Imagem do cortejo da Festa dos tabuleiros, quando ainda era barata, e o Gualdim Pais ainda tinha relva para o pequeno almoço, em caso de necessidade. Outros tempos.
Festa dos tabuleiros
Um modelo de organização
que é um oneroso cadáver adiado
De supetão, o amigo e conterrâneo Manuel Júlio Schulz publicou, na sua página do Facebook, um curto e entusiástico texto, defendendo o usual modelo organizativo da Festa dos Tabuleiros, de que sempre foi um adepto incondicional. Em circunstâncias normais, nem sequer responderia. Tratando-se porém de um amigo por quem tenho estima e consideração, e tendo em conta também que por agora não é tempo para debater festas e outras folias, mas que ignoro se ainda por cá estarei quando vierem outros tempos e outros eleitos, sou forçado a responder.
Começo por me demarcar de uma frase que considero infeliz e perigosa: "A Festa da raça tomarense." Nasci no hospital velho, fui baptizado em S. João, andei na escola da Várzea grande e na Jácome Ratton. Até ajudei em várias festas, no acolhimento à imprensa e aos visitantes estrangeiros, na equipa liderada por Romualdo Mela. Ignoro contudo o que seja essa "raça tomarense", a qual rejeito categoricamente.
Quanto à substância do escrito em análise, considero que vem fora de época, a destempo. Numa altura em que os tomarenses aguardam as legislativas, e sobretudo a publicação das contas da festa do ano passado, que já foram adiadas não sei quantas vezes. De tal forma que, quando finalmente aparecerem, terão de ser primeiro inspecionadas, para aferir da autenticidade e da qualidade dos documentos, sobretudo os de despesa, e depois auditadas, caso se pretenda que venham a ter alguma credibilidade.
É que a Festa grande tomarense terá todas as virtudes apontadas pelo amigo Schulz, não duvido, mas a que preço e em que condições? Fala-se por aí numa maneira engenhosa de iludir o fisco, e sobretudo num custo exorbitante de 40 euros por habitante do concelho. Que fazem depois falta para comprar ambulâncias, ou contratar médicos de família, oferecendo-lhes suplementos, como já acontece noutras terras por esse país fora. Em Ourém, para não ir mais longe. Onde acreditam nos milagres de Fátima, mas à cautela vão seguindo o preceito católico "Ajuda-te e Deus te ajudará."
"É uma Festa para desfilar nas ruas, feita pelo povo e para o povo", lê-se no texto em causa. O problema é o custo, e sobretudo a contradição evidente: Quando se pergunta para que servem os tabuleiros, a resposta é pronta -"Para promover Tomar". Afinal em que ficamos? Do povo e para o povo? Ou para promover Tomar? É que na edição 2023 houve uns milhares de forasteiros que foram forçados a palmilhar quilómetros, indo-se depois embora ainda os tabuleiros desfilavam, levando de Tomar uma péssima recordação e a certeza de que faltou organização capaz, e faltaram estruturas de acolhimento, em quantidade e em qualidade.
É tratando mal quem nos visita, mas gastando à rica, que se pretende promover o turismo em Tomar?
Percebe-se o medo de Manuel Júlio, quando recusa liminarmente uma festa feita por profissionais, com acesso pago. Mexe com demasiados interesses menos confessáveis. E se calhar até com a aludida "raça tomarense", quem sabe?. "Honni soit qui mal y pense." ("Maldito seja quem mal nisto vê", divisa da Ordem inglesa da Jarreteira, cujo cinturão-insignia está no botaréu da direita da fachada poente da nave manuelina do Convento de Cristo.)
A próxima edição dos tabuleiros está prevista para 2027, já com outros eleitos nos Paços do concelho. No meu tosco entendimento, se antes não houver um amplo e participado debate vai custar três milhões de euros e será uma vergonha ainda maior que a de 2023. Só pode. Alea jacta est, mas o pessoal de agora já não aprende latim, e quem não sabe, fica assim.
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