OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER
Órgão do Movimento Associativo de Direito
47 anos após Abril
"OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER"
O impensável aconteceu mesmo em Tomar, em Dezembro 2021. Uma comunidade educativa, a da Escola Santa Iria, que provavelmente nem conhecia o slogan maoista do verão quente de 1975, que serve de título a esta crónica, ousou lutar, ousou vencer, e venceu. Contra alguns e contra a indiferença geral. Por isso anda agora tudo tão calado, a remoer. Alguns tomando remédio contra a azia.
Porque a inesperada vitória política dos jovens e dos adultos da Escola Santa Iria torna necessárias algumas perguntas, para melhor esclarecimento geral. Tão mais necessário quando se sabe que a srª presidente da Câmara já veio depois proclamar que o diálogo se faz à volta de uma mesa, embora o encontro com ela dos mais tarde vencedores não tenha dado qualquer resultado. Coisas da atabalhoada política local.
Vamos então às perguntas, forçosamente incomodativas: Quais as formações políticas locais que apoiaram, oralmente ou por escrito, os manifestantes? Que órgãos informativos locais e regionais noticiaram, de forma capaz, o desenrolar da luta?
Para a primeira pergunta a resposta é curta e clara: Nenhuma. Mesmo depois da vitória, ninguém teve sequer a coragem de felicitar publicamente os vencedores. Impõe-se portanto outra interrogação: Formações políticas assim, servem exactamente para quê? Só para ornamentar, como as obras municipais?
Quanto à outra pergunta, houve dois órgãos que noticiaram de forma completa o protesto escolar: o Tomar na rede e o Tomar a dianteira3. A Rádio Hertz também publicou algo, mas soube a pouco, por razões conhecidas. Ninguém gosta de "levar tau-tau da senhora", porque há ordenados para pagar no fim do mês, e ela já demonstrou que é vingativa.
Voltando à triste actuação das oposições, o PSD poderá alegar que se limita a seguir a política moderada do seu líder Rui Rio, que pretende um acordo de bloco central. É um argumento que não colhe a nível local. Rui Rio pretende um eventual bloco central, porque almeja reformar o sistema eleitoral, os impostos e a justiça, tudo coisas só possíveis com o voto favorável de dois terços dos deputados. Em Tomar, a oposição PSD pretende reformar o quê, que suponha maioria PS/PSD? Que planos têm? Pôr o Nabão a correr para o lado do Agroal, para evitar em Tomar a poluição vinda da Ribeira de Seiça?
Quanto às restantes formações, aqui vai mais uma conclusão para arranjar ainda mais inimigos. Se quase meio século após Abril, os partidos contestatários já não contestam, nem apoiam quem ousa lutar e vencer, então servem para quê? Não será melhor abandonarem a política local, e dedicarem-se à agricultura biológica, que necessita de muito esterco?
A frase é dura, mas tem de ser dita. Perante o que se vai vendo e face ao crescente despovoamento da cidade e do concelho, uma conclusão parece impor-se: -O pior inimigo de Tomar são os seus próprios habitantes. Por ignorância? Certamente. Mas isso só agrava a situação.
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