sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Política  local

O escândalo das Avessadas

A ampla cobertura jornalística do Cidade de Tomar desta semana, no triste caso do escândalo das Avessadas, evidencia bem a gravidade do problema. Há dois textos muito bem articulados do principal interessado, Luis Alvellos, e um da chefe de redacção do semanário, que são demolidores. Mostram, de forma documentada e sem margem para dúvidas, que vários executivos camarários, sobretudo os dos últimos dez anos, têm sido pouco respeitadores do acordo subscrito em 1992, que permitiu a edificação do hospital, e usado de manhas várias para impedir a natural urbanização dos terrenos da Quinta da Avessadas.
Quem conheça um pouco as engrenagens camarárias, nota logo haver em cada caso uma situação curiosa: o eleito executivo toma decisões, que depois não quer ou não é capaz de explicar cabalmente. O que mostra que foi manipulado, tendo agido sob influência. De quem? De técnicos superiores com muita experiência, que em vez de zelarem pelos interesses da colectividade, pois é para isso que lhes pagam, vão fazendo o possível para conseguirem outras fontes de rendimento, não declarado ao fisco. E quando não conseguem, emperram, intimidam, manipulam, mentem se necessário.
Neste escândalo das Avessadas, que ainda vai dar muito que falar, o presidente da Câmara decidiu revogar o plano de pormenor, mas não consegue, ou não lhe convém, explicar porquê nem para quê. O que se compreende. Quem o instruiu nesse sentido omitiu que há direitos adquiridos, que o poder judicial não pode deixar de reconhecer, mas só daqui a cinco ou dez anos. Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. O mandato termina em Outubro 2025, e depois logo se vê.
Segue-se que este escândalo das Avessadas prejudica muita gente, a começar pelos proprietários dos terrenos, mas não só. Há também  a Santa Casa, por exemplo, enxotada para a Atalaia, e agora a própria Empresa Editora Cidade de Tomar, que ao ser forçada pelas circunstâncias a fazer jornalismo sério, mordeu na mão que a sustenta - a Câmara- e colocou assim a cabeça no cepo. Se em Outubro 2025 o PS ganha de novo, adeus Cidade de Tomar, que aquela gente além de não ter maneiras, é vingativa e não perdoa.
Resta por agora uma ténue esperança. Que a Assembleia Municipal consiga finalmente uma maioria para rejeitar a revogação do plano das Avessadas. É díficil, bem sei, porque há o problema de alguns presidentes de junta, e sobretudo do BE e da CDU, que sempre apoiam o executivo nos casos desesperados, como este. Mas está em causa a credibilidade da própria AM e o futuro de Tomar. Se não conseguirem rejeitar a proposta camarária de revogação do plano das Avessadas, sempre ficaremos a saber quem são os cangalheiros da cidade e do concelho, para além de qualquer dúvida. Em qualquer grande espectáculo, chega sempre a hora da verdade. Para os políticos locais, ela aí está. 
Saberão estar à altura?


Sem comentários:

Enviar um comentário