentativa de contrariar as regras impostas pelo município", no caso do Bairro calé, onde não há vizinhos próximos.
Trata-se de uma maneira erudita de apresentar a situação, que todos sabemos ser antiga e geral. Salvo muito raras excepções, as comunidades ciganas e cada um dos seus membros "estão-se cagando para a bófia e para os gajos", na sua própria linguagem bem expressiva. (No dialecto caló, usado pelos ciganos, gajo = indivíduo não cigano)
Essa desobediência permanente, ou liberdade excessiva, é inerente à condição romani e acontece tanto nas áreas de residência, como nos mercados em que participam, ou nos estabelecimentos de diversão nocturna.. A realidade é o que é e não adianta, antes atrasa, fingir que se ignora, ou usar de benevolência para com os prevaricadores. Só agrava os problemas, como mostra a experiência.
Numa visão mais ampla, vários casos em outros tantos locais, mostram igualmente que a expansão das comunidades ciganas está na origem da decadência de bairros inteiros, cuja população tradicional tende a migrar, em busca de melhores condições de sossego e de segurança. Uma vez que em Tomar foram realojados em três bairros diferentes, e nalgumas ruas da cidade antiga, as perspectivas são pouco brilhantes, numa altura em que a autarquia começa a denotar dificuldades orçamentais.
Paulatinamente, mostrando prudência,  Cristóvão suprimiu as usuais festividades do Natal, não renovou a operação vales de compras e deixou para mais tarde as obras da praceta do antigo colégio. É muita poupança em pouco tempo, pois ele sabe que os recursos são escassos, a dívida municipal é gigante, quase metade do orçamento é para pagar ao pessoal, e as transferências governamentais são cada vez mais magras, porque os contribuintes são cada vez menos e mais pobres. Quando acabarem ou rarearem os fundos europeus...
Resta portanto encontrar maneira de aumentar a população local e as suas despesas, única forma conhecida de ampliar o valor acrescentado transacionável, sem o qual não há desenvolvimento possível. Mas isso é questão para outra altura e outra crónica.

2 comentários:

  1. Aquilo que eu gostaria de saber, e os autarcas não respondem, e diga-se, também ninguém lhes pergunta, é se estas políticas de integração social resultam. Eu não tenho nenhum problema com os chineses, com os negros, mulatos, homossexuais, lésbicas, com os judeus (muito trabalhadores), com os muçulmanos, indús, etc..., etc... desde que trabalhem e que se integrem na sociedade. A câmara emprega muitos recursos que são escassos e convinha saber se essas políticas com que o PS enche a boca resultam. Quantos ciganos estão empregados e quantos ciganos estudam e quantos terminam o décimo segundo. O Presidente Cristóvão quando lhe perguntam dá respostas vagas como Roma e Pavia não se fizeram num dia, tudo leva o seu tempo, as coisas não correm tão depressa como nós gostaríamos, etc...., enfim só engonha nas respostas.

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    1. Somos numerosos com posições praticamente idênticas à sua, Helder. O problema começa com o facto dos eleitos da atual maioria não aceitarem críticas, se calhar por julgarem que têm sempre razão. Daí resulta que não podem reconhecer uma situação elementar: Tudo indica que a melhor solução para o acampamento do Flecheiro não era a que foi tomada e custou tão caro, a julgar pelas consequências conhecidas até agora, para as quais a Câmara parece não ter outra solução que não seja wait and see.

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