sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

 

Imagem Rádio Hertz, com os agradecimentos de TAD3

Política local - Assembleia municipal

Pobre terra com gente assim

Bem gostaria de apresentar uma iguaria apetitosa e pouco ácida para celebrar esta véspera de Natal. Todavia, debalde procurei coisa semelhante. Sou por conseguinte forçado a fazer o mesmo que durante boa parte da minha vida: comer o que há, o que se pode comprar, em vez do que se gostaria de saborear.
Mesmo os que ainda vão tendo paciência para insistir na leitura de Tomar a dianteira 3 se lastimam. É demasiado agreste, intransigente, e usa por vezes expressões deveras desagradáveis, como no caso de "Pobre terra, pobre gente". É uma posição que merece o meu respeito, como qualquer outra. Mas façam o favor de pensar um bocadinho mais, enquanto vão comendo uma rabanada. Que posso eu dizer de uma população provinciana de 40 mil almas, em que Tomar a dianteira 3 tem um leitorado regular de cerca de 300 pessoas, mas a notícia da morte por atropelamento do Chirila, uma gato de rua, conseguiu mais de 14 mil visualizações no Tomar na rede? Que são gente de grande envergadura intelectual e cívica? Que se interessam por aquilo que se escreve na área política da sua terra?
Consequência de tal estado de coisas, em que cidadãos comuns insistem em considerar-se implicitamente como muito inteligentes, quando afinal nem coisa parecida, entrou-se pouco a pouco no reino do faz de conta. Há cada vez mais eleitos manifestamente sem gabarito intelectual para os lugares a que se candidataram, mas faz de conta que não é assim. O pior é o resto.
O exemplo mais recente de tal degradação dos costumes é a insólita intervenção do senhor presidente da Assembleia Municipal -todo engravatado e tudo- interrompendo um deputado municipal que acabara de usar a expressão idiomática corrente "por que carga de água... ...?" Além de despropositada nos termos regimentais, foi uma bordoada e das grossas, ao revelar que quem preside ao parlamento municipal nabantino nem sequer domina capazmente a língua oficial do país.
Mas a trágicomédia não ficou por ai, desgraçadamente. Em vez de reagir como se impunha, o visado limitou-se a responder algo do tipo "Pronto, não foi uma carga de água, foram só umas gotas!" O que denota que, produto do mesmo sistema educativo, também o interpelado ignorava se a expressão vocabular usada é aceitável ou não.
Sorte a do senhor presidente da AM. Se tem calhado com alguém de outra envergadura intelectual, decerto nem teria tido coragem para intervir. Ou teria ouvido logo a seguir uma resposta menos agradável, do tipo "Senhor presidente, a expressão por que carga de água é absolutamente comum,  e mesmo que não fosse, estamos aqui  num parlamento municipal de um país da União Europeia, em que a liberdade de expressão é um dos pilares fundamentais. O sr. tem alguma coisa contra a liberdade de expressão?"
Na ausência de eleitos com  recursos vocabulares e coragem para assim falar, (os tais brandos costumes...) resta vaticinar que o jovem e promissor conterrâneo Hugo Costa se arrisca a passar à história local como "o Torquemada da Assembleia". Risco mesmo assim muito limitado, porquanto poucos tomarense sabem quem foi Torquemada. Você, por exemplo, já sabia? Ou foi agora ver à net?
Bom Natal para todos, apesar de tudo!

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